Dólar desaba após Lula mudar discurso sobre política fiscal

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Flavio Aguilar
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04.07.2024 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Visita às linhas de luz do Sirius no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Campinas - SP.
Presidente Lula no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em 04/07/24, Campinas – SP. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Depois de vários dias criticando o presidente do Banco Central e o setor financeiro, o presidente Lula mudou seu discurso. Isso ocorreu nesta quarta-feira (3), em duas falas diferentes. Nelas, o presidente afirmou publicamente que o governo tem compromisso com o equilíbrio das contas fiscais. E isso teve um impacto imediato sobre o dólar.

Em seguida às declarações de Lula, na quarta-feira, o dólar teve uma queda brusca — o que voltou a ocorrer nesta quinta-feira. Atualmente, está cotado a menos de R$ 5,50.

Na terça-feira (2), no auge da desconfiança com o presidente, o dólar ultrapassou R$ 5,70. Então, essa foi a maior queda percentual da moeda americana, em um único dia, no atual governo.

“Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso”

O primeiro dos eventos em que Lula se pronunciou foi uma reunião que não fazia parte da agenda oficial. No início da manhã de quarta-feira, ele se encontrou com o Ministro da Fazenda Fernando Haddad no Palácio da Alvorada.Em seguida, no Palácio do Planalto, o presidente participou do anúncio do Plano Safra da Agricultura Familiar. Então, Lula aproveitou esse evento para defender o compromisso do seu governo em cuidar dos gastos públicos. O presidente afirmou que:“A gente vai ter uma política econômica que vai fazer esse país crescer. A gente vai continuar fazendo transferência de renda e a gente, ao mesmo tempo, vai continuar com a responsabilidade que nós sempre tivemos. Aqui nesse governo, a gente aplica o dinheiro que é necessário. A gente gasta com educação, com saúde aquele que é necessário, mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003 e a gente manterá ele à risca.”

Haddad defende autonomia do Banco Central

Após as falas de Lula, os jornalistas questionaram Haddad sobre a recente alta no dólar.O ministro respondeu que o Banco Central (BC) é autônomo e que não é papel do governo interferir nas decisões da instituição. Segundo ele:“A diretoria lá tem autonomia para atuar quando entender conveniente. Não existe outra orientação. Tem autonomia para atuar. Eu falei, minha análise é que o câmbio vai acomodar. Essa é a minha análise.”Após as falas de Lula e Haddad, o dólar chegou a cair, de forma imediata, 2,22%, chegando à cotação de R$ 5,54. No entanto, no final do dia, a queda ficou em 1,71%, a R$ 5,57.Isso ocorreu após o dólar comercial chegar a ser vendido a R$ 5,70 na terça-feira. Portanto, a moeda americana havia fechado no maior valor em dois anos e meio.Para o sócio da One Investimentos, João Ferreira, esse alto valor da terça-feira deveu-se justamente aos ruídos políticos. No entanto, o governo tentou “em alguma medida contornar a situação”, afirmou Ferreira. Por fim, ele explicou que:“O discurso do presidente Lula, de maior compromisso com a área fiscal, foi favorável tanto para o fechamento da curva de juros quanto para a queda expressiva do dólar.”

Disputa com Campos Neto vinha dificultando queda do dólar

A alta do dólar vinha na esteira das reiteradas críticas do presidente Lula ao Banco Central. No dia 19 de junho, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) havia decidido manter a taxa Selic em 10,50% ao ano. Portanto, isso interrompeu a sequência de cortes da Selic, e a alegação foi justamente a situação fiscal do país.Desde então, Lula passou a criticar a política monetária e o mercado. Aliás, em 8 dos 11 dias úteis subsequentes, o presidente criticou o BC. Além disso, dirigiu críticas principalmente ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto.Esta semana, na segunda-feira (1), Lula reclamou do fato de ainda estar, na metade do seu mandato, com o mesmo presidente do BC de Bolsonaro.Além disso, o presidente criticou o nível de juros mantido pelo BC, o mercado financeiro e a proposta de corte de gastos para ajuste fiscal. Portanto, isso acabou aumentando o temor de desequilíbrio fiscal.

Lula reafirma compromisso com a responsabilidade fiscal

No fim da tarde da quarta-feira (3), o presidente Lula foi questionado se estava satisfeito com a queda do dólar no pregão. No entanto, ele não quis falar diretamente sobre a moeda. Em vez disso, preferiu reforçar o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal:“Estejam certos que esse país jamais será irresponsável do ponto de vista fiscal. O país tem que estar calmo porque está tudo acontecendo favoravelmente ao país. Se você tem um desarranjo qualquer, você só tem que consertar. É isso.”

Alta do dólar também tem fator externo

Segundo os especialistas, as declarações de Lula vêm tendo um reflexo no mercado financeiro. Portanto, a escalada do dólar nesse intervalo de dias foi uma evidência disso. Entre os dias 19 de junho e 2 de julho, o dólar passou de R$5,42 para R$ 5,70.No entanto, a instabilidade do dólar não se explica somente pelas falas do presidente. Também contam bastante os elementos do cenário externo.O principal aspecto nesse sentido é o adiamento de um corte de juros nos Estados Unidos, algo que já se esperava há algum tempo, mas que ainda não se confirmou.Aliás, a queda desta quarta-feira também pode ter sido favorecida pela baixa da moeda americana no exterior.Afinal, ela ocorreu após a divulgação de dados abaixo do esperado pela economia estadunidense. A perspectiva do mercado é de que isso possa pressionar os EUA a baixar os juros.A ata do último encontro de política monetária do Federal Reserve (Fed) chamou a atenção para a desaceleração na economia do país. Por exemplo, o número de postos de trabalhos criados em junho foi de 150 mil. Portanto, o dado ficou abaixo dos 160 mil que eram esperados pelo mercado. Por fim, também é preciso levar em consideração a atual incerteza quanto à eleição presidencial americana.

Sem previsão de nova interferência do BC

Na manhã de quarta-feira, o BC vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional em leilão. A venda teve como finalidade a rolagem do vencimento de 2 de setembro de 2024. Além disso, nenhuma operação extra foi anunciada até o fim da semana, apesar dos rumores que circularam no mercado financeiro na véspera. Afinal, a instituição teria consultado as tesourarias de bancos a respeito do apetite por dólares.

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