Selic vai para 10,75% em decisão unânime do Copom – Qual impacto da decisão?

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Segundo o comunicado do Copom, a decisão levou em conta alguns dados importantes do cenário econômico interno, com destaque para a inflação.
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Flavio Aguilar
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Marta Stephens
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Na quarta-feira (18), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou a taxa Selic em 0.25 ponto percentual. Portanto, a taxa básica de juros da economia brasileira está agora em 10,75%.

A Selic não tinha um aumento desde 2022. Ou seja, essa é a primeira elevação da taxa no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aliás, a decisão foi unânime, com os votos de todos os nove diretores a favor, incluindo os quatro indicados por Lula.

Alta da inflação é justificativa do Copom

Segundo o comunicado do Copom, a decisão levou em conta alguns dados importantes do cenário econômico interno, com destaque para a inflação:

“Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.”

Além disso, o comitê explicou que esse aumento deve dar início a um “ciclo”. Segundo o colegiado, o ritmo dos próximos reajustes e o tamanho total do ciclo terão como base o compromisso de manter a meta da inflação. Portanto, eles dependerão:

“…da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”

Por fim, após a decisão do Copom, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não estava surpreso com o aumento.

As projeções para o ano que vem

Nos últimos quatro anos, a Selic teve um aumento considerável. Afinal, vale lembrar que, em 2020, ela se encontrava no patamar de 2%

No entanto, a partir de 2021, o BC deu início a uma subida da taxa, que chegou ao patamar dos 14% em 2022. Somente em 2023 ela começou a descer.

Agora, a expectativa do mercado é de que a Selic siga subindo, até chegar, em janeiro, aos 11,50%. Mas os analistas também estimam que ela começará a recuar em julho do ano que vem, chegando ao final de 2025 em 10,50%.

Lula indicou Galípolo e fez críticas a Campos Neto

O aumento da taxa Selic vem logo após a indicação do economista Gabriel Galípolo para presidente do BC. Atualmente, ele é diretor de Política Monetária da autarquia. Galípolo assumirá a presidência apenas em 2025. Mas antes precisa passar por uma sabatina do Senado para ser aprovado.

A indicação de Galípolo por Lula veio depois de diversos elogios do presidente ao economista. Lula tem expressado abertamente sua contrariedade com o patamar elevado dos juros no Brasil, em contraste com o resto do mundo. Segundo ele, a taxa alta acaba freando o crescimento da economia.

Aliás, esse é um ponto de constante atrito entre Lula e o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicado por Bolsonaro. O presidente criticou várias vezes Campos Neto, afirmando que ele não tem autonomia real, uma vez que seguiria a política de juros do governo que o indicou.

Além disso, Lula diz que o atual presidente do BC trabalha para atrapalhar e não para ajudar o país.

Cabe lembrar que, após a aprovação da autonomia da instituição, os diretores e presidente têm mandato fixo. Portanto, eles não podem ser demitidos pelo presidente da República.

As críticas de Lula se dão justamente por conta da recusa do BC em reduzir a taxa de juros. Mas, em agosto deste ano, ele afirmou que não via problema em Galípoli falar em aumento dos juros. Afinal, segundo o presidente, o seu indicado para o BC é uma pessoa “competentíssima” e um “brasileiro que gosta do Brasil”.

Alta vem apesar de pequena deflação

O aumento dos juros pelo BC veio mesmo com uma queda na inflação. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), a inflação caiu -0,02% em agosto.

No entanto, o BC aumentou a taxa Selic para manter as metas fixadas para os próximos anos. Portanto, o aumento não tem por base a inflação passada, e sim a expectativa futura.

Aliás, a meta central de inflação para este ano é de 3%. Ela será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%. Além disso, essa é a mesma meta para 2025.

Mas as decisões sobre as taxas de juros costumam demorar entre 6 e 18 meses para terem impacto na economia. Portanto, o ajuste de ontem já tem como alvo o acumulado de 12 meses até março de 2026.

Efeitos para consumidores no curto prazo

Apesar dos efeitos do aumento dos juros na economia serem de longo prazo, eles já podem ser sentidos a curto prazo pelos consumidores. Por exemplo, os impactos podem aparecer em pequenas operações de crédito, como de cartão de crédito e cheque especial.

Após o anúncio da nova taxa de juros, os bancos já anunciam, um dia depois, a atualização das suas tabelas. Portanto, no caso do cartão e do cheque especial, as mudanças ocorrem nos próximos 30 dias. Aliás, normalmente o impacto do aumento dos juros acontecem de forma mais rápida do que o da redução.

No entanto, no caso dos financiamentos de grande porte, o efeito ocorre num período maior. Afinal, essas operações, como a compra de bens duráveis ou financiamento de imóveis, são de horizontes longos.

Por fim, também é importante lembrar que o aumento isolado da taxa pode ser menos sentido no cotidiano da população. No entanto, caso ocorra uma elevação contínua, os efeitos tendem a ser mais relevantes.

Selic mais alta deve gerar encarecimento do crédito

O aumento dos juros vai fazer com que o consumidor sinta o aperto no bolso, especialmente com o encarecimento do crédito.

Afinal, com a Selic mais alta, os bancos também elevam seus juros para empréstimo. Além disso, as prestações no crediário devem aumentar.

Com o aumento dos juros no crédito, os especialistas também acreditam que pode haver um aumento da inadimplência. Afinal, o aumento da taxa ocorre em um momento em que os juros já estavam altos, e o nível de endividamento no país ainda é elevado.

Aliás, segundo o BC, a taxa de endividamento total das famílias em 2024 ficou em 47,6%. Já a inadimplência total do sistema financeiro em julho deste ano estava em 3,2%. Isso demonstra uma estabilidade em relação ao mês anterior, mas uma queda de 0.3 ponto percentual na comparação com julho de 2023.

Portanto, por um lado, o aumento dos juros refreia o mercado de crédito, fazendo com que as famílias busquem menos financiamentos. Por outro lado, aquelas que já estão endividadas podem ter dificuldade para honrar seus compromissos.

Impactos no mercado financeiro

Já no mercado financeiro, o aumento da Selic representa um aumento da rentabilidade da renda fixa. Por exemplo, os títulos do tesouro, que fazem parte da dívida pública.

Além disso, também gera uma atratividade maior para os CDBs, LCIs e outras aplicações como essas. Afinal, a Selic serve de referência para os títulos privados.

Por fim, na renda variável, o aumento dos juros faz aumentar o custo de dívida das empresas. Isso pode influenciar a forma como os investidores calculam um valor justo para as ações das empresas listadas na bolsa. Portanto, pode haver uma diminuição do interesse pela bolsa de valores.

Os efeitos para a economia do país

Quanto à economia do Brasil, a alta da Selic deve ter efeitos mais evidentes em setores específicos. Por exemplo, no setor de comércio, o impacto da variação pode ter reflexo no mercado de trabalho e na renda das famílias.

O crescimento recente da atividade econômica do país se explica em parte pelo avanço dos gastos no governo Lula. Porém, esses gastos têm um limite, e o governo não pode sustentar indefinidamente o PIB.

Portanto, quando os gastos públicos diminuírem, pode haver até mesmo um quadro de recessão no país, segundo os especialistas. Por isso, um crescimento sustentável depende de um nível considerável de investimento.

Além disso, há o efeito cascata da alta dos juros. Afinal, a dificuldade de conseguir crédito e o aumento do endividamento leva à diminuição do consumo, o que tem reflexos na produção das empresas.

Com as empresas produzindo menos, há uma diminuição dos turnos de trabalho, a consequente diminuição da renda do trabalhador e um possível aumento do desemprego.

Cenário global também é importante

Além do cenário doméstico, outro fator importante é o quadro global. Afinal, a desaceleração da economia brasileira depende não apenas do quadro fiscal do país, mas também do andamento da situação mundial.

No mesmo dia em que o Brasil anunciou o aumento da Selic, o Federal Reserve (FED) anunciou um corte de 0.50 ponto percentual na taxa de juros dos EUA. Aliás, esse corte foi maior do que o esperado, uma vez que as projeções eram de uma baixa de 0.25.

Essa redução na taxa americana deve influenciar a movimentação de dinheiro no mundo. Aliás, pode beneficiar o Brasil, ao menos no mercado de ações.

Com uma taxa de juros menor nos EUA e maior no Brasil, pode haver um influxo mais expressivo de capital no país, melhorando o mercado de ações e a cotação do dólar.

Além disso, parte da inflação brasileira é dolarizada, pois diversos insumos e produtos consumidos aqui são importados. Portanto, com um dólar mais baixo, a pressão nos preços desses itens diminui, ajudando a reduzir a inflação. Isso poderia até mesmo fazer com que o BC suba menos a taxa de juros no futuro, ou talvez levá-lo a cortá-la.

Brasil tem a segunda maior taxa real de juros

Com o aumento desta quarta-feira, o Brasil fechou o dia como o país com a segunda maior taxa real de juros do mundo.

A taxa real de juros é aquela que desconta a inflação projetada para os próximos 12 meses. No Brasil, ela está em 7,33%. Em primeiro lugar no ranking, está a Rússia, com 9,05%. Em seguida ao Brasil, no terceiro lugar, está a Turquia, com 5,47%.

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