Clientes Nubank são afetados pelo rombo na Americanas: entenda o porquê

Augusto Medeiros
| 12 min read
Fonte: NuBank

O rombo de R$ 20 bilhões, anunciado pela Americanas no dia 11 de janeiro, desencadeou prejuízos para outras empresas, como é o caso do Nubank. A notícia deu um susto em todo o mercado, porque os investidores da rede de lojas de departamentos não faziam ideia da situação delicada nas finanças na companhia.

Você vai entender nessa matéria:

  • Por que os clientes do Nubank foram afetados pelo rombo nas Lojas Americanas?
  • Qual foi o prejuízo sofrido pelos clientes do Nubank no caso da Americanas?
  • Todos os clientes do Nubank foram afetados pela crise da Americanas?
  • O Nubank respondeu sobre a situação do caso Americanas?
  • Quais os melhores investimentos de reserva de emergência?

Por que os clientes do Nubank foram afetados pelo rombo nas Lojas Americanas?

O que tem a ver cliente do Nubank com as finanças da Americanas? O que acontece é que o banco digital oferece aos seus clientes várias opções de investimento, entre elas o ‘Nu Reserva Imediata’, que é o fundo de renda fixa do banco. E esse fundo tinha investimentos em títulos de dívidas da Americanas (créditos privados), que são os debêntures. 

Isso quer dizer que, toda instituição financeira, assim como qualquer pessoa que investe, faz aplicações diversas para fazer o dinheiro render. 

Por exemplo, fala-se muito que a poupança não é um bom investimento, já que o rendimento é muito baixo. Agora, imagine deixar dinheiro parado. Com o tempo, haverá uma perda para a inflação.

Então, o Nubank pegou o dinheiro dos clientes do ‘Nu Reserva Imediata’ e aplicou nos títulos da Americanas. 

Na página publicitária do Nubank, a instituição diz que o rendimento depende do desempenho das empresas nas quais foram feitos investimentos com o dinheiro dos clientes do ‘Nu Reserva Imediata’, como você pode ver no print, retirado do site do Nubank:

O banco apresenta o fundo fixo do ‘Nu Reserva Imediata’ como de baixo risco, como pode ser visto nesse outro print do site Nubank:

Para o colunista do Estadão, Fabrizio Gueratto, o Nubank errou ao investir o dinheiro do fundo fixo ‘Nu Reserva Imediata’ na Americanas porque ele considera o crédito privado como o de maior risco entre os ativos de renda fixa. Ele apresentou dois argumentos para alertar quem investe pensando em uma reserva de emergência:

Jamais se deve investir em um fundo de investimento em que não se saiba exatamente quais ativos há dentro dele. A segunda é que, dentre os ativos de renda fixa que possuem maior risco, crédito privado, ou seja, emprestar dinheiro para empresas, talvez seja o primeiro da fila. Na minha opinião, este tipo de ativo jamais deve ser usado para a reserva de emergência, disse Fabrizio. 

O especialista em investimentos destaca um ponto que considera, ainda mais grave:

Como todos sabem, alguns setores têm muito mais riscos do que outros. Companhias aéreas e varejistas, possuem muito mais chances de quebrarem do que empresas de commodities, por exemplo. O que deixa o investimento em reserva de emergência com ainda mais risco. Como o próprio nome diz, reserva de emergência é para algo imediato e emergencial. Este investimento não foi feito para entregar grandes rentabilidades, acrescentou Gueratto.

A coluna do Estadão, também, publicou a resposta enviada pelo Nubank:

“O Nu Reserva Imediata é um fundo de renda fixa com grau de investimento, possui rentabilidade nominal positiva de 2,72% nos últimos 90 dias, e segue trajetória de rentabilidade de longo prazo, apoiada pela diversificação de investimentos. Assim como dezenas de fundos no mercado com o mesmo perfil, o Nu Reserva Imediata também investe em ativos de crédito privado, dentro de um limite regulatório. A pequena parcela de investimento em debêntures das Lojas Americanas, historicamente avaliada como Triple A por diferentes casas de rating, já foi revista pela Nu Asset Management”, diz o Nubank, em nota.

Outros especialistas, também, posicionaram-se contra o Nubank ter investido o dinheiro dos clientes na Americanas, como Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, em entrevista ao Estadão:

“Um fundo para reserva de emergência, nunca, jamais, em hipótese nenhuma, deve ter crédito privado na carteira. Se o fundo do Nubank (Reserva Imediata) foi vendido como opção para reserva de emergência, chega ao absurdo. Me parece um tanto imprudente”, disse o especialista 

Para Ricardo Brasil, o que aconteceu com a Americanas não é uma novidade no mercado. Ele diz que é de conhecimento do mercado financeiro o risco desse tipo de investimento:

“O risco do crédito privado é de se descobrir uma inconsistência nas demonstrações financeiras e da empresa não pagar o título. Já tiveram casos como o da Enron, que chegou a ser a maior empresa em valor de mercado nos EUA, Americanas, IRB Brasil (IRBR3) etc. Não há segurança para o investidor”, acrescentou, Gava.

Qual foi o prejuízo sofrido pelos clientes do Nubank no caso da Americanas?

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), recebeu dados relativos à carteira do “Nu Reserva Imediata”. Eles indicam que o fundo tinha cerca de 1% de seu patrimônio investido em duas debêntures da Americanas. Isso significa que os cotistas tiveram perda de rendimentos. 

Se antes os ganhos giravam em torno de 109% do CDI (certificado de depósito interbancário), depois do rombo na Americanas, passou para um retorno de 37% do CDI, nos últimos 30 dias. 

O CDI é a principal referência de rentabilidade para investimentos em renda fixa.

A CVM é o órgão regulador do mercado de valores mobiliários, isto é, ela cria regras para esse mercado e o fiscaliza. As atribuições legais da CVM estão definidas no artigo 8º da Lei nº 6.385/76

Valores mobiliários são todos aqueles itens do artigo 2º, da Lei nº 6.385/76, tais como ações, derivativos e cotas de fundos de investimento.

Entre os serviços e atividades típicos desse mercado, podemos citar as operações nas bolsas de valores, análise, consultoria, gestão e custódia de valores mobiliários.

Moedas digitais ou criptomoedas não são valores mobiliários e, portanto, não estão sujeitas à fiscalização desta Autarquia, tampouco as análises e os relatórios que tenham por objeto tais ativos e as empresas que fazem a intermediação entre compradores e vendedores. Exceção pode, eventualmente, ocorrer nos casos de ICO – Initial Coin Offering e de derivativos envolvendo as criptomoedas.

Todos os clientes do Nubank foram afetados pela crise da Americanas?

Nas redes sociais, a repercussão entre os clientes do Nubank afetados pelo rombo, veio em forma de memes, lamentações e reclamações. Apenas os clientes que investiram no ‘Nu Reserva Imediata’ foram prejudicados com a crise da Americanas. O fundo de reserva do Nubank tem mais de 1,2 milhão de cotistas. É o maior fundo de investimentos de renda fixa voltado para pessoas físicas no Brasil.

O post da @euwxluu viralizou, ao expor o fato de se tratar de um banco sem endereço:

 

O @jam_webdesign ironizou as perdas:

Alguns clientes compartilharam suas perdas, como a @JulieAlbanoXO:

Neste outro, a cliente @KassiaPort demonstra surpresa ao ver as perdas do dinheiro reservado:

Maioria dos clientes não sofreu prejuízo

Em setembro do ano passado, o Nubank alcançou a marca de 70 milhões de clientes e, para a maioria deles, o caso Americanas não passou de um susto. Foi o caso da pesquisadora, Aline Oliveira, que possui uma conta-corrente no Nubank, mas não faz investimentos no banco, que só atua em plataformas digitais, sem agências físicas.  

“Inicialmente, quando você vê o nome Nubank associado àquilo, com certeza, isso gera uma certa insegurança, mas depois de ler as notícias e entender que o problema tinha a ver com as pessoas que tinham investimento, dentro da plataforma NuInvest, através do investimento que chamava Nu Reserva Imediata, aí ficou claro pra mim que não é a minha situação.”

Aline disse ao Cryptonews que o caso não afetou a relação dela com o banco. Ela acredita que os serviços oferecidos pelo Nubank têm muitas vantagens em relação aos bancos tradicionais:

“Muitas pessoas, hoje em dia, estão aprendendo a administrar melhor o seu dinheiro. No Brasil, a gente não tem uma educação financeira. No entanto, com o crescimento do número de canais, que educam as pessoas, estão dando dicas, eu acho que muitos estão migrando pra outros bancos, como bancos digitais, como o Nubank, porque elas não pagam tarifa, têm um rendimento diário, liquidez, enquanto os tradicionais, eles cobram tarifa, exceto para casos especiais, como estudantes”, acrescentou a cliente.

O Nubank respondeu sobre a situação do caso Americanas?

Em nota, a gestora de investimentos do Nubank, a Nu Asset Management, afirmou que o ‘Nu Reserva Imediata’ tem um caráter de investimento para rentabilidade de longo prazo:

“A Nu Asset Management, gestora de fundos de investimentos do Nubank, esclarece que o fundo de renda fixa “Nu Reserva Imediata” possui estratégia desenhada para ser uma opção de baixo risco e alta liquidez, e busca performance acima do CDI ao longo do tempo. O Nu Reserva Imediata é um fundo de renda fixa com grau de investimento, possui rentabilidade nominal positiva de 2,72% nos últimos 90 dias, e segue trajetória de rentabilidade de longo prazo, apoiada pela diversificação de investimentos.

Quais os melhores investimentos de reserva de emergência?

O caso da Americanas, refletido no Nubank, fez viralizar, não apenas memes, mas um assunto que, para muitos brasileiros, não faz parte da rotina: os investimentos de rendimentos de emergência. 

A pauta sobre educação financeira no Brasil é antiga, ou melhor, no sentido de falta de educação financeira. Vimos que, dos 70 milhões de clientes do Nubank, cerca de 1,2 milhão tem dinheiro reservado. Isso quer dizer que, teoricamente, estão no patamar de investidores, o que representaria uma boa saúde financeira, ou que estão a caminho dela.

Desses 70 milhões, cerca de 62 mil retiraram suas reservas do fundo de renda fixo do Nubank, nos dias seguintes ao rombo da Americanas, com consequências para o banco digital. 

Tanto para o caso de quem desistiu de investir no Nubank, quanto para as pessoas que tiveram o primeiro contato com o tema ‘reserva de emergência’ depois do assunto virar notícia, a pergunta é: quais os melhores investimentos para reserva de emergência?

A primeira dica dos especialistas é aprender com o erro do Nubank, ou seja, evitar escolher fundos com títulos de crédito privado, que é um dos investimentos do ‘Nu Reserva Imediata’. Isso significa que, antes de investir seu dinheiro, saiba em quais ativos eles aplicam seu dinheiro.

E a questão destacada pelos especialistas não é apenas o tipo de investimento que a instituição financeira faz com seu dinheiro, mas o tamanho desse investimento. No caso do ‘Nu Reserva Imediata’, metade da carteira está aplicada em crédito privado, não apenas na Americanas.

O fundador e presidente da assessoria de investimentos Legend, Pedro Salles, disse ao Valor Econômico que aconselha:

 comprar títulos atrelados à Selic do Tesouro Direto, chamados de Tesouro Selic, ou Certificados de Depósito Bancário (CDBs) emitidos por bancos grandes. Outra alternativa são os chamados “fundos simples”, com 95% de exposição em títulos públicos ou ativos com o mesmo risco de crédito.

O especialista explica que o problema pode estar na oferta de rendimento acima do CDI, que atrai muitos investidores, mas que não se atentam que o risco também aumenta:

“Com a taxa básica de juros em 13,75% ao ano no país, é melhor não inventar moda. Não há porque correr mais risco para ter um rendimento maior com a reserva de emergência”, afirma.

Já a educadora financeira da fintech de crédito Open Co, Lai Santiago, chama atenção para que se busque informações além das fornecidas pelos próprios bancos, como detalhou ao Valor.

“As pessoas se decepcionam com os bancos e corretoras, que dizem estar ao lado do cliente, mas esquecem que as empresas têm os seus interesses”, disse.

“O problema não é um fundo de renda fixa ter variação negativa, e sim a confiança de que uma instituição financeira dará a melhor recomendação de onde investir. É importante buscar orientação do que fazer com o dinheiro fora do banco ou da corretora”, acrescentou.

Para entender o que se passou com a rede Lojas Americanas, nossa sugestão é ler o artigo: O que aconteceu com as Lojas Americanas? Saiba tudo agora.

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