Detetives particulares ajudam a combater golpes de criptomoedas

Augusto Medeiros
| 6 min read

Cinco jovens foram presos com ajuda de investigador anônimo.

ZachXBT tem mais 300 mil seguidores no Twitter, mas ninguém sabe a real identidade do investigador que ajudou a polícia a prender cinco jovens na França na semana retrasada. Graças às pesquisas do detetive anônimo, foram descobertas fraudes no valor de US$ 250 milhões. 

Os detetives independentes vêm trabalhando em conjunto com a polícia, que não consegue investigar todos “cybercrimes”, os crimes cibernéticos, envolvendo criptomoedas. Existem até empresas especializadas nesse trabalho. 

Ajuda importante para vítimas de golpes menores

Essa foi a primeira vez que o “ciberdetetive” ZachXBT, como se apresenta no Twitter, conseguiu chamar atenção da polícia com as suas investigações. Geralmente, ele foca seu trabalho em ajudar pessoas que são vítimas de golpes menores e que acabam não sendo investigados pela polícia. Mas dessa vez, ele ajudou a desvendar fraudes que chegaram a US$ 250 milhões. Por isso, a polícia francesa passou a trabalhar com as informações fornecidas por ZachXBT.

As autoridades da Europa e dos Estados Unidos preocupam-se mais com os ciberataques terroristas ou lavagem de dinheiro. São ações cometidas por grupos criminosos ou até mesmo apoiados por Estados. 

ZachXBT prefere não se identificar para não atrapalhar as investigações. Mesmo assim, ele consegue ser muito popular no Twitter com suas postagens sobre o seu trabalho. São 306 mil seguidores. E daí sai uma renda para o detetive. Em seu perfil há um link para doações.

As pesquisas do detetive anônimo partem de buscas por informações em plataformas de criptomoedas e, até mesmo, em redes sociais. Não é um trabalho nada fácil, ainda mais, por ser uma busca solitária por informações sobre criminosos. Em seu último tweet, postado em 18 de outubro, ZachXBT escreveu: 

“Provavelmente, não responderei a nenhuma mensagem por 1-2 semanas. Desculpe, estou completamente esgotado, não tenho certeza de quando voltarei. Volto em breve.”

Como ZachXBT chegou aos criminosos

As investigações do detetive cibernético começaram em 21 de dezembro de 2021. Foi quando a primeira de várias vítimas caiu no golpe do “phishing” (pescar) e teve seus dados roubados. 

Os criminosos “pescam” dados pessoais fazendo a vítima clicar em um link e depois fornecer dados pessoais em um site falso, que é construído para imitar um site verdadeiro. 

Nesse caso, foi feita uma cópia falsificada do site Bored Ape Yacht Club (BAYC), coleção de tokens não-fungíveis construída na blockchain Ethereum. 

Veja alguns exemplos de mensagens usadas no golpe de “phishing”, que normalmente chegam ao usuário via e-mail ou rede social:

Encontramos um problema no seu cadastro: clique aqui para atualizar seus dados;

Seu pedido será entregue, precisamos, apenas, de uma confirmação;

Atenção, seu cartão de crédito será clonado: veja aqui como evitar;

Descontos exclusivos Black Friday.

De posse dos dados, os golpistas passaram a realizar transações com as criptomoedas das vítimas. ZachXBT rastreou essas operações para chegar aos criminosos. Cinco vítimas somaram um prejuízo de US$ 1,7 milhões. 

O investigador identificou códigos das transações em plataformas de criptomoedas, que o levaram até um dos golpistas, no Telegram. Foi assim que ele, também, descobriu que os criminosos eram franceses e chegou ao segundo deles.

Empresas especializadas em investigações 

A demanda de pessoas lesadas por criminosos cibernéticos fez surgir um mercado de investigadores particulares. Na Holanda, existe uma empresa que se especializou em combater crimes cibernéticos, inclusive envolvendo qualquer tipo de criptomoeda. A Digitpol trabalha diretamente com as vítimas, mas também dá suporte ao trabalho da polícia. 

Nos Estados Unidos, uma empresa particular de investigação de crimes na internet informou à rede de televisão CNN que trabalhou em conjunto com a FBI para recuperar um montante de US$ 30 milhões em criptomoedas. Segundo informações da empresa Chaynalisis, os hackers envolvidos no crime são ligados ao governo norte-coreano. 

Segundo o FBI, esses 30 milhões de dólares são parte de uma total de US$ 600 milhões que os hackers roubaram da Sky Mavis, empresa que fabrica um vídeo game onde os usuários podem ganhar moedas digitais. 

Deficiência nas investigações oficiais

De acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, no primeiro semestre de 2022, apenas oito pessoas foram acusadas por pequenos golpes com criptomoedas. Sendo que o número de casos é muito grande. Pelo menos, é o que afirma o ex-chefe da Polícia de Nova Iorque, Terry Monahan. 

Ele disse à agência de notícias AFP que, quando estava no cargo, eram em média três casos por dia, mas que eram arquivados. “A vítima não tinha para onde ir”, explicou. Ele esclareceu que a preocupação da polícia é com casos milionários. “Eu diria que há pouca perseguição policial no espaço cripto”, complementou. 

Crimes somaram 14 bilhões de dólares em 2021

São tantas notícias sobre crimes envolvendo criptomoedas que surge a pergunta: o que esses números representam no universo das transações das moedas digitais? 

De acordo com o relatório da Chaynalisis, em 2021, US$ 14 bilhões foram desviados por criminosos através de golpes. Um crescimento de 79% na comparação com o montante calculado em 2020, 7,8 bilhões de dólares. 

Por outro lado, o crescimento de transações em criptomoedas teve um aumento de 567% em 2021, em comparação com o ano anterior, com um total de US$ 15,8 trilhões. O volume de transações com endereços ilícitos representou 0,15% do total movimentado em 2021.

Duas formas de crimes se destacam, segundo o relatório: fundos roubados e golpes. 

De golpes, em 2021, o prejuízo para as vítimas foi de US$ 7,8 bilhões. Apesar do volume maior, o crescimento dos golpes (82%, em relação a 2020) fica abaixo do aumento de fundos roubados (516% em relação a 2020), US$ 3,2 bilhões de dólares. US$ 2,3 bilhões foram roubados de protocolos DeFi. No caso dos golpes, US$ 2,8 bilhões foram do chamado “rug pulls”, puxada de tapete, um dos tipos de fraudes que o detetive anônimo, ZachXBT, ajuda a combater em suas investigações.

……………………………………………………………………………………………………………………………

Leia mais:

PF descobre esquema de pirâmide cripto que movimentou cerca de US$ 769 milhões

Polícia do Brasil invade 6 exchanges de criptomoedas contra lavagem de dinheiro e evasão fiscal

 

 

……………………………………………………………………………………………………………………………

---------------------