Faltam mulheres na Web3, alerta Helena Margarido, COO da Kodo Assets

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Não chega a ser novidade para Helena Margarido, COO da Kodo Assets, ser a única mulher em grupos de trabalho ou de discussão em torno da Web3. Com 11 anos de atuação como especialista no mercado cripto, ela já deu palestras sobre o tema no Congresso Nacional, na China e na ONU.

Em fevereiro, Helena foi a única brasileira a palestrar no ‘Tech Investment Show 2023’, um dos mais importantes congressos de tecnologia e Web3 do mundo. O evento conecta empresários, profissionais da área e especialistas aos principais investidores da Ásia.

Em meio a 50 palestrantes, Helena falou sobre “Desafios e Oportunidades para as Mulheres na Web3.0 e o Futuro da Web3.0”. Depois disso, ela ainda fez uma palestra sobre uso da tecnologia blockchain no mercado imobiliário, tema que a levou à lista de palestrantes de outro congresso cripto em Dubai, ocorrido também em fevereiro.

“Não sabemos se é falta de predileção das próprias mulheres, mas não vemos muitas trabalhando nessa área operacional”, conta Helena.

“Sempre foi assim. Faltam mulheres em departamentos mais técnicos e com a Web3, isso se repete.”

Equilíbrio no número de mulheres da Web3 virá


Eleita como uma das personalidades cripto de maior relevância da América Latina pela Bloomberg em 2021 e responsável pelo primeiro relatório de Pesquisa de Cripto na América Latina, Helena está longe de ocupar um lugar de vítima nesse cenário.

Ao contrário, ela diz que pessoalmente não sofreu preconceitos e guarda apenas memórias de respeito a suas opiniões. “O ambiente da Web3 é muito intelectual”, explica Helena.

Formada em Direito (teve dois escritórios de advocacia antes de migrar para o mercado cripto), Helena se diz confiante em um equilíbrio desse universo profissional tão logo a Web3 avance da atual etapa de conceitualização. “Quando a Web3 sair do campo puramente técnico e entrar na fase de execução, mais mulheres serão incluídas”, prevê.

Em entrevista a Cryptonews, Helena Margarido fala dessa perspectiva otimista para a entrada de mulheres no mercado profissional relacionado à Web3 e também explica, na posição de COO da Kodo Assets (leia mais a respeito do projeto ao final da entrevista), como a tecnologia blockchain vai revolucionar o mercado imobiliário.

 

Cryptonews – As mulheres estão ficando de fora no processo de desenvolvimento da Web3?

Helena Margarido – Não quero ser leviana porque não tenho dados concretos. É preciso contextualizar que a Web3 ainda está na fase de conceitualização, quando todas as abordagens acontecem muito do ponto de vista técnico. Não sabemos se é falta de predileção das próprias mulheres, mas não vemos muitas trabalhando nessa área operacional. Sempre foi assim. Faltam mulheres em departamentos mais técnicos e com a Web3, isso se repete. Mas, claro, não podemos esquecer que estamos em uma fase de desenvolvimento do conceito. É um momento em que a abordagem operacional está mais em evidência.

Haverá uma repetição da tendência de um universo mais masculino na Web3?

Não acredito que teremos uma repetição de tendência. À medida em que a conceitualização avança e a Web3 sai do campo puramente técnico e entra na fase de execução, mais mulheres serão incluídas. Quando o projeto está sendo executado, não interessa como o site foi programado, a gestão financeira e de pessoas, por exemplo, pode ser feita por mulheres. Com o tempo, eu acredito que esse equilíbrio vai se estabelecer.

Em 11 anos de atuação no mercado cripto brasileiro, você sofreu preconceitos por ser mulher?

Fui criada em um ambiente em que mulheres e homens recebem o mesmo tratamento. Em minha família, homens e mulheres receberam a mesma criação. Devo ter sofrido preconceito por ser mulher ao longo da vida profissional? Provavelmente, mas eu não sei dizer quando, nem consigo dar exemplos concretos. O ambiente da Web3 é muito intelectual. O que sempre percebi e ainda percebo é um respeito imenso pelas minhas ideias e pela forma como eu as apresento.

Claro, essa é a minha experiência. Entendo que essa não é a realidade de todas as mulheres e que pode haver resistência. Há uma questão cultural que é preciso ser considerada. O que tento fazer é mostrar para outras mulheres que é possível trilhar profissionalmente com sucesso nesse ambiente da Web3. Não que eu queira ser inspiração para ninguém, mas parei de advogar (tive dois escritórios de advocacia) para dedicar 100% do meu tempo ao mercado cripto.

Como é a atuação da Kodo Assets no Brasil?

A Kodo Assets é uma empresa de Bahamas. Em função da legislação brasileira, não podemos oferecer os tokens Kodo1 no mercado brasileiro. Por isso, nosso esforço de venda está 100% focado no mercado estrangeiro. Por questões estratégicas, não posso dar muitos detalhes, mas posso dizer que em geral nossos clientes estão principalmente sediados na Ásia. Dentro do nosso planejamento, e para evitar problemas com órgãos reguladores desses países, estão proibidos os mercados dos Estados Unidos, China e OFAC Rússia.

Em que fase está o projeto?

Estamos agora na fase de Whitelist, recebendo investidores interessados em um pré-cadastro. A data de início das vendas ainda não foi definida porque estamos aguardando as últimas licenças do governo de Bahamas. A plataforma começou a ser desenvolvida em 2021.

A tecnologia blockchain pode mesmo transformar o mercado imobiliário?

Sim. O potencial de transformar o mercado imobiliário é tanto que estou aqui como COO da Kodo Assets. Veja, este mercado de real estate tem três pontos chave que podem ser interpretados como entraves para a adesão de investidores. Primeiro, o alto custo de entrada que é o valor do imóvel. Segundo, os custos de transação. Em qualquer país do mundo, esses custos são altos. E, por último, a falta de liquidez inerente ao mercado de imóveis.

A aplicação da tecnologia blockchain consegue resolver esses três problemas. Imagine que, no caso do Kodo1, o custo de entrada equivale ao valor de um token: US$ 140. Trata-se de uma oferta pública de 25 mil unidades de tokens.

Quais são os planos da Kodo Assets para o futuro?

Acredito numa transformação substancial do mercado imobiliário. Para o futuro, há várias alternativas e modelos de negócios nos quais podemos atuar e categorias de imóveis também, como armazéns, shoppings etc. Nosso primeiro imóvel é comercial e já está alugado para a Sul América.

Um dos grandes riscos do mercado cripto é a atuação de baleias, que podem despejar tokens da noite para o dia, derrubando o preço de determinado criptoativo. Como vocês pensam nessa questão em relação ao Kodo1?

Vamos lançar um marketplace, como parte da plataforma, em meados de junho. Mas veja, se acontece algo como a ação de uma baleia que da noite para o dia despeja tokens no mercado, não podemos perder de vista que o Kodo1 continuará significando uma fração de um imóvel avaliado em US$ 3,5 milhões. Nesse caso, se o preço do token cai, você concorda que essa seria uma ótima oportunidade de entrada de investidores? Considere também que o bem imobiliário tente da valorizar. Em São Paulo, a valorização anual é de cerca de 12,9% ao ano.

É diferente de uma baleia despejar tokens Ethereum no mercado porque, neste caso, o criptoativo é a representação de uma tecnologia.

Como é a sua atuação na área educacional?

Em agosto de 2017, eu atuava numa empresa de research quando recebi um convite de Olivia Alonso para prestar assessoria na área educacional cripto. Daí surgiu a Monett, onde atuo em paralelo com meu trabalho aqui na Kodo com análise cripto. Já lancei cursos, masterclass e painéis de educação financeira.

Como autora do primeiro relatório da pesquisa do mercado cripto da América Latina, você concorda que o Brasil é o país com maior potencial cripto na região?

Sem dúvida, o Brasil é o mercado com maior potencial da América Latina. Houve um tempo em que o México pareceu se movimentar com mais potência, mas hoje está claro que o Brasil é o quinto maior mercado do mundo.

E como avalia a questão regulatória no Brasil?

A questão regulatória no Brasil está muito devagar. Tivemos recentemente a divulgação pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de um comunicado (no dia 04/04) enquadrando tokens de recebíveis (os tokens de renda fixa – TR) como valores mobiliários. A CVM estuda isso há muito tempo. A gente adoraria oficializar a Kodo Assets no Brasil e incluir o investidor brasileiro, mas não dá para esperar.

 

Brasileiros ficam de fora do primeiro projeto de tokenização de imóvel


A primeira oferta pública de tokens de um imóvel localizado no Brasil está sendo planejada pela Kodo Assets desde 2021. Trata-se de edifício comercial na região da Av. Faria Lima, área central da cidade de São Paulo. O prédio já está construído e alugado na totalidade à Sul América.

Avaliado em US$ 3,5 milhões, ao todo serão comercializados 25 mil tokens (chamados de Kodo1) ao valor unitário de US$ 140. Mas brasileiros estão vetados dessa oportunidade de investimento, por questão regulatórias inerentes ao país.

Com o impedimento das leis brasileiras que regem investimentos em valores mobiliários, os criptoativos da Kodo serão emitidos e comercializados sob a legislação das Bahamas.

Renda passiva com aluguel tem rentabilidade estimada em 6% ao ano

Os investidores que se tornarem proprietários dos tokens receberão os dividendos proporcionais à participação dos aluguéis do imóvel, cuja rentabilidade é estimada em 6% ao ano, corrigido anualmente pela inflação.

O valor referente aos dividendos será repassado pela Kodo aos investidores. Como emissora do criptoativos, a empresa será responsável pela distribuição dos rendimentos aos detentores dos tokens.

Esse modelo de negócio só é viável graças à aplicação da tecnologia blockchain, que possibilita a investidores a chance de adquirir imóveis de forma segura e ágil, sem a burocracia e os altos custos do mercado tradicional.

Em comunicado à imprensa, o CEO da Kodo Assets, Ciro Iamamura, explica:

“Estamos falando de acesso global a mercados que, até então, eram locais, limitados pela localização física dos imóveis ou disponíveis apenas para investidores qualificados. Nesse sentido, a digitalização de Real Estate pode democratizar o acesso a esse tipo de investimentos, pois eles passam a ser disponibilizados a públicos no mundo inteiro. Acreditamos que a tokenização de ativos pode ser fundamental para revolucionar esse mercado em todo o mundo.”

Os tokens da Kodo serão criados e distribuídos de acordo com a legislação de Bahamas e classificados como security tokens. O token Kodo será emitido usando a plataforma de smart contract da Polygon.

No momento da redação deste artigo, o projeto Kodo está em fase de whitelist, o que significa que a empresa ainda está coletando nomes de potenciais investidores. Nenhuma venda ou emissão de token foi feita até aqui, já que a empresa espera as últimas licenças para lançar a oferta pública.

 

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