Henrique Meirelles: ponte entre o Banco Central e as criptomoedas; o que pensa o ex-ministro

Augusto Medeiros
| 8 min read

Ex-ministro da Fazenda, no governo Temer e por dois mandatos de Lula, presidente do Banco Central, agora, o economista Henrique Meirelles está do outro lado, defendendo os interesses privados, mais especificamente, como conselheiro da Binance, maior corretora de criptomoedas do mundo. Mas o objetivo de Meirelles, segundo ele mesmo falou, é fazer a ponte entre os dois lados. 

Dado o seu histórico profissional, as opiniões de Meirelles têm peso para o mercado financeiro e ele não poupa declarações, como vamos ver nessa matéria. E também vamos mostrar como a Binance tem se aproximado da política, não apenas com a contratação de Henrique Meirelles, no ano passado. O CEO do Mercado Bitcoin criticou a concorrente.

Veja o que pensa Meirelles sobre o governo Lula, em relação ao Banco Central e à política econômica e sobre o Real Digital Brasileiro, que acaba de ter seu projeto-piloto lançado pelo BC, nesta segunda-feira, dia 6.

Banco Central e a regulação das criptomoedas

São vários os movimentos que devem ser acompanhados com atenção pelos investidores de criptomoedas. Ao mesmo tempo em que o Brasil testa o Real Digital Brasileiro e aprova a regulamentação do mercado de criptomoedas, a Binance contrata o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. 

Vale destacar que há uma grande expectativa para o BC ser o supervisor da regulação do mercado cripto. O que ainda não foi oficializado.

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Nesta segunda-feira, 6 de março, o ​diretor de Fiscalização do Banco Central, Paulo Souza, se reuniu, em São Paulo, com o diretor-presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), Bernardo Srur, para discutir a regulação do setor cripto no Brasil.

Além disso, a Binance anuncia o sobrinho do atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como presidente da corretora, no Brasil. A Binance abriu dois escritórios no país.

Declarações de Meirelles

O ex-ministro está fora da administração pública, mas suas declarações influenciam o jogo político e econômico. A coluna, Radar Econômico, da Veja, divulgou críticas de Meirelles ao presidente, Luiz Inácio da Silva, em relação a sua postura quanto à autonomia do Banco Central: 

“Antigamente, era uma questão prática, agora é legal. Agora é uma independência legal. Não podem ser alteradas por ninguém. O Banco Central tem a obrigação formal de seguir as metas fixadas e ponto. Criticar a independência do Banco Central, dizer que as metas estão baixas, só prejudica o trabalho da autarquia”, disse.

“Criticar inutilmente a independência funciona negativamente, prejudica as expectativas e gera ruído negativo. Só serve para isso sem o presidente mandar um projeto para rever a autonomia, criticou”.

“O presidente dá palpites com intenção política”, disse. 

Para a coluna Maquiavel, da Veja, Meirelles defendeu que existe uma interferência desnecessária no Ministério da Fazenda. Ele criticou a atuação do presidente do BNDES, Aluízio Mercadante, em relação à criação da âncora fiscal, que deve substituir o teto de gastos (criado na época de Meirelles):

“O BNDES está entrando no assunto da área da Fazenda. A argumentação do Mercadante é que isso vai ser uma discussão de economistas, que vão dar contribuição, tudo bem. Seria normal isso com bancos privados, grupos de economistas, se reunirem para fazer sugestões para o governo. Agora, a área responsável por isso no governo é o Ministério da Fazenda. Então, claramente, existe aí uma questão de protagonismo de quem está fazendo a âncora fiscal. A ideia do grupo de economistas reunidos no BNDES de dar sugestões para o Ministério da Fazenda, em si, não tem nada demais, desde que sejam meras sugestões, e que fique claro que a responsabilidade disso é do ministério, independentemente de quem seja ministro ou presidente do BNDES”, disse o economista.

Em entrevista ao Estadão, publicada pelo UOL, Meirelles se posiciona sobre como o presidente Lula deveria agir diante da política monetária, responsabilidade do Banco Central:

“Deixa o BC trabalhar. É a melhor forma de conseguir que os juros baixem o máximo possível. Quanto mais o BC for visto como capaz de tomar as suas próprias decisões e controlar a inflação, mais caem as expectativas e mais o BC pode cortar a taxa de juros, que é o desejo de todos, inclusive do próprio Banco Central, desde que não cause inflação e seja possível dentro das projeções inflacionárias dos modelos. Em resumo, é um momento de racionalidade. Tem muitas coisas que o presidente pode fazer, áreas em que o Lula pode se dedicar que são muito importantes para o País, tipo a educação, saúde, meio ambiente – e ele está indo bem nesses aspectos”, disse.

Os objetivos da Binance e a contratação de Meirelles

Desde que o ex-ministro assumiu o cargo de conselheiro da Binance, não se pode separar suas declarações dos objetivos pretendidos pela maior corretora de criptomoedas do mundo. 

Como divulgado no site da Binance, a finalidade para a contratação de 11 conselheiros é que eles possam acompanhar a regulação das criptomoedas: 

“A convocação de um GAB (Conselho Consultivo Global) com esse calibre de líderes é uma prova do compromisso da Binance em construir relações de confiança e cooperação com os reguladores à medida que desenvolvem regulamentações sensatas em todo o mundo”.

A Binance demonstra preocupação sobre a forma de regulamentação para que seja garantida a preservação do empoderamento e da liberdade das criptomoedas. 

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E o que pensa Henrique Meirelles sobre as criptos

Ao se tornar conselheiro da Binance, Meirelles deixou claro que tinha a intenção de fazer a ponte entre a corretora e o BC nas discussões de regulação, além de tornar a Binance uma referência no combate à lavagem de dinheiro com criptomoedas.

“A minha ideia agora é ficar no setor privado, não tenho planos de ir para o setor público. Não acredito em trabalhar no setor público e no privado ao mesmo tempo, pois o Estado demanda absoluta concentração e foco total, evitando qualquer conflito de interesse”, declarou o economista ao Valor.

Ele demonstrou entusiasmo com a criação do Real Digital Brasileiro (uma versão digital do dinheiro) e elogiou a atuação do presidente do Banco Central, Roberto Campos:

“É importante que o BC esteja engajado neste processo. O interesse particular do Roberto Campos Neto nesse mercado é muito bom, porque os criptoativos são o mercado do futuro”, disse.

E já se posicionou na defensiva para combater uma possível manobra que venha usar o Real Digital Brasileiro como substituição das criptomoedas que já estão no mercado:

“Sou liberal. Não acredito em medidas para coibir ou controlar o mercado para benefício de um governo. Cada um vai achar seu lugar, seja o setor privado, com sua capacidade de atrair profissionais do mundo todo, seja o Estado, se conseguir ser eficiente o bastante para ter uma adoção ampla de sua criptomoeda.”

Ele falou também que é preciso enxergar o potencial das criptomoedas para serem usadas como forma de pagamento e não apenas como investimento:

“É evidente que tem esse papel, mas o ponto principal de ativos como o bitcoin é servir de meio de pagamento.”

E seguindo com as contratações, de olho no  Brasil, no fim do ano passado, a exchange anunciou o sobrinho de Fernando Haddad, Guilherme Nazar, como diretor-geral da Binance no Brasil.

Por outro lado, o CEO da concorrente, Mercado Bitcoin, no Brasil, Reinaldo Rabelo, fez críticas à Binance pelas contratações, como divulgou no seu perfil do LinkedIn:

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