Rede Ethereum está perto de permitir retirada de tokens em staking – Como isso pode afetar cotação do Ether?

Ethereum é uma das mais conhecidas e usadas redes de blockchain. Seu token nativo, o Ether, é a segunda criptomoeda em valorização de mercado, no que é superada apenas pelo famosíssimo Bitcoin.

Ethereum é principal plataforma de apps descentralizados e dá muitos incentivos para staking

Também digno de nota na rede Ethereum é seu papel na expansão das possibilidades do blockchain. Ela é chamada de “mãe dos dApps” devido às facilidades que oferece à criação e à implementação desses programas, também chamados de aplicativos descentralizados.

Entre as características dos dApps, estão a operação autônoma, a independência de autoridades centrais e, em virtude de seus códigos abertos, a transparência. Estes encontram aplicações em diversas áreas, tais como a prestação de serviços financeiros, a educação, o setor imobiliário, o entretenimento e a administração. 

Já o staking é um processo em que o detentor de tokens põe-nos à parte, disponibilizando-os para colaborar no mecanismo de validação de transações da rede, em troca do que ele recebe recompensas. Pode-se dizer que são como os juros de um depósito e se originam, por exemplo, de parte das taxas de transação da rede ou de tokens recém-criados nela.

A possibilidade de realização de staking com Ether foi introduzida em 2020, com o surgimento de uma cadeia separada, a Beacon Chain, que, em setembro do ano passado, fundiu-se com a rede principal, completando o processo de transição do Ethereum entre mecanismos de validação de transações.

Contudo, ainda se trata de uma via de mão única: apenas a partir de uma atualização, chamada Shanghai, que deve acontecer na segunda metade deste ano, será implementada, entre outras mudanças, a possibilidade de retirada dos tokens Ether em staking e do recebimento das recompensas correspondentes a eles.

Atualização Shanghai foi implementada em rede de testes

Um passo importante para a realização da Shanghai foi dado na madrugada do último dia 28, quando a atualização foi implementada na Sepolia, uma das redes de testes da Ethereum. Denominado Shanghai-Capella, ou simplesmente Shapella, o teste foi bem-sucedido. A rede de testes Goerli deve passar em breve pela atualização. Depois disso, só faltará a implementação da atualização na rede principal.

Como a cotação da segunda maior criptomoeda pode reagir?

Uma dúvida na mente de investidores é que efeito a atualização por vir terá sobre a cotação do token nativo de Ethereum.

Uma possibilidade é que a atualização tenha efeito pequeno ou pouco duradouro sobre a cotação do token nativo da Ethereum. Um precedente interessante é o The Merge (Fusão), a mais recente grande atualização da rede, que aconteceu em setembro do ano passado. Com ela, completou-se o processo de transição entre mecanismos de validação quando a Beacon Chain fundiu-se à rede principal.

A cotação do Ether caiu cerca de 10% no dia em que o Merge se consumou, mas a volatilidade logo se reduziu e o preço do ativo estabilizou-se. A turbulência da cotação do Ether (segundo a métrica volatilidade realizada) nas quatro semanas depois da atualização foi consideravelmente inferior ao resultado anualizado.

Em artigo publicado em 17 de fevereiro pela CoinDesk, site especializado em criptoativos, Omkar Godbole argumentou que pode ser um erro concluir que, em função da relativa ausência de volatilidade na cotação do Ether na esteira do Merge, o mesmo acontecerá logo depois da Shanghai.

Godbole cita Yang Zhiming, ex-diretor de derivativos cambiais da região do Pacífico Asiático para o banco Deutsche Bank e cofundador de OrBit Markets. Para o analista, é preciso levar em conta que o Merge foi uma mudança basicamente técnica (conclusão do processo de mudança do mecanismo de consenso da rede).

Enquanto isso, a Shanghai tem caráter e também natureza econômica, pois ao liberar o saque de tokens em staking e correspondentes recompensas, tem potencial para alterar o equilíbrio entre oferta e demanda de Ether. Isso poderia influenciar consideravelmente a cotação da criptomoeda.

Zhiming lembra também que se prevê, com a nova atualização, uma redução nos rendimentos do staking, o que deve tornar o procedimento menos atraente e convencer alguns de seus realizadores a retirar seus tokens. Como consequência, talvez vendê-los e sair em busca de investimentos mais rentáveis, o que aumentaria a oferta de Ether e criaria uma pressão de baixa sobre sua cotação.

A OrBit Markets, que oferece opções e derivativos de criptoativos, sugere a realização de um swap de volatilidade, um tipo de contrato de futuros em que as partes contratantes concordam em um pagamento baseado na diferença entre a volatilidade prevista de um ativo e aquela que realmente aconteceu. Ele pode ser usado por um investidor para se proteger da turbulência nas cotações de um ativo ou até para tentar lucrar com ela.

Existe a corrente dos que acreditam que não irá mudar muita coisa

Há quem esteja cético quanto à magnitude dos efeitos que a Shanghai poderá ter sobre a cotação do Ether, os quais, segundo o analista-chefe de criptoativos da casa de análises de investimentos Empiricus, Vinícius Barzan, deverão ser razoavelmente limitados.

Barzan, que foi ouvido pelo site de notícias e análises sobre investimentos Money Times, lembra que, depois da implementação da Shanghai, recompensas poderão ser sacadas imediatamente, mas nem todos os tokens em staking poderão ser retirados no curto prazo.

Devido ao limite de processamento de operações por bloco, a Ethereum Foundation, que administra a rede, estima que pouco mais de 100 mil retiradas possam ser efetuadas por dia. Barzan afirma que, mesmo que todos os detentores de tokens em staking quisessem retirá-los, o que provavelmente não será o caso, levaria pouco menos de 1 ano para que todos conseguissem.

Barzan também não acredita que a pressão exercida pela Securities and Exchanges Comission, o equivalente nos Estados Unidos à Comissão de Valores Mobiliários, pese muito na decisão de detentores de Ether em staking de retirar ou não os tokens.

Recentemente, a SEC tem voltado sua mira para as criptomoedas, por exemplo, multando celebridades que promovem esquemas relativos a esses ativos sem revelar que foram pagas para isso e a exchange cripto Kraken, que oferecia um serviço de staking.

Para Barzan, os realizadores de staking têm pouco medo da regulamentação, que, na opinião dele, afetaria principalmente as corretoras, que precisariam adaptar-se às novas normas e mostrar-se mais transparentes.

O analista da Empiricus lembra ainda que não é só a atividade de staking com Ether que pode ser afetada por regulamentações, mas também a própria criptomoeda, que pode ser considerada um valor mobiliário. Tal avaliação está em consonância com declaração recente de Al, presidente da SEC, que declarou que todas as altcoins (criptomoedas que não são o Bitcoin) são, em essência, valores mobiliários.

O artigo do Money Times também apresenta a visão de Barzan com relação aos protocolos de liquid staking, os quais oferecem ao detentor dos tokens a possibilidade de travá-los na rede em troca de certificados de depósitos, os quais podem ser vendidos (e comprados), dando liquidez aos criptoativos.

Barzan discorda da ideia de que a liquidez que a liberação da retirada dos tokens em staking dará ao procedimento tornará obsoletos os protocolos de liquid staking como Lido.

Na opinião do analista, mesmo depois da Shanghai, os protocolos em questão, que poderão ganhar a denominação de super liquid staking, ainda oferecerão vantagens, como a de permitir fazer staking com menos de 32 tokens de Ether, o que a Ethereum não permite, e usar os ativos em staking como garantia de empréstimos.

Além de Zhiming, Godbole citou, em defesa da possibilidade de que a atualização introduza turbulências na cotação do Ether, Mads Eberhardt, analista de criptomoedas do banco de investimentos dinamarquês Saxo Bank, que afirmou em janeiro deste ano que apenas as recompensas que podiam ser retiradas imediatamente totalizaram 1 milhão de tokens, o bastante, a seu ver, para que se produza considerável volatilidade.

Quantidade de Ether em staking é bem inferior à de outras redes importantes

Um artigo recente no site da revista de negócios Exame, mencionou uma análise da Binance Research, braço de pesquisas da corretora Binance, segundo a qual o staking ainda tem muito espaço para crescer na Ethereum. A pesquisa indica que menos de 15% de todo o suprimento disponível de Ether está em staking, muito longe dos mais de 63% no caso do token nativo da rede Avalanche e os mais de 71% do token nativo da rede Cardano.

O relatório afirma ser possível supor que a liberação de retirada de Ether do staking, que reduz os riscos associados à liquidez, a curto prazo, pelo menos, tenha o efeito de aumentar, em vez de diminuir, a atração exercida pela prática.

Talvez, uma quantidade significativa de investidores fosse avessa a depositar seus tokens sem saber quando poderia retirá-los e estejam apenas esperando pela atualização Shanghai antes de realizar staking de seus tokens.

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