Apostas e jogos online consomem 0,22% do PIB, aponta estudo do Itaú
De acordo com um estudo do banco Itaú, os brasileiros gastaram R$ 23,9 bilhões em jogos e apostas online nos últimos 12 meses. O valor considera tanto a atividade de apostas esportivas (as famosas “bets”) quanto os jogos de cassino — incluindo o Fortune Tiger, popularmente conhecido como “jogo do tigrinho”. Além disso, refere-se a gastos em sites e aplicativos.
Os resultados estão no relatório “Apostas on-line: estimativas de tamanho e impacto no consumo”, que o banco Itaú divulgou esta semana.
Brasileiros perderam um terço do que gastaram em apostas
Os números da pesquisa indicam que os brasileiros gastaram R$ 68,2 bilhões em plataformas de jogos e apostas online.
Por outro lado, os apostadores sacaram apenas R$ 44,3 bilhões. Ou seja, o conjunto de usuários teve uma perda total de R$ 23,9 bilhões. Isso significa que tiveram um prejuízo aproximado de um terço do valor — para cada R$ 3 apostados, recuperaram apenas R$ 2.
Ao mesmo tempo, segundo a pesquisa, não houve um “impacto relevante” do crescimento do setor de apostas sobre o desempenho do varejo. Portanto, conforme o modelo utilizado pelo banco, a venda de bens de consumo não parece ter sido afetada pela ascensão do gasto com apostas.
“Debates sobre o desempenho do setor varejista este ano têm sido comuns, e uma das explicações levantadas pelos que acreditam que o setor está tendo um desempenho aquém do esperado é de que os consumidores têm gasto cada vez mais com apostas on-line, e
reduzido seu consumo de bens. Nossos modelos não apoiam esta hipótese. As vendas no varejo têm apresentado resultados dentro do esperado. Nosso modelo macroeconômico para as vendas no varejo baseia-se em quatro variáveis: renda, crédito, confiança do consumidor e poupança.”
Diretor do BC vê possível impacto sobre inflação
Apesar de o Itaú descartar um possível impacto das apostas e jogos online sobre os bens de consumo, ainda há dúvidas sobre o efeito desse setor sobre a economia brasileira. Aliás, uma prova disso é a declaração recente de Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do Banco Central (BC).
Esta semana, durante participação no Warren Institutional Day, Galípolo afirmou que não há clareza sobre os efeitos das bets e do setor de criptomoedas sobre o consumo e a poupança:
“Uma questão que parece anedótica, mas que vem crescendo bastante é a questão das chamadas bets, os jogos de apostas. Muita gente grande apresentando explicação por ali para entender o hiato que a gente vê entre o crescimento da renda que não aparece nem no crescimento do consumo nem no crescimento da poupança.”
Portanto, para o economista, o BC precisa adotar uma postura cautelosa para tratar de ambos os setores.
Ao mesmo tempo, o governo federal segue tratando da regularização do setor de apostas online, após a aprovação de leis específicas para essa indústria.
A partir de janeiro de 2025, todas as empresas interessadas em atuar no Brasil precisarão ter (e pagar por) uma licença local. A medida também deve servir para elevar a arrecadação do governo.
Como foi feito o estudo
O levantamento ficou a cargo dos economistas Luiz Cherman e Pedro Duarte. Segundo eles, a projeção teve como base dois conjuntos de dados: os balanços de pagamentos do Banco Central (BC) e o gasto com marketing pelas empresas do setor.
Em primeiro lugar, os autores do estudo analisaram os valores que saíram do país sob a conta de jogos e apostas. Afinal, o BC contabiliza as saídas relativas às atividades das plataformas de apostas e cassinos online.
Em seguida, para estimar o percentual de marketing das empresas, o Itaú utilizou quatro referências do setor: Flutter e “888”, do Reino Unido, e FanDuels e DraftKings, dos Estados Unidos. Essas plataformas investem em marketing entre 19% e 75% do seu faturamento.
Segundo os especialistas, mesmo que o “prejuízo” com apostas chegue a 0,22% do PIB, não é suficiente para afetar as projeções do banco sobre a economia brasileira. Ou seja, não seria necessário adaptar os modelos que o Itaú utiliza para esse fim.
Segundo o relatório do Itaú, o valor gasto no Brasil pode ser ainda maior. Afinal, o balanço de pagamentos pode não estar captando todo o valor do setor:
“Fazemos a ressalva de que, devido ao estágio inicial do mercado no país, com regulamentação incipiente, não podemos descartar a possibilidade de que existam gastos que não sejam fielmente captados pelas estatísticas do balanço de pagamentos, seja por manutenção dos recursos no Brasil, seja pela atuação de empresas que não são reguladas em nenhum país, agindo à margem da lei.”
Nos EUA, gasto é 3 vezes maior
Os números do mercado brasileiro de apostas e jogos podem chamar a atenção de quem não tem familiaridade com esse setor. Ainda mais se considerarmos que a atividade ainda não está plenamente regularizada no país.
No entanto, os valores não surpreendem tanto na comparação com mercados já consolidados. Por exemplo, nos Estados Unidos, o gasto corresponde a 0,65% do PIB utilizando a mesma métrica para o cálculo.
Portanto, em proporção do PIB, o valor gasto pelos americanos nessa atividade é cerca de três vezes maior que o dos brasileiros.
Por outro lado, o setor de apostas e jogos é historicamente legalizado nos EUA, mesmo que isso varie conforme o estado. E os números do país não correspondem apenas às apostas online. Também levam em conta os estabelecimentos físicos.
Isso levanta uma série de questões sobre o cenário brasileiro. Por exemplo, o valor gasto no país ainda vai todo para o exterior, enquanto o governo não estabelece as regras para licenças de plataformas no país.
Além disso, os EUA têm toda uma rede de hotelaria e um setor de entretenimento de grande porte em torno da indústria de jogos de azar. Por outro lado, é difícil imaginar um impacto tão significativo no Brasil se a atividade se manter exclusivamente online.