Abandono por bilionário Elon Musk derruba cotação do Dogecoin

Gabriel Gomes
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Dogecoin é uma criptomoeda lançada em 2013 por dois engenheiros de software, e, que almejavam criar um sistema de pagamentos eficiente e satirizar a forte especulação que enxergavam com relação às criptomoedas. Com esta última finalidade, associaram sua criação ao meme Doge e usaram o cachorro deste como um símbolo de sua moeda digital.

A piada e as vantagens do Dogecoin, com o qual uma transação pode ser confirmada em menos de 1 minuto, ao passo que com o Bitcoin isso pode levar mais de 10 minutos, fizeram com que rapidamente ganhasse apoiadores. A rede social Reddit teve importante papel no fomento do interesse pela criptomoeda.

Duas semanas depois de lançado, o Dogecoin já tinha capitalização de mercado de cerca de US$ 8 milhões de dólares. Atualmente, ela já passa de US$ 80 bilhões, segundo dados do site CoinGecko, especializado em dados sobre criptoativos, o que a coloca, segundo essa métrica, na primeira posição entre as memecoins (criptomoedas baseadas em uma piada ou outro fator humorístico, por exemplo, como memes de internet).

Declaração de Musk derruba preço do DOGE

Recentemente, porém, a criptomoeda, que, como muitas outras, começava a se recuperar dos efeitos do chamado inverno cripto, foi golpeada por uma notícia inesperada e, à primeira vista, sem muita relação com seu valor ou sua utilidade.

Depois que Musk postou no Twitter em 3 de março que havia transferido seu interesse pelas criptomoedas para a inteligência artificial, a cotação do Dogecoin sofreu uma forte queda. Em poucas horas, perdeu cerca de 10% do seu valor. Apesar de pequenas oscilações, ela ainda não recuperou os níveis em que estava cotada antes da manifestação do bilionário. Não é que ele controle uma quantidade do ativo suficiente para, necessariamente, derrubá-lo se decidir vender.

Além da importância atribuída por muitos às opiniões de Musk, que, além de ser um dos homens mais ricos do mundo, é dono de negócios icônicos como a fabricante de foguetes SpaceX, a montadora de veículos elétricos Tesla e, desde o ano passado, o próprio Twitter, há outro motivo para a intensidade do efeito sobre o Dogecoin da manifestação do empreendedor.

Em sua trajetória, o Dogecoin acabou intimamente associada, na visão de muitos pelo menos, com o polêmico bilionário Elon Musk, relação da qual, em certos momentos, certamente se beneficiou, mas com, em outros, sofreu.

Musk, como outras celebridades à direita do espectro político, tem um histórico de interesse e apoio a criptomoedas, supostamente uma forma de dinheiro que o Estado e as grandes corporações não poderiam controlar e serviria como uma ferramenta para prevenir ou combater a tirania. Um exemplo disso é o senador americano Ted Cruz.

Além de ter investido muito em criptomoedas, Musk fez com que a Tesla aceitasse o Bitcoin, a criptomoeda mais conhecida e de maior valor de mercado, como meio de pagamento. Contudo, foi especialmente a Dogecoin que Musk ficou associado, e suas manifestações, às vezes, um tanto erráticas, levaram tanto a surtos de valorização como de desvalorização do ativo.

Atitudes e declarações de Musk têm afetado bastante o preço do Dogecoin

Em janeiro de 2021, por exemplo, Musk postou em sua conta no Twitter a figura de uma capa da DOGUE, uma revista para donos de cachorros cujo nome faz referência à famosa revista de moda Vogue. A postagem foi entendida como uma referência ao Dogecoin, o que fez com que a cotação dessa subisse 300% em poucas horas e, mais tarde, na falta de fatos concretos, caísse para metade do valor que havia alcançado.

Também em 2021, Musk afirmou, no evento de criptomoedas The B Word, que investia em Dogecoin porque lhe parecia uma criptomoeda para o povo em geral. Segundo ele, conversando com funcionários de empresas suas, como Tesla e SpaceX, ficara sabendo que muitos deles, que não eram nem especialistas em finanças, nem em tecnologias de computação, tinham feito investimentos na criptomoeda. 

Ele também comentou que gosta de memes e de cães, fatores cuja presença o atrai no ativo em questão, que seria interessante se logo uma criptomoeda satírica se tornasse uma das principais. No ano anterior, em dezembro, Musk já havia tuitado “One Word: Doge” (“Uma Palavra: Doge”), o que aumentou violentamente o volume das transações com a criptomoeda.

Aliás, a confirmação da compra do próprio Twitter por Musk no ano passado foi outro evento relacionado ao bilionário que afetou fortemente a cotação da memecoin, que disparou. A associação entre Musk e Dogecoin acabou trazendo dores de cabeça para o bilionário, contra o qual foi aberto um processo em junho do ano passado.

Um investidor em Dogecoin que se sentiu lesado decidiu processar Musk, a quem acusa de ter liderado um esquema de pirâmide em que promovia a memecoin, causando a valorização desta graças ao influxo de fundos das pessoas convencidas pelas manifestações do bilionário e das relações de seus negócios com o ativo, e depois o vendia com lucro, deixando que os demais lidassem com as quedas de cotação que sobrevinham.

Em setembro do ano passado, o processo foi expandido, quando mais sete requerentes se juntaram ao autor original da ação e mais seis alvos foram adicionados, inclusive a empresa Boring Co., negócio de abertura de túneis de Musk.

Os autores do processo de US$ 258 bilhões de dólares afirmam que Musk e suas companhias fizeram com que, em dois anos, a cotação de Dogecoin chegasse a aumentar mais de 30000% e depois permitiram que desabasse, prejudicando os outros investidores.

Os tribunais ainda não decidiram a questão, embora poucos acreditem que as exigências dos autores do processo contra Musk e suas empresas venham a ser atendidas de maneira integral.

O novo foco do bilionário em inteligência artificial talvez seja produto das recentes exibições das habilidades de modelos de linguagem como ChatGPT, o chatbot da organização OpenAI, que é composta de uma organização de pesquisa sem fins lucrativos, OpenAI Incorporated, e uma startup com fins lucrativos, OpenAI Limited Partnership da qual a Microsoft é um dos principais e mais antigos investidores.

Interessantemente, Musk foi um dos fundadores originais do OpenAI em 2015 ao lado de outros importantes nomes do setor de tecnologia como Sam Altman e Peter Thiel. Ele deixou o conselho da organização em 2018, mas continuou sendo um dos doadores da organização sem fins lucrativos.

Resta saber quanto tempo vai durar o renovado interesse de Musk em inteligência artificial, quanto tempo ele vai conseguir se manter afastado das criptomoedas e qual vai ser o efeito do comportamento do bilionário sobre o Dogecoin.

Derrocada do Dogecoin pode abrir espaço para outras memecoins

É possível, embora não garantido, claro, que, com a aparente deserção de Musk, o Dogecoin perca espaço, entre as memecoins, para criptomoedas de projetos que conferem a elas certa utilidade intrínseca e não dependam tanto dos caprichos de celebridades. 

Um exemplo é o Tamadoge, que se apresenta como o futuro do ecossistema Doge e é parte essencial de um jogo play-to-earn cuja finalidade é usar o conceito de Metaverso para permitir que os jogadores cuidem de animais virtuais e usem-nos para disputar competições, com recompensas para os vencedores.

O Tamadoge pode ser adquirido em exchanges como Uniswap e OKX. Em sua fase de pré-venda, angariou o equivalente a mais de US$ 19 milhões de dólares em Tether, stablecoin cujo valor é atrelado ao da moeda estadunidense.

Evidentemente, é preciso analisar bem um ativo para identificar riscos e possíveis benefícios antes de investir nele, especialmente quando se trata de criptomoedas, que são bastante voláteis.

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