Apesar de quedas recentes, Bitcoin acumula quase 50% de valorização no ano, dez vezes mais do que o ouro

Gabriel Gomes
| 8 min read

Em 2022, o Bitcoin perdeu dois terços de seu valor em dólares. Apesar de ainda não estar nem um pouco perto do auge que atingiu em novembro de 2021, a cotação do ativo começou sua recuperação neste ano, em cujo primeiro mês acumulou uma alta de quase 40%.

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Bitcoin supera diversos outros investimentos em 2023

Gráfico do Bitcoin em 2023, até 17/03

Em 2023, o Bitcoin já acumula cerca de 50% de valorização, superando em muito o desempenho de vários investimentos tradicionais. Por exemplo, o ouro acumula alta de pouco mais de 2,5% de sua cotação em dólares no ano.

Não é só o metal que o Rei Midas cobiçava que não conseguiu acompanhar a valorização do Bitcoin. De modo geral, os mais conhecidos índices do mercado acionário comeram poeira da criptomoeda mais famosa. 

O Ibovespa, mais importante índice da Bolsa de Valores brasileira, acumula queda de 2,77% no ano. No mesmo período, três importantes índices relacionados a bolsas americanas, S&P 500, Dow Jones Industrial Average e Nasdaq Composite Index acumulam, respectivamente, alta de 3,56%, queda de 2,69% e alta de 12,81%.

Interessantemente, os recentes problemas enfrentados por bancos americanos que tinham um tipo ou outro de ligação relevante com as criptomoedas ou empresas que negociam ou emitem esses ativos, em vez de enfraquecer o mercado cripto, podem ter contribuído para aquecê-lo.

O Bitcoin, por exemplo, chegou brevemente a alcançar a marca de US$ 26 mil dólares de cotação para, depois, recuar para o patamar de US$ 25.700 dólares, mantendo-se, por enquanto, acima da faixa de US$ 25 mil dólares, contra a qual vinha se chocando antes de sua alta ser interrompida por uma sucessão de quedas.

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Expectativa do mercado sobre os juros no EUA parece estar mudando

Em parte, a recente valorização do Bitcoin deve-se a uma mudança de expectativas quanto ao comportamento do banco central americano, o Fed, que vinha, desde o ano passado, apertando a política monetária estadunidense. Tal política contribuiu para o que se chamou de inverno cripto, um período prolongado de mercado em baixa para as criptomoedas.

Muitos analistas acreditam que os problemas enfrentados por bancos americanos, que derivam parcialmente ao menos das sucessivas elevações da taxa de juros pelo Fed para combater a inflação, farão com que o banco central reverta sua política monetária ou pelo menos interrompa a sequência de aumentos.

Os juros altos reduzem o valor dos títulos do Tesouro de maturação longa, a questão é que muitos bancos investem parte considerável de seus fundos neles, principalmente devido à reputação de seguros que esses ativos têm.

Com isso, as instituições financeiras sofrem perdas no patrimônio com que poderiam atender obrigações de curto prazo, como a devolução dos fundos de depositantes, por exemplo, e podem apresentar problemas de liquidez.

Tal situação, que é agravada pela própria desconfiança do público quanto à liquidez dos bancos, tem potencial para causar uma corrida aos depósitos e, consequentemente, aumentar ainda mais as obrigações de curto prazo com que as instituições financeiras têm que arcar.

Vulnerabilidades do sistema financeiro tradicional também contribui para maior interesse em cripto

Outro fato que pode estar fortalecendo as criptomoedas no momento é a narrativa levantada por personalidades como Changpeng Zhao, CEO da Binance, que é a maior exchange do mundo.

Para Zhao, os problemas de bancos como Silvergate, que anunciou recentemente sua decisão de encerrar suas atividades, e de Silicon Valley Bank e Signature, que foram fechados pelos reguladores, mostram que as exchanges vêm sendo tratadas por reguladores e veículos de mídia com muito menos condescendência que o sistema financeiro tradicional, cujas fraquezas foram ignoradas.

Entre os alvos das críticas do executivo, está a Forbes, revista de notícias e análises sobre o mundo dos negócios que publicou artigos críticos sobre a Binance, questionando sua liquidez.

Um internauta postou um texto em que o Silvergate celebrava sua inclusão pelo quinto ano consecutivo na lista de melhores bancos da Forbes. O CEO da Binance não deixou por menos e respondeu: “Cara… a qualidade da cobertura …”

De acordo com Zhao, a mídia aplicou FUD (sigla de Fear, Uncertainty and Doubt, ou seja, Medo, Incerteza e Dúvida, uma tática que consiste no uso de desinformação para desacreditar concorrentes, rivais, etc.) contra sua empresa. Mas ela resistiu a retiradas de depósitos por clientes. Entretanto, bancos tratados como entrementes confiáveis entraram em colapso rapidamente.

Analistas enxergam grande potencial de valorização para o Bitcoin

Um colaborador da plataforma de análises de criptomoedas, CryptoQuant, que usa o pseudônimo Venturefounder, postou no Twitter sua opinião de que o mercado, de modo geral, está prevendo uma grande virada do Fed que favoreceria ativos como o Bitcoin.

Para ele, o banco central americano pode até abandonar a meta de inflação de 2% ao ano, o que, segundo ele, seria a maior sacudida na política monetária americana desde o fim da conversibilidade do dólar em ouro na década de 70.

Outra opinião sobre o futuro próximo da criptomoeda de maior valorização de mercado é opinião é a de Tone Vays, famoso trader, que, na última segunda-feira, postou no Twitter que acredita não haver, do ponto de vista da Análise Técnica, nenhum obstáculo à alta da cotação do Bitcoin até US$ 34 mil dólares, mas os touros (bulls, os investidores apostando na alta de um ativo ou mercado) estão exaustos depois das altas recentes.

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Também há opiniões contrárias no mercado

Há, porém, quem acredite que a recente escalada da cotação do Bitcoin não continuará e logo será revertida. Um deles é o analista de mercado Peter Schiff, um barulhento crítico das criptomoedas. De acordo com Schiff, o Bitcoin não tem seu valor ligado a nenhum ativo com utilidade intrínseca, é má reserva de valor por ser volátil e não é amplamente aceito como meio de pagamentos.

Ele escreveu, por exemplo, que o fato de ter a cotação do Bitcoin subido 20%, enquanto o ouro subia apenas 2,5%, não significa que aquele seja melhor que este como proteção anti-inflacionária. Para Schiff, a diferença relevante é que a alta do ouro (tradicionalmente considerado uma proteção contra a inflação causada por políticas monetárias frouxas) é sustentável, mas a do Bitcoin não é.

O ponto de vista de Schiff foi alvo de chacota. O CEO da Binance, por exemplo, tuitou que “nós sabemos” que o ouro é quase tão bom quanto o Bitcoin.

Uma postagem recente de Schiff em que ele dizia a seus leitores que uma onda de falências ligadas ao setor cripto derrubaria o valor das criptomoedas e instava-os a vender o mais rápido que pudessem seus tokens (citando nominalmente o Bitcoin) e comprar ouro (que ele negocia através de uma empresa, um de seus empreendimentos) provocou polêmica.

Um internauta respondeu à previsão do analista postando um tuíte de 2018 em que Schiff dizia que, embora o Bitcoin, então cotado a 4000 dólares, estivesse 80% abaixo do maior valor que já tinha atingido, nem por isso era uma pechincha. Nada impedia, afirmou, que ele caísse mais 80%. E mesmo depois de tê-lo feito, escreveu, ainda estaria caro. Hoje, a cotação da criptomoeda está 6 vezes mais alta do que estava naquele momento.

A implicação da resposta do internauta é que Schiff estava errado então (apesar do inverno cripto que sobreveio entre a previsão agora) e está ou pode estar errado agora também.

À pergunta de Schiff sobre como o Silicon Valley Bank, que tinha relações com o setor cripto, pode virar coisa do passado se as criptomoedas são o futuro, um internauta respondeu que o Silicon Valley Bank não era o único banco que tinha virado coisa do passado, pois o banco de Schiff foi fechado pelos reguladores de Porto Rico por insuficiência de capital.

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