Atualização Shanghai da rede Ethereum foi adiada para abril

Gabriel Gomes
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Embora a rede Ethereum, inicialmente, tenha feito uso do mecanismo de consenso conhecido como proof-of-work, em dezembro de 2020, com o lançamento de uma cadeia chamada Beacon, ela começou seu processo de transição para outro modelo de certificação de transições, chamado de proof-of-stake, o qual foi completado em setembro do ano passado com a fusão da Beacon e a rede principal.

Entre as vantagens da fusão, conhecida também como Ethereum Merge ou, simplesmente, Merge (palavra do inglês para fusão), podem ser citadas a radical redução da quantidade de energia consumida pela rede e o aumento de sua capacidade de expandir a escala de seu funcionamento.

Outra mudança trazida pela migração para o novo mecanismo de consenso foi a possibilidade de que os detentores do token nativo da rede, o Ether, usem-no para fazer staking, procedimento em que fornecem seus criptoativos para ajudar na validação de transações e, em troca, são recompensados com ganhos.

No entanto, ainda não é possível a quem fez o staking retirar os tokens de Ether que depositou e recolher as recompensas correspondentes. Para essa finalidade, prevê-se a realização de uma atualização, que recebeu o nome de Shanghai.

Atualização Shanghai é marcada para o começo de abril

A Shanghai também deverá introduzir outras mudanças na rede, mas, segundo desenvolvedores, caso elas não possam ser implementadas a tempo, serão deixadas para o ano que vem, para que não se atrase a introdução da possibilidade de retirada de tokens em staking.

Contudo, haverá um pequeno adiamento. Embora não houvesse data definida, previa-se que a Shanghai fosse ser implementada no final de março. No dia 2 deste mês, porém, os desenvolvedores da rede comunicaram que foi decidido que ela deveria ser adiada para o início do mês seguinte, abril.

Segundo um dos desenvolvedores principais de Ethereum, Tim Beiko, tenta-se dar às pessoas um intervalo confortável, por exemplo, duas semanas antes de atualizações na rede principal. Se o teste na Goerli for feito no dia 14 de março, exemplificou Beiko, e no dia 16 do mesmo mês for anunciada a decisão de seguir em frente, o mais cedo que a atualização poderia ser implementada na rede principal seria no começo de abril.

Ainda não foi escolhida uma data, mas, em uma postagem na rede social Twitter, Beiko disse que se deve chegar a uma definição na próxima reunião de desenvolvedores, que está marcada para 16 de março, contudo, ressalvou, desde que tudo corra bem com o teste na Goerli.

Como se pode imaginar, o teste na Goerli, servirá como última chance para identificação de problemas e de medidas para serem tomadas para que se assegure a implementação tranquila da Shanghai e, consequentemente, da tão aguardada possibilidade de retirada dos tokens em staking, será observado com atenção. No dia 28 de fevereiro, uma atualização preliminar foi feita, com sucesso, na Sepolia, outra rede de testes do Ethereum.

Vale lembrar que, mesmo antes da implementação da Shanghai, surgiram opções no mercado cripto para suprir as deficiências do modelo de staking vigente na rede Ethereum. Plataformas como Coinbase e Lido, para citar apenas dois exemplos, oferecem o que se chama de “staking líquido”. 

Esse procedimento permite que detentores de Ether depositem seus tokens (mesmo em quantidade inferior a 32, mínimo para realização de staking na rede Ethereum), em troca do que recebem um token. Como é possível negociá-lo livremente, ele é líquido.

Apesar da existência das citadas alternativas, que provavelmente conservarão alguma relevância, devido às vantagens que oferecem, a atualização Shanghai será de grande importância. Basta lembrar que, desde que foi possibilitada a realização de staking na rede Ethereum, estima-se que foram colocados 16 milhões de tokens de Ether em staking. À cotação vigente, isso equivale a um valor de pouco mais de US$ 24 bilhões de dólares, ou mais de R$ 140 bilhões de reais.

É preciso considerar, porém, que nem todo o Ether colocado em staking poderá, mesmo que seus detentores queiram, ser retirado imediatamente. Para preservar a segurança e a estabilidade da rede principal, as retiradas deverão ocorrer gradualmente, de acordo com um processo de duas fases e formação de uma fila para a saída.

Especialistas divergem sobre o impacto da Shanghai na cotação do Ether

Ouvido recentemente pelo site de finanças e investimentos Money Times, Vinícius Barzan, analista-chefe de criptoativos da Empiricus, estimou em cerca de 100 mil a quantidade de retiradas que podem ser efetuadas na rede principal de Ethereum por dia, o que exigiria mais de meio ano até que todo o Ether em staking pudesse ser retirado. Por isso, na opinião dele, os efeitos sobre a criptomoeda da atualização Shanghai devem ser modestos.

Além disso, é possível que haja mais segurança quanto à possibilidade de reaver os tokens depositados, o que dará a eles liquidez, convencendo investidores que haviam evitado o staking, até o momento, a fazer o procedimento.

Há, contudo, quem discorde. No começo do ano, Mads Eberhardt, analista do banco de investimentos dinamarquês Saxo Bank, afirmou que as recompensas, que poderão ser retiradas imediatamente com a implementação da atualização Shanghai, chegam a 1 milhão, o saque dos quais pode afetar consideravelmente a cotação do criptoativo.

Um fato interessante, que pode ter algum efeito sobre as decisões dos detentores de Ether, é que, segundo relatório recente do braço de pesquisas da exchange Binance, Binance Research, apenas 31% dos tokens em staking estão em situação de lucro, ou seja, valem, quando somados às recompensas a que seu depósito fez jus, mais do que valiam quando foram depositados. Isso se deve às perdas que o Ether e outras criptomoedas como o Bitcoin sofreram no ano passado.

Dos tokens em situação de lucro, o relatório informa que parte considerável foi depositada em fins de 2020, antes dos picos que a cotação da criptomoeda alcançou em 2021 e das quedas que aconteceram no final daquele ano e naquele que o sucedeu. Hoje, ela vale cerca de um terço do que chegou a valer em novembro de 2021, auge da valorização do mercado, que foi sucedida por um mercado em baixa, o inverno cripto.

Em dezembro de 2020, quando a cadeia Beacon começou a permitir a realização de staking, a cotação do Ether era cerca de metade da atual, o que significa que quem tivesse feito o depósito naquela época e fosse sacar hoje teria lucrado com a valorização da moeda digital e com as recompensas propriamente ditas, elas próprias pagas no ativo de valor aumentado.

O relatório da Binance Research concluiu ser possível que as pessoas que depositaram seus tokens logo que se tornou viável fazer staking em Ethereum sejam especialmente interessadas nesse recurso e não tenham pressa de sacar seus ativos.

Quanto às plataformas que fornecem staking líquido, elas podem passar por um período de inovação para que possam se manter atrativas para os detentores de Ether. Uma das vantagens que já oferecem, como mencionado anteriormente neste artigo, é a possibilidade de realização de staking com menos de 32 tokens, o que a rede Ethereum ainda não permite para Ether. Plataformas como SushiSwap e PancakeSwap permitem a negociação dos tokens produzidos pela realização do staking líquido.

Veja o preço do Ethereum hoje no CoinCodex.

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