Banco Central analisa interação entre ativos do Real Digital e DEXs como Uniswap, Sushiswap e Curve

O Real Digital, a moeda digital de banco central brasileira, que se encontra em fase de testes, será uma representação eletrônica da moeda oficial do Brasil.

Portanto, não será um criptoativo como o Bitcoin ou o Ether, os quais são considerados investimentos e não são regulamentados pelo Banco Central. O Real Digital é uma moeda alternativa, mas com o mesmo valor do dinheiro convencional.

O novo modelo contará com duas versões: uma para grandes empresas, como bancos, cooperativas e instituições financeiras, e outra para o público em geral, pessoas e empresas em transações financeiras de todos os valores.

Real digital será uma moeda digital de banco central (CBDC)


A moeda digital será emitida exclusivamente pelo Banco Central e será considerada um passivo da instituição. As empresas que possuem valores no Sistema de Transferência de Reservas poderão requisitar ao Banco Central a tokenização e a transformação deles em CBDC.

Durante o período de testes, a emissão do CBDC será feita diretamente no blockchain chamado de Hyperledger Besu Blockchain, que é um cliente de código aberto da rede Ethereum que foi desenvolvido para ser de fácil uso em aplicações públicas e privadas.

O objetivo é que uma instituição financeira possa solicitar ao Sistema de Transferência de Reservas a emissão da moeda digital de banco central e transferir a moeda digital para outra instituição, permitindo o fracionamento do lote.

Quando a instituição receptora não quiser mais a moeda digital de banco central, poderá solicitar a conversão de volta para dinheiro físico e o sistema queimará o equivalente em moeda digital.

Não será possível efetuar conversão do Real Digital em células, diferente do que ocorre com a moeda atual. Quem lidar com a versão digital do real receberá códigos gerados pelo BC, os quais indicarão os valores em questão.

Banco Central apresentou workshop sobre o real digital


No dia 10 de abril, segunda-feira, o Banco Central do Brasil realizou um workshop sobre o Real Digital no Auditório Octavio Gouvêa de Bulhões, no edifício de sua sede na capital federal.

Transmitido ao vivo pelo canal da instituição no YouTube, o evento teve como seu objetivo esclarecer as diretrizes do Real Digital. Incluindo a regulamentação da participação no projeto-piloto do Real Digital e expor modelos de negócio com a moeda digital do banco central brasileiro, que estará disponível ao público no próximo ano.

O evento contou com três painéis e uma mesa redonda com os representantes do Banco Central, da Secretaria do Tesouro Nacional e demais participantes do evento.

Cada painel foi seguido por perguntas (apresentadas presencialmente ou por e-mail) e respostas. O primeiro painel tratou das diretrizes e do projeto-piloto do Real Digital, o segundo abordou os modelos de negócios com a moeda e o terceiro discutiu os regulamentos do “Piloto RD”.

  • O primeiro painel contou com o chefe do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos do Banco Central, Rogério Lucca;
  • O segundo, com o coordenador do Departamento de Operações bancárias e de Sistema de Pagamentos, Wallace Horta, o chefe-adjunto do Departamento de Operações do Mercado Aberto, Marcus Sucupira, e o consultor do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro, Mardilson Queiroz, tratou de modelos de negócios com o Real Digital;
  • E o último painel, com o consultor do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos, Fabio Araujo, responsável por coordenar a iniciativa Real Digital.

Interações com exchanges descentralizadas não estão nos planos


Thiago Cesar, CEO da Transfero Swiss AG, fez uma pergunta ao Banco Central sobre a possibilidade de ativos tokenizados dentro do ambiente do Real Digital serem “espelhados” em exchanges descentralizadas DEX por meio de soluções sintéticas.

Em resposta, Fabio Araujo destacou que pontos como esse extrapolam o escopo da CBDC nacional e entram diretamente no terreno da regulamentação de ativos digitais, o Marco Legal das Criptomoedas (Lei 14.478/2022), embora o tema seja bastante discutido no BC.

Araujo ressaltou que o Banco Central convidou a CVM para participar dos testes do Real Digital e do grupo de trabalho sobre tokenização, e que todo o governo está debatendo como tratar os ativos digitais.

Ele também detalhou o funcionamento dos testes do Real Digital e afirmou que o principal interesse do Banco Central agora é testar a segurança do sistema, além de seu funcionamento e a manutenção da privacidade das operações.

Tudo seguindo a lei de sigilo bancário e outras regulamentações do país aplicáveis à moeda digital de banco central em desenvolvimento.

BC dá detalhes sobre os testes do Real Digital


Durante o workshop, o Banco Central explicou de forma mais detalhada os testes do Real Digital. Ele será tokenizado como um Título Público Federal.

Os testes avaliarão o fluxo automatizado em sua totalidade, incluindo a tokenização dos depósitos que as instituições efetuarem, a conversão deles na moeda digital e, depois, em stablecoins.

Além disso, serão avaliados a interação entre os tokens, o pagamento e a queima da stablecoin e, eventualmente, do Real Digital caso seja resgatado ou liquidado.

A proposta do Banco Central é que cada instituição participante atue como nó dentro da rede Hyperledger Besu.

Embora o Banco Central pretenda reproduzir nos testes de forma realista o ambiente financeiro nacional, que é composto de instituições de pagamentos, bancos e fintechs, a instituição reconhece que talvez tal objetivo não possa ser alcançado pela dificuldade de reproduzir nos testes a complexidade do ecossistema financeiro do país.

O BC realizará um Fórum para compartilhar o projeto-piloto do Real Digital com a participação de outra empresa, com a finalidade de apresentar resultados dos testes a mais participantes do mercado e promover interação.

Embora visto com bons olhos, o Real Digital deve demorar para entrar em funcionamento pleno


Para o Banco Central, a iniciativa é vista como salutar para o sistema monetário brasileiro, trazendo-lhe maior eficiência e segurança e permitindo incluir mais brasileiros nos benefícios do sistema financeiro.

Araujo explicou que o Banco Central tem a intenção de promover a descentralização, mas o sucesso desta depende da responsabilidade dos participantes e da criação de um arcabouço que permita aos reguladores do sistema financeiro intervir quando houver problemas, o que provavelmente seria impossível em um sistema completamente descentralizado.

Horta afirmou que está em aberto o desenvolvimento do Real Digital e que é longo o caminho que terá que percorrer, embora a iniciativa seja promissora. Ele lembrou que, no caso do sistema de pagamentos Pix, após seis anos de jornada, desde a sua idealização, ele conta com cerca de 800 instituições cadastradas.

Dan Stefanes, CEO da Blockchain One, elogiou a iniciativa do Real Digital, destacando a tendência global de uso da tecnologia blockchain e a substituição gradual de modelos com alto custo de operação por novos modelos financeiros baseados na descentralização. O sucesso do PIX, para o executivo, é um indicativo da relevância desse tipo de iniciativa.

Expectativa do BC é lançar a moeda no ano que vem


A iniciativa do Real Digital, na qual o Banco Central do Brasil tem trabalhado desde 2019, atualmente se encontra na fase de testes com o projeto-piloto do Real Digital e deve ser lançada para uso mais disseminado no ano que vem.

A criação do Real Digital tem como objetivo trazer mais segurança e eficiência ao sistema financeiro do país, além de promover a inclusão financeira.

A escolha da blockchain Hyperledger Besu para emissão da moeda digital no projeto-piloto pode ser um sinal de comprometimento do Banco Central em escolher uma tecnologia confiável e segura.

Para finalizar, vale destacar que a criação de uma moeda digital de banco central brasileira possivelmente terá impactos significativos na economia do país, e, com certeza, será muito interessante acompanhar seu desenvolvimento nos próximos anos.

Fica no ar dúvida sobre os efeitos que ela terá na inclusão financeira de mais brasileiros, muitos dos quais estão “desbancarizados” ou “sub-bancarizados”.

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