Bolsa de valores de Londres abrirá negociações de Bitcoin em 2023

Gabriel Gomes
| 6 min read

A cidade de Londres é considerada um dos principais e mais tradicionais centros financeiros do mundo. Ela é o lar de muitas instituições financeiras importantes, como bancos, seguradoras e bolsas de valores, como a Bolsa de Valores de Londres (London Stock Exchange).

Apesar de ser possível argumentar que suas origens remontam ao café Jonathan’s Coffee House, em que, em 1698, o corretor John Castaing começou a listar preços de commodities e ações.

A Bolsa de Valores de Londres moderna surgiu em 1801. Desde então, ela já esteve abrigada em locais como a Torre da Bolsa de Valores, que em 1990 foi alvo de um atentado do IRA, e seu atual endereço, no projeto urbanístico Paternoster Square, perto da Catedral de São Paulo.

Na região, também ficam os endereços londrinos de importantes bancos de investimento, como Goldman Sachs, Nomura Securities e Merrill. Um dos grandes marcos para os serviços financeiros de Londres, que afetou bastante o cenário que funciona a Bolsa de Valores de Londres, foi o chamado Big Bang.

O Big Bang foi uma súbita e drástica desregulamentação do setor financeiro, ocorrida na década de 80, durante a administração de Margaret Thatcher, colaborando para a expansão e para a modernização dele.

Bolsa de Valores de Londres faz parceria com exchange cripto


Em um passo digno de nota pelo testemunho que presta do processo de entrada no mainstream financeiro das criptomoedas, o LCH, grupo de câmaras de compensação pertencente ao London Exchange Stock Group, dono da London Stock Exchange, fez um anúncio no dia 13 de abril.

Trata-se de um acordo com a GFO-X, uma exchange para negociação de derivativos baseados em ativos digitais sediada no Reino Unido. A parceria é para o oferecimento de serviços financeiros relacionados ao Bitcoin.

Embora ainda dependam da obtenção de aprovação regulatória, os citados serviços deverão ficar disponíveis a partir do quarto trimestre deste ano. Tais serviços consistirão na compensação de contratos de futuros e de opções de Bitcoin negociados na GFO-X.

A tarefa da compensação ficará a cargo da LCH Digital Asset Clear, uma unidade do LCH criada para lidar com ativos digitais.

Frank Soussan, chefe da Digital Asset Clear, afirmou que é crescente a demanda por Bitcoin e por serviços relacionados a ele. Ademais, destacou que a criptomoeda tem tido melhor desempenho neste ano — e teve pela maior parte dos últimos dez anos — do que investimentos mais tradicionais.

Além disso, ele afirmou que a sua unidade está ansiosa para trabalhar com a GFO-X e outros atores do mercado na construção de um espaço regulado e dotado de liquidez para produtos financeiros ligados a criptomoedas. Com isso, contribuindo para que o público tenha acesso a produtos seguros e confiáveis.

Arnab Sen, que é co-fundador e CEO de GFO-X, por sua vez, afirmou que investidores institucionais exigem um ambiente seguro e regulamentado para que possam entrar no mercado de criptomoedas, o qual se encontra em rápida expansão.

Ele acrescentou que eventos recentes como os colapsos de empresas do setor cripto como FTX e Alameda Research puseram em relevo a importância, tanto para investidores quanto para os reguladores, da necessidade de espaços seguros.

Nestes espaços espera-se que grandes instituições possam fazer negócios de grande escala sem que os ativos de seus clientes sejam postos em risco.

A administração do atual primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, tem se mostrado favorável, de modo geral, aos ativos digitais e à expansão de seu uso.

Isso deve ajudar Londres a se manter como um dos mais importantes financeiros, apesar das mudanças que a tecnologia, inclusive a de blockchain, provavelmente trará ao setor financeiro.

O anúncio da parceria firmada entre LCH e GFO-X para o provimento ao público de serviços financeiros ligados ao Bitcoin foi feito em um momento de grande otimismo do mercado de criptomoedas. O Bitcoin recentemente ultrapassou o nível dos 30 mil dólares de cotação, acima do qual ele vem se mantendo até o momento. Artigo do site Coinspeaker comentando o acordo entre LCH e GFO-X lembrou que, desde o começo do ano, a cotação do Bitcoin subiu mais de 85% enquanto o índice S&P 500, um dois mais altos durante o mesmo período. Ao contrário do que muitos esperavam, Ether teve valorização expressiva depois da atualização Shapella: sua cotação venceu a barreira dos 2000 dólares de cotação e já chegou aos 2100 dólares.

Além do desempenho recente das criptomoedas de maior valorização de mercado, outro fator que vem chamando atenção é a aproximação do halving do Bitcoin, que pode ser um importante gatilho de tendências altistas.

O halving do Bitcoin ocorre a cada 210.000 blocos ou aproximadamente a cada quatro anos. Ele faz com que a recompensa pela mineração de novos blocos de Bitcoin seja reduzida pela metade. Isso significa que o número de Bitcoins gerados por bloco diminui em 50%, levando a uma redução no ritmo com que novos Bitcoins podem entrar em circulação. O objetivo do halving do Bitcoin é garantir que haja um suprimento limitado de Bitcoins, já que haverá apenas 21 milhões de Bitcoins em circulação.

O primeiro halving do Bitcoin ocorreu em 2012, quando a recompensa de mineração foi reduzida de 50 BTC para 25 BTC. O segundo halving ocorreu em 2016, reduzindo a recompensa de mineração para 12,5 BTC por bloco, e o terceiro halving ocorreu em maio de 2020, reduzindo a recompensa para 6,25 BTC por bloco. Espera-se que o próximo halving ocorra no ano de 2024, quando a recompensa será reduzida ainda mais para 3,125 BTC por bloco.

O halving do Bitcoin é um evento ansiosamente esperado por investidores e traders por, geralmente, levar a um aumento na cotação da criptomoeda devido à redução no ritmo do aumento de sua oferta. Isso foi observado no passado, pois os halvings de 2012 e 2016 levaram a aumentos significativos de preços. No entanto, é importante observar que o halving não garante um aumento de preço e as condições do mercado podem ser afetadas por diversos fatores.

Também é digno de nota que mais e mais investidores institucionais estejam demonstrando interesse em acrescentar o Bitcoin, criptomoeda de maior valorização de mercado, aos ativos de seus portfólios, entre outros motivos, pela possibilidade de que ele funcione como uma proteção contra a inflação.

Mais de 174 mil bitcoins (mais de 5,2 bilhão de dólares à cotação vigente quando este artigo estava sendo elaborado) já foram adquiridos por empresas com ações negociadas em bolsas de valores. Uma das mais conhecidas por comprarem bitcoins é a MicroStrategy Inc., uma empresa de software de análise e serviços na nuvem cujas ações são negociadas na NASDAQ, bolsa de valores de ações de empresas do setor tecnológico.

Nem todos, porém, concordam com a estratégia adotada pela MicroStrategy, que já é dona de quase 1 em cada 100 Bitcoins que poderão existir devido ao já citado teto do suprimento desse ativo. Hal Press, fundador e CEO de um fundo de investimento com foco em criptomoedas chamado North Rock Digital, comentou no Twitter que, independentemente do que se pense do Bitcoin, sequestrar uma empresa (ele se refere ao comportamento de Michael Saylor, presidente da empresa e entusiasta do Bitcoin) e mergulhá-la até o pescoço em uma estratégia de aquisição de um ativo que não faz nada pelo negócio-núcleo da empresa é sem sentido. Ele ressaltou que o mesmo seria verdade se o ativo escolhido tivesse sido o Ether.

Além disso, ele afirma que, cedo ou tarde, os bitcoins terão que ser vendidos, o que será ocasião para vendas a descoberto que mudarão carreiras. Embora ele conceda que estratégia de MicroStrategy possa vir a se provar lucrativa, é provável que, em retrospecto, sua “cômica estupidez” fique óbvia.