Campeão pelo Fluminense é alvo de críticas por ter indicado empresa de golpe com criptomoedas a jogadores – Prejuízo de quase 20 milhões de reais

Gabriel Gomes
| 7 min read

Poucos dias depois de ajudar o Fluminense a derrotar o arquirrival Flamengo e conquistar a Taça Guanabara, Willian Bigode vê-se envolvido em polêmica ligada a criptomoedas. 

Estes ativos vêm frequentando não apenas as manchetes da seção de Negócios e a da de Economia dos jornais, mas também as de Polícia, devido aos golpes e às fraudes praticados com elas ou com promessas de grandes rendimentos em investimentos com elas.

Reportagem revela que Bigode está sendo processado por ex-companheiros de Palmeiras

A Rede Globo revelou que Willian está sendo processado por dois outros futebolistas, Gustavo Scarpa e Mayke, que foram companheiros de elenco dele, quando atuavam no Palmeiras.

Os autores dos processos acusam Bigode de tê-los apresentados a um esquema de investimentos em criptomoedas da empresa Xland Holding que, na verdade, era um golpe cripto, o que fez com que eles perdessem milhões de reais.

Ao longo da semana passada, os processos contra Willian foram apresentados como tema da reportagem a ser exibida no dia 12 de março no Fantástico, programa jornalístico dominical da emissora.

Computados apenas os valores que investiram, Gustavo e Mayke alegam que a perda combinada deles foi de quase R$ 11 milhões de reais. Somando-se a isso os rendimentos que lhes foram prometidos, o total devido a eles é pouco inferior a R$ 20 milhões de reais. Eles requerem que os bens do jogador do Fluminense sejam bloqueados para penhora para que eles sejam ressarcidos de suas perdas.

Mayke e Scarpa alegam que, devido à relação de amizade que tinham com Willian Bigode, confiaram nele e investiram na empresa que foi indicada por ele, a Xland Holding. Mayke, aliás, era cliente da empresa de consultoria do jogador do Fluminense, a WLJC Consultoria, que presta serviços de planejamento financeiro.

Segundo Mayke, ele investiu R$ 4,5 milhões de reais no esquema oferecido pela Xland e deveria ter recebido rendimentos totalizando R$ 3,2 milhões de reais. Já Gustavo Scarpa, afirma ter investido R$ 6,3 milhões de reais e ter também a receber mais R$ 5,3 milhões de reais em rendimentos. Ambos alegam que tentam desde o final de 2022 receber os valores a que têm direito, mas não tiveram sucesso.

Willian também se diz vítima de golpe

Willian Bigode, porém, declara que não tem culpa e que também foi enganado pela Xland Holding. Em Nota de Esclarecimento que divulgaram no dia 10 de março através de seus advogados, Willian e sua empresa afirmaram que o jogador do Fluminense também foi vítima do golpe cripto.

Segundo a nota, Willian foi apresentado a Jean e Gabriel, sócios da Xland Holding, pelo pastor Marçal Siqueira, indivíduo de sua confiança. Depois de reuniões com os dois empreendedores, das quais participaram advogados, o atleta, que confiou na idoneidade da empresa, concluiu ser uma boa ideia investir no esquema com criptomoedas proposto por ela.

Apenas depois de ter investido seu próprio dinheiro, explica a citada nota, Willian comentou sobre o investimento feito através da Xland com Gustavo Scarpa, que procurou a WLJC para saber mais sobre o assunto. Mayke, por sua vez, era cliente da WLJC, que lhe prestava serviços de planejamento financeiro.

Willian e sua empresa salientam que a WLJC não é corretora e não tem poderes para investir o dinheiro de seus clientes, para os quais limita-se a fazer planejamento financeiro. Tanto Gustavo Scarpa, que, da WLJC, só recebeu informações, e Mayke, que era cliente dela, trataram diretamente com a Xland de seus investimentos com criptomoedas.

Segundo Willian, somados seus aportes e os rendimentos que deveria ter recebido, ele perdeu R$ 17 milhões de reais com o golpe. Em novembro do ano passado, o atleta requereu a devolução de seus fundos, o que ainda não obteve.

Empresa já foi indiciada por golpes e não tinha dinheiro em conta

Não se sabe quantas pessoas foram lesadas pela Xland. Ela ainda não se manifestou oficialmente. Segundo apuraram veículos de imprensa, a empresa parou, há meses, de honrar seus contratos e de repassar a clientes os rendimentos a que tinham direito.

Atendendo pedido de Mayke através de seus advogados, o juiz Christopher Alexander Roisin ordenou buscas nas contas da Xland, de seus sócios e da WLJC, e o bloqueio do valor de total de R$ 7,4 milhões de reais para ressarcimento do autor do processo.

Nas contas da Xland, porém, não foram encontrados fundos. Sócios da empresa tiveram aproximadamente R$ 70 mil reais bloqueados. A WLJC também teve os fundos em suas contas bancárias, que somavam R$ 3 mil reais, bloqueados pela decisão judicial.

Scarpa também conseguiu uma vitória judicial, mas ela foi temporária. Ele tinha obtido na Justiça o bloqueio das contas bancárias de Willian Bigode e a realização de buscas por mais bens do atleta que pudessem ser penhorados para ressarcimento das perdas sofridas.

O site esportivo Lance! afirmou que a busca por bens localizou veículos ligados ao centroavante do Fluminense, mas nenhum que estivesse em nome dele. Os valores em suas contas bloqueadas somavam, segundo a mesma fonte, R$ 1.856.936,51.

O bloqueio das contas de Willian, no entanto, foi suspenso pelo juiz Danilo Fadel de Castro. Em decisão publicada no dia 10 de março, o magistrado afirmou ser necessário, antes que sejam tomadas decisões como o bloqueio e a penhora de bens de acusados, que sejam apresentadas e analisadas em profundidade provas da culpa e que sejam cuidadosamente delimitadas as responsabilidades dos envolvidos. Continuava, no entanto, em vigor, durante a elaboração desse artigo, o bloqueio para penhora dos bens da WLJC devido ao processo de Mayke. 

Em reportagem exibida no fantástico este domingo, um dos donos da Xland afirmou que a razão dos problemas é que a empresa realizava suas operações através da FTX, grande corretora de criptomoedas que faliu ano passado. Além disso, declarou que a empresa está se movimentando para garantir que nenhum cliente saia no prejuízo.

Jogadores são taxados de “ingênuos” por acreditarem em promessas irreais

A revelação dos processos envolvendo os famosos futebolistas causaram polêmicas. Houve quem os criticasse por ingenuidade e ganância. Um exemplo é o colunista Luís Rosa, que, no Fim de Papo, do UOL Play, disse que os jogadores perderam, no total, mais de R$ 30 milhões de reais por acreditarem em um esquema que prometia rendimentos irreais, de entre 2% e 3% ao mês. Até a filha dele, disse Luís Rosa, sabe que tal coisa não pode ser garantida. Algo assim, arrematou o colunista, não poderia dar certo.

Também no Fim de Papo, outra colunista, Milly Lacombe, criticou os jogadores, que, na opinião dela, tentaram ganhar dinheiro fácil. Segundo ela, o que fizeram não é investimento, algo que produz progresso e gera empregos, mas aplicação financeira, ou seja, tentar ganhar dinheiro com dinheiro sem produzir nada, o que, afirmou, é um grande mal para o mundo e, em especial, para o Brasil, que sofre com juros estratosféricos.

O embate com os ex-colegas de Palmeiras fez com que Willian tivesse que prestar depoimento à Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, pela qual foi intimado. Para isso, compareceu ao 7° Distrito Policial da Lapa, localizado na Zona Oeste da capital fluminense.

No depoimento que deu à polícia, Willian afirmou que falou a Gustavo Scarpa e Mayke sobre os investimentos que havia feito e recomendou a eles a empresa através da qual eles tinham sido realizados, a Xland, que prometia para os investidores rendimentos de entre 3,5% e 5% ao mês.

O atleta também afirmou à polícia que nada havia ganhado com a indicação que fez aos ex-colegas e que como eles foi, também, vítima da empresa, com a qual perdeu R$17,5 milhões de reais.

Gustavo Scarpa atualmente está no futebol inglês. O ex-palmeirense, que, recentemente, disse em entrevista ao UOL, que ainda recebe mensagens de carinho dos torcedores do Verdão, faz parte do elenco do Nottingham Forest.

Mayke, que começou a carreira profissional no Cruzeiro e chegou em 2017 ao Palmeiras, com o qual conquistou vários títulos importantes, inclusive a Taça Libertadores da América, continua no clube paulista.

A reportagem completa do fantástico pode ser conferida aqui.

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