Gráfico de cotação de Bitcoin apresenta padrão que foi visto dois meses antes de sua alta histórica

Gabriel Gomes
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Cruz de ouro (golden cross, em inglês) é um termo de análise técnica que se refere ao cruzamento da média de curto prazo da cotação de um ativo que esteja na ascendente e a média de longo prazo dela. Ela costuma ser considerada um sinal de que um rali de grandes proporções está próximo. Isso aconteceu em 6 de fevereiro no gráfico de cotação do Bitcoin em dólar.

Última vez que o gráfico do Bitcoin teve uma golden cross o ativo subiu bastante

Antes disso, a última cruz de ouro da cotação em dólar do Bitcoin tinha surgido em setembro do ano retrasado. Dois meses antes da criptomoeda atingir sua máxima histórica, no meio de novembro daquele ano. 

Não é difícil perceber porque a situação, e o gráfico de cotação do Bitcoin, estão causando bastante interesse entre os investidores. Isso porque, está despertando as esperanças deles de que o cripto inverno, fase de mercado de criptomoedas em baixa, esteja perto do fim. Cedendo assim,  lugar a uma recuperação intensa e prolongada. Pelo menos no que se refere ao criptoativo mais conhecido de todos. Em 2022, o Bitcoin perdeu quase dois terços de seu valor.

Gráfico do Bitcoin em 2022

Principais pontos de alta do Bitcoin em 2023

Preparamos uma lista com os principais picos de preço do Bitcoin em 2023, segundo dados do CoinMarketCap: 

  • Maior preço do ano: US$ 44.202,18 no dia 08 de dezembro. Nos dias seguintes, o BTC permaneceu com o preço próximo dos US$ 44 mil, oscilando levemente
  • O menor preço do ano: US$ 20.195,23 em 10 de março. Nos dias e meses seguintes, o BTC oscilou para mais ou para menos, mantendo-se na faixa dos US$ 25 mil. 
  • Crescimento concentrado: O crescimento maior do BTC aconteceu depois de outubro. Com destaque especial para dezembro. 
  • Para 2024: os especialistas esperam que o Bitoin cresça ainda mais. Impulsionando o mercado como um todo 

Também há razões para previsões pessimistas

Apesar das esperanças, há algumas nuvens nublando o céu da recuperação do Bitcoin. A primeira vem da própria análise técnica. Embora no gráfico dos valores diários tenha surgido uma cruz de ouro, o gráfico de valores semanais está próximo de formar o fenômeno oposto. A cruz da morte (death cross, em inglês), quando as médias de cotação estão na descendente e cruzam com a média de longo prazo.

Enquanto a cruz de ouro, costuma ser considerada um sinal de que há condições para um rali. Até mesmo convence investidores interessados em se beneficiar da provável valorização de começar a comprar. Empurrando para cima o preço do ativo. Uma cruz da morte é geralmente vista como um prenúncio de desvalorização e sugere cautela. Com isso, pode-se levar ao adiamento da implementação de planos de compra, empurrando para baixo a cotação. Dessa forma, há movimento no gráfico de cotação do Bitcoin. 

Sobre as previsões do Bitcoin 

Prever acertadamente qual dos dois fenômenos prevalecerá no caso do Bitcoin poderá render muito dinheiro.

Em fins de janeiro, quando a cruz de ouro já estava se esboçando no gráfico de cotação do Bitcoin. O investidor Serge d’Adesky, presidente da Northstar Strategic Investments, Inc, por exemplo, escreveu um artigo para o site de investimentos Seeking Alpha. Nele , ele analisa a atual situação como uma armadilha para os bulls (touros, apelido dos investidores que acreditam que determinado ativo, mercado, etc. vai se valorizar). Ele afirma que aos investirem cedo demais, motivados, por exemplo, por FOMO, podem alterar a cotação do Bitcoin. FOMO pode ser entendida como fear of missing out, o que pode ser traduzido como medo de perder/deixar passar uma certa oportunidade no mercado. 

Apesar de suas dúvidas quanto ao Bitcoin no curto prazo, D’Adesky reconhece que o gráfico parece indicar potencial para grande valorização da criptomoeda. Segundo ele, até meados do verão (do Hemisfério Norte, inverno no Hemisfério Sul) de 2024, a cotação dela pode atingir os US$ 102 mil dólares. No momento em que este artigo estava sendo redigido, o ativo estava sendo negociado a pouco mais de US$ 23 mil dólares.

Inflação segue sendo uma âncora que impede a disparada do bitcoin

Outra questão que pode deter o processo de recuperação do valor do Bitcoin durante algum tempo é o comportamento do Federal Reserve, o banco central americano, que também é conhecido como Fed.

No Twitter, Michaël van de Poppe, colaborador do site Cointelegraph, especializado na cobertura de criptoativos, postou em 6 de fevereiro que o grande fator a observar na semana seria o discurso do presidente do banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, marcado para a tarde do dia seguinte. Ele disse acreditar que, após o evento, a cotação do Bitcoin poderia passar por uma correção e depois retomar a trajetória de recuperação que marcou janeiro, mês em que o ativo se valorizou quase 40%.

O discurso de Powell talvez jogue, no curto prazo, um pouco de água fria nas expectativas dos investidores. A autoridade monetária afirmou que os dados de emprego mais recentes, que foram publicados na sexta-feira, indicavam um mercado de trabalho mais forte do que o esperado, o que significa que a economia está mais aquecida do que se pensava e, consequentemente, uma política monetária restritiva para combater a inflação será necessária por mais tempo.

Oscilações de juros nos Estados Unidos 

Dois dias antes da publicação dos dados do mercado de trabalho, o Fed já havia aumentado mais uma vez a taxa de juros, desta vez, em 0,25 ponto percentual, alcançando 4,75% anuais, o valor mais elevado em 15 anos. Em março de 2022, o banco central americano começou a apertar a política monetária em resposta à inflação que havia subido ao nível mais alto desde o começo da década de 80.

Entre as razões apontadas para o aumento da inflação, estão as políticas monetária e fiscal frouxas usadas para responder à recessão causada pela pandemia, os abalos na cadeia produtiva que esta causou e a guerra entre Ucrânia e Rússia.

A postura agressiva do Fed na elevação dos juros para conter a inflação, o mesmo remédio aplicado ao problema nos anos 80, quando a instituição era liderada por Paul Volcker, foi apontada como uma das causas do criptoinverno.

Além disso, não é só o mercado dos EUA que sofrem com a questão dos juros altos, afinal, no Brasil e na Europa, outros dois grandes mercados para as criptomoedas, as taxas de juros recordes também freiam o investimento em ativos de risco mais elevado, principalmente em criptomoedas.

Mesmo em cenário de juros altos há quem acredite na alta do Bitcoin a curto prazo

Na opinião que Nauman Sheikh, que chefia a tesouraria de Wave Financial, empresa que gerencia criptoativos, o mercado de criptomoedas e outros ativos de risco, concluiu cedo demais que o Fed reverteria o curso, o que ajudou a elevar o preço do Bitcoin e algumas outras moedas digitais.

Contudo, é digno de nota que o Bitcoin tenha obtido suas altas de janeiro, quando, repetimos, valorizou-se quase 40%, mesmo em face de manifestações de membros do Fed que falavam na possibilidade de novos aumentos da taxa de juros para conter a inflação. Moedas consideradas de risco ainda maior que ele, como tokens pertencentes a jogos ou relacionados à inteligência artificial, também obtiveram grandes valorizações no período.

O comportamento do mercado pode indicar que os investidores não acreditam que o Fed vá muito mais longe no aperto monetário infligido à economia. Por exemplo, o investidor James Choi comentou no Twitter antes do anúncio da nova taxa de juros que esperava uma elevação dela em 0,25 ponto percentual (como de fato aconteceu), já usada pelo mercado em suas estimativas, e afirmou acreditar que, se os investidores realmente levassem a sério a determinação do banco central de persistir por muito mais tempo em elevar os juros, o índice acionário S&P 500 não estaria tão alto.

Para Choi, em vez de olhar para o passado, os investidores tentam se antecipar ao futuro e, de modo geral, eles acreditam que, à altura de março, o banco central americano dará uma pausa nos aumentos da taxa de juros. Por isso, estão tentando se posicionar para aproveitar a alta que deverá acontecer nos preços de ativos como o Bitcoin.

Conclusão

Como quer que seja, o Bitcoin fechou o esperado dia do discurso de Powell em alta de pouco mais de 1,10%. Se isso significa que sua escalada continuará ou se ela se reverterá à medida que o mercado se convence da seriedade da intenção do Fed de continuar no rumo dos juros altos, é algo sobre o qual só se pode especular – e muitos investidores estão fazendo isso agora. 

Para os bulls do Bitcoin, a aposta é que a cruz de ouro trará um resultado áureo e, como sumarizou James Choi, referindo-se aos discursos duros de autoridades monetárias americanas, “a barking dog never bites” (o que se pode traduzir como “cão que ladra não morde”).

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