Mineração de Bitcoins ajudou a salvar o parque mais antigo da África

Gabriel Gomes
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Não é raro que o Bitcoin seja criticado pela enorme quantidade de energia que sua mineração exige. Estima-se que ela consuma mais de 100 TWh (3,6×1017 Joule) por ano. Por isso, surpreende que a criptomoeda mais conhecida possa, de vez em quando, ser o mocinho de uma história relativa ao Meio Ambiente.

Parque Nacional do Congo passa por dificuldades financeiras

O Parque Nacional Virunga é o parque protegido mais antigo do continente africano. Desde 1979, a UNESCO lista-o como Patrimônio da Humanidade devido à enorme diversidade de habitats e biodiversidade presentes.

Localizado na República Democrática do Congo, o Parque Nacional Virunga foi duramente atingido pela queda brutal no afluxo de turistas devido à pandemia causada pelo COVID-19. Eles eram responsáveis por cerca de 40% dos fundos do local, que possui atrações como cachoeiras, vulcões ativos e gorilas.

Mesmo antes da pandemia, problemas locais, como surtos de Ebola e a atuação de grupos armados, causaram problemas ao funcionamento da instituição de preservação da vida selvagem.

Mineração de Bitcoin com energia limpa tem sido solução

Contudo, de acordo com artigo de autoria do jornalista Adam Popescu publicou no MIT Technology Review, publicação especializada em tecnologia ligada ao prestigioso Instituto Tecnológico de Massachusetts, o parque está se beneficiando da mineração de Bitcoins.

Para esta atividade está fazendo uso da energia limpa produzida por uma das três usinas hidrelétricas localizadas no local, que já geravam eletricidade para cidades nas proximidades. Nos períodos de maior valorização do Bitcoin em 2021, o Parque chegou a obter mais de US$ 150 mil dólares mensais, o que quase cobre a perda de renda perdida sofrida por ele devido à redução do número de turistas que o frequentam.

A experiência, até aqui um sucesso, tem cerca de três anos. Tudo começou com uma reunião, em fins de 2019, entre Sébastien Gouspillou, que ficou sabendo das dificuldades atravessadas pelo parque, e o diretor deste, Emmanuel De Merode, um antropologista pertencente à nobreza belga.

Gouspillou é o CEO da Big Block Green Services Mining, empresa que desenvolve iniciativas de mineração de Bitcoin que façam uso de excedentes de energia oriundos de fontes sustentáveis com oportunidades de mineração de Bitcoin. A operação começou a ser montada em princípios de 2020 e minerou as suas primeiras moedas em setembro daquele ano.

Em uma videochamada com o site Cointelegraph, que cobre o mundo das criptomoedas, Gouspillou disse que a mineração de criptomoedas salvou da falência o Parque Nacional Virunga. O governo do Congo responde por apenas 1% das despesas da área, e os conflitos locais continuam a dificultar a atração de turistas.

Aliás, a violência local, que já causou a morte de mais de 200 guardas do Parque em cerca de 25 anos, é uma das razões por trás de um arranjo relacionado à segurança dos ativos produzidos pela mineração.

A equipe financeira da instituição tem controle sobre a carteira dela. Assim, evita-se o risco de que, se algo acontecer a De Merode as chaves de acesso aos Bitcoins sejam perdidas, uma vez que ele já foi atingido por balas duas vezes em uma viagem a Goma, capital da Província de Quivu do Norte e cidade mais próxima do Parque Nacional de Virunga, em 2014.

Com o sucesso obtido no Congo, Gouspillou espera ser capaz de expandir suas atividades por mais outras áreas da África Subsaariana. Por exemplo, ele participou de uma delegação que esteve na República Centro-Africana, a qual, segundo Cointelegraph, foi, depois de El Salvador, o segundo país a adotar o Bitcoin como moeda de curso forçado.

Segundo Magdalena Gronowska, especialista em mineração que costuma colaborar com o Cointelegraph, explicou, a atividade pode ajudar a viabilizar economicamente áreas que contam com excesso de energia.

Com o passar do tempo e a depender das necessidades da comunidade circundante, ela pode ser reduzida ou mesmo eliminada, mas deixando atrás de si o legado da construção de importantes peças de infraestrutura.

Emmanuel De Merode explicou ao Cointelegraph que, embora o mercado em baixa tenha ferido e até fechado alguns mineradores de Bitcoin, a situação da instituição que ele dirige é diferente da deles porque não se trata de especular com o valor do ativo, mas simplesmente de usar a energia excedente disponível, que, de outra forma, não teria valor nenhum, para obter fundos.

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