Moeda comum entre Brasil e Argentina – Por que não Bitcoin?

| 7 min read
Imagem: Weyo/Adobe

Os governos do Brasil e da Argentina estudam a criação de uma moeda comum entre os dois países, foi revelado durante encontro do presidente Lula com o argentino Alberto Fernández. 

Não se trata de uma moeda fiduciária que substituiria as duas moedas nacionais, real e peso argentino, mas uma moeda digital que será usada prioritariamente em transações comerciais. A ideia é reduzir a vulnerabilidade externa. Em carta conjunta, os dois presidentes afirmam:

“Decidimos avançar nas discussões sobre uma moeda sul-americana comum, que possa ser usada tanto para os fluxos financeiros como comerciais, reduzindo os custos operacionais e nossa vulnerabilidade externa.”

O dólar americano foi adotado como moeda de reserva global em 1944 e o impacto da cotação nas economias globais é um tema discutido há muito tempo.

O ministro da Economia Fernando Haddad já sugeriu, em artigo publicado em abril de 2022 no jornal Folha de S. Paulo, a criação de uma moeda comum não só para Brasil e Argentina como para toda a América do Sul.

No artigo, assinado em coautoria com o economista Gabriel Galípolo, uma moeda comum sul-americana protegeria a soberania dos países, em caso sanções internacionais, a exemplo dos Estados Unidos.

Sur pode impulsionar o comércio regional

Há a sugestão de chamar a nova moeda de “sur” (que significa “sul”). A expectativas é que ela “poderia impulsionar o comércio regional e reduzir a dependência do USD”.

Haddad explicou que a nova moeda entre Brasil e Argentina não será o fim do Real Digital, projeto em desenvolvimento pelo Banco Central desde 2017.

Caso o projeto avance, o Brasil passaria a ter duas moedas digitais oficiais: o Real Digital e uma nova moeda digital entre o Brasil e Argentina, proposta que vem sendo defendida pelo presidente Lula e pelo presidente argentino Alberto Fernández.

No fim de semana, o Financial Times publicou uma entrevista com o ministro da economia da Argentina, Sergio Massa, na qual explica que a moeda proposta “a princípio, seria executada em paralelo com o real brasileiro e o peso argentino”.

Ao FT, Sergio Massa disse:

“Haverá … uma decisão de começar a estudar os parâmetros necessários para uma moeda comum, que inclui tudo, desde questões fiscais até o tamanho da economia e o papel dos bancos centrais.”

O plano foi confirmado em um artigo publicado no jornal Perfil escrito conjuntamente por Alberto Fernández e Luiz Inácio Lula da Silva, os respectivos presidentes da Argentina e do Brasil.

No artigo assinado a quatro mãos, os presidentes revelam:

“Pretendemos superar as barreiras às nossas exchanges, simplificar e modernizar as regras e incentivar o uso de moedas locais. Também decidimos avançar com as discussões sobre uma moeda sul-americana comum que possa ser utilizada tanto para os fluxos financeiros quanto comerciais, reduzindo os custos operacionais e nossa vulnerabilidade externa.”

SUR não pode será uma moeda, mas sim uma “unidade de conta”

Para o professor Luiz Gustavo Baptista, fundador da DattaBizz Consultoria, o plano entre Brasil e Argentina não é tecnicamente o de ter uma moeda em comum, mas sim uma unidade de conta. Isso porque o SUR não será transacionado nos mercados. Baptista explica:

“Tecnicamente falando, e até onde sabemos desse projeto, será algo similar ao que o Brasil teve no período transitório antes da implantação do real, com a chamada URV – uma unidade de valor que nunca circulou.”

Para o professor, ainda que as informações sejam incipientes, está claro que não haverá transação com a SUR, que será convertida pelos bancos centrais a cada operação.

Por que não Bitcoin?

Para usuários do mercado cripto, parece uma solução óbvia para os governos brasileiro e argentino o uso da tecnologia blockchain e a eliminação do fiat.

Mas por que não pular todo o processo de criação da moeda e adotar Bitcoin (BTC) como moeda comum entre os dois países?

O CEO da Coinbase, Brian Armstrong, sugeriu no Twitter, que as equipes econômicas dos dois países deveriam considerar “mudar para Bitcoin”, acrescentando que “provavelmente seria a aposta certa a longo prazo”.

No Twitter, houve apoio a postagem de Armstrong. Proponentes afirmaram que desenvolvimentos como a Lightning Network poderiam ajudar com as preocupações da rede.

Mas há também quem tema pela “volatilidade” do BTC. Em todo caso, há muitas evidências de que a adoção de criptomoedas está em ascensão tanto no Brasil quanto na Argentina, com redução no uso de fiats.

Volatilidade de Bitcoin é impeditiva

O problema em adotar o BTC como moeda comum entre Brasil e Argentina é a volatilidade. Basta observar o desempenho da maior criptomoeda em 2022, quando chegou a perder 70% do valor desde o preço máximo de novembro de 2021.

Para analistas, potencial de enriquecimento de pessoas comuns não pode ser tido como ponto forte para governos e instituições.

Há muitas evidências de que a adoção de criptomoedas está em ascensão tanto no Brasil quanto na Argentina, com redução acentuada do uso de fiats.

Com a hiperinflação a derrubar o peso argentino, com uma taxa de mais de 90% no ano passado, muitos cidadãos daquele país estão se voltando para alternativas cripto.

A compra de stablecoins está aumentando, assim como o investimento cripto. Um número crescente de argentinos opta por trabalhar para empresas que os pagam em criptomoedas.

Já a taxa de inflação brasileira atingiu um recorde de pouco menos de 10% no final de junho do ano.

As taxas de inflação durante os últimos cinco anos no Brasil e na Argentina. (Fonte: Trading Economics)

No Brasil, vários governos locais agora permitem o pagamento de impostos em criptomoeda, enquanto o governo central recentemente autorizou o uso de cripto como ferramenta de pagamento.

O ministro da economia da Argentina, Sergio Massa, explicou ao Financial Times que o projeto de integração monetária começaria “como um estudo dos mecanismos de integração comercial”.

Mas ele indicou que outras nações da América Latina poderiam ser eventualmente trazidas a bordo ou lançar projetos similares por conta própria.

Ano eleitoral na Argentina pode influenciar planos de moeda única

Para entender as chances da moeda comum entre os dois países da AL derivar de Bitcoin é preciso lembrar que este é ano eleitoral na Argentina. Um dos candidatos à presidência, o economista Javier Milei, é um entusiasta de Bitcoin.

Milei é uma figura de opiniões polêmicas, apoiador do ex-presidente de extrema-direita brasileiro Jair Bolsonaro e lidera as pesquisas de intenção de votos. As eleições argentinas acontecem em outubro.

Já do lado brasileiro da fronteira, o ministro da Economia Fernando Haddad explicou que a nova moeda entre as nações não será o fim do Real Digital, projeto em desenvolvimento pelo Banco Central desde 2017.

Caso o projeto avance, o Brasil passaria a ter duas moedas digitais oficiais: o Real Digital e uma nova moeda digital entre o Brasil e Argentina, proposta que vem sendo defendida pelo presidente Lula e pelo presidente argentino Alberto Fernández.

Leia mais:

O Bitcoin entrou em seu próximo ciclo de mercado em alta? Este analista acredita que isso é possível

Melhores sites de apostas cripto – Como e onde apostar com criptomoedas

FTX US prestes a reabrir como bolsa cripto? Novo CEO John Ray se diz aberto à ideia

 

---------------------