O que são NFTs dinâmicos e como eles podem mudar a indústria?

Augusto Medeiros
| 14 min read

Se para muitas pessoas, os Tokens Não Fungíveis (NFTs) ainda são uma novidade, os NFTs Dinâmicos são ainda mais desconhecidos. 

A tecnologia tem pressa, mas o Cryptonews conversou com dois especialistas e traz todos os detalhes sobre os NFTs Dinâmicos, que podem ser programados para sofrerem modificações. Você vai entender tudo a seguir. 

LaMelo Ball – a cor muda de acordo com o desempenho do jogador de basquete profissional (imagem internet)

A diferença entre Criptomoeda e NFT

Quando falamos sobre os ativos digitais desenvolvidos na tecnologia blockchain, logo pensamos em criptomoedas, portanto, essa pode ser uma boa referência para chegarmos ao entendimento do que são os NFTs dinâmicos, ou vivos.

A criptomoeda é uma moeda que tem seu valor no mercado digital. Assim como o ouro, ela também pode ser vista como uma reserva de valor, ou seja, uma garantia de valorização desse ativo para o seu proprietário. 

Temos então as mais conhecidas, Bitcoin e Ethereum, cada uma com sua plataforma de blockchain, a tecnologia onde são desenvolvidos esses ativos digitais.

Nessas blockchains, são programadas as criptografias, em códigos, que definem a criação das moedas, com transparência e segurança, pois as moedas criptografadas não podem ser negociadas por quem não possui os códigos.

Hora de encaixar as NFTs nessa história. É que elas, assim como as moedas, também são desenvolvidas nas blockchains. 

Historicamente, a primeira blockchain foi criada para o desenvolvimento do Bitcoin, em 2008, mas com o tempo ganhou novas funcionalidades que estão revolucionando o mercado, como é o caso da NFTs, como explica o diretor de Estratégia Global Crypto, da 11:FS, Maurício Magaldi:

“NFT é a sigla em Inglês para Non-Fungible Token, um padrão de smart contracts (os programas de computador que rodam sobre as blockchains) e que determina a natureza dos tokens como únicos e indivisíveis. Um NFT funciona como um item específico e pode representar diversos tipos de ativos, sejam eles nativamente digitais, ou do ‘mundo real’, definiu Magaldi.”

Não sabe o que é token? Fique sabendo: 

Os tokens são códigos digitais criados dentro da tecnologia blockchain (que você já viu) com uma finalidade específica. E sempre com um valor agregado, seja para tomada de decisões ou para realizar transações financeiras, como compra e venda.

E se quiser conhecer mais definições desse mundo cripto, acesse esse link para o Dicionário Cripto da Cryptonews.

De acordo com Maurício, dependendo do tipo de ativo que um NFT representa, ele pode ter um valor monetário correspondente bastante alto, como no caso dos colecionáveis de primeira linha, os blue-chips, mas também podem representar ativos como frações de propriedades imobiliárias e outros colecionáveis físicos. 

Seu valor pode ser denominado em cripto, em moeda tradicional, ou ambos, e a liquidez depende do marketplace em que o NFT é negociado.

Então, já temos aqui um verbo do futuro, que tem se tornado muito comum, tokenizar. E por que é interessante tokenizar bens físicos? O estrategista de blockchain explica que é uma forma de democratizar a acessibilidade a alguns tipos de investimento:

“Alguns ativos ‘reais’ têm ponto de entrada muito alto, o que limita o acesso de investidores de ticket menor. A tokenização permite esses ativos serem negociados de maneira fracionada, reduzindo o ponto de entrada e facilitando o acesso de novos investidores,” disse Magaldi.

Ele acredita, ainda, que ativos com baixa liquidez podem ser negociados mais livremente, o que aumenta sua liquidez, gerando mais riqueza.

Por que é interessante tokenizar bens físicos?

O estrategista explica que, uma vez “on-chain”, é possível programar o comportamento do ativo, de modo que ele “reaja” a condições de mercado e a variações de outros ativos. 

Podem ser usados como garantia em operações mais estruturadas e sua gestão e liquidação completamente automatizada, para uma operação com menor custo e risco operacional e muito mais transparente.

O futuro dos NFTs Dinâmicos (dNFT)

Os dNFTs são uma evolução no padrão dos NFTs em que o registro acomoda um conjunto de metadados que pode ser alterado por diversos fatores, criando um histórico de variações daqueles metadados ao longo do tempo, sem mudar as características originais do NFT.

OG:Crystals – dNFT se transforma com as informações da carteira do colecionador (img. internet)

Maurício cita alguns casos em que os dNFTs podem trazer benefícios para o mercado. 

Imóveis: Um caso de uso bastante citado nas pesquisas sobre dNFT são registros imobiliários, onde os metadados armazenariam informações sobre o histórico de manutenção do imóvel, enquanto a posse do dNFT corresponde ao proprietário ou ao inquilino do imóvel.

Games: Um outro caso de uso é ligado ao mundo dos games, onde o dNFT representa o personagem que o jogador controla e os metadados dão conta de parâmetros como experiência, nível de evolução, classe, etc.

Gestão de dados: Também vai ser possível revelar, gradualmente, alguns desses metadados, a depender de condições em que o dNFT é emitido, onde ele é emitido e conforme ele troca de mãos. São diversos usos possíveis.

Maurício enxerga um futuro promissor para as dNFTs, a depender da privacidade de dados:

“Não sou muito afeito a futurologia, mas creio que o sucesso desse padrão deve depender, em parte, da capacidade das blockchains públicas trazerem mais privacidade para os dados on-chain, e assim ganharem uso em escala nas aplicações corporativas, que é onde a utilização de dados padronizados pode realmente gerar eficiências que outras arquiteturas não conseguem”, argumentou Magaldi.

Não sabe o que é blockchain pública? Fique sabendo:

É a blockchain que qualquer pessoa pode entrar, não há controle de órgãos nem de empresas. Já nas privadas, as empresas controlam quem pode ou não participar. Ambas são descentralizadas, sem controle regulador.

Oportunidades para dNFTs no mercado

A advogada, Caroline Nunes, especialista em Propriedade Intelectual e mestra em Direito de Entretenimento pela University of Southern California, enxergou uma oportunidade no mercado por meio do uso das NFTs Dinâmicas:

Caroline dando palestra no Inovabra – Ambiente de Inovação Bradesco/ Foto: Eduardo Moraes

“Em 2020, eu tinha acabado o mestrado na Califórnia de Propriedade Intelectual e Direito de Entretenimento. Eu tive a oportunidade lá de aprofundar um pouquinho na tecnologia blockchain, eu já tinha tido contato com blockchain desde 2018, mas eu consegui me aprofundar na parte mais ligada à infraestrutura”, disse a advogada.

Carolina é fundadora da InspireIP, plataforma de propriedades intelectuais, criada
para facilitar o registro de marcas, direitos autorais e patentes no Brasil usando a tecnologia Blockchain. 

Ela, também, é fundadora da Emana, holding focada no desenvolvimento de soluções tecnológicas utilizando blockchain. 

“E aí, quando eu voltei para o Brasil, eu vi que a parte de propriedade intelectual no Brasil ela era muito carente de inovação, ainda era muito burocrática. E aí, o blockchain se encaixa, perfeitamente, na área de propriedade intelectual, complementou.

Carolina começou registrando as propriedades intelectuais, manualmente. Ela fazia uma transação de uma carteira de Bitcoin para uma outra carteira de Bitcoin, que ela tinha. Dentro do OP Return, gravava a hash do arquivo e o SHA-256.

Não sabe o que é OP Return? Fique sabendo:

OP RETURN é uma maneira de obter dados arbitrários no blockchain com menos carga para a rede.

Em seguida ela automatizou o processo contratando um time de tecnologia para fazê-lo com base na rede da Ethereum. Depois, eles mudaram para a Polygon.

“E aí, no meio de 2021, com a equipe já grande, a gente lançou uma plataforma de NFT e foi bem no começo de toda a questão de de NFT, a gente tava na verdade no meio da hype (moda) e aí, como a gente já tinha começado a construir a plataforma de NFT para propriedade intelectual, aí a gente puxou para parte de entretenimento”, falou Nunes.

A plataforma dela realizou o primeiro leilão de NFT do Brasil e ele foi feito, completamente, em blockchain. Foi possível acompanhar todos os lances que foram dados, as carteiras que deram lance. Então, foi um leilão totalmente descentralizado.

Eles, também, fizeram a venda dos NFTs do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), uma ação de NFT da PwC, uma ação de NFT do Spotify na América Latina. Foram duas ações do SBT e, a mais recente, foi a do SBTverso, com a introdução do NFT dentro do metaverso criado pelo SBT.

Galeria Metaverso SBT, com NFT – imagem internet

“Dentro da tecnologia blockchain, NFT é a parte que mais me atrai, não pela hype dele. Eu não gosto muito de NFT colecionável, mas pelo potencial da tecnologia em si. NFT é um token, extremamente, flexível, então, é uma coisa que é um token que você consegue programar de uma forma muito mais flexível, do que um token fungível, por exemplo,” disse Caroline. 

Ela destaca que, com o NFT, consegue-se armazenar mais informações e ele tem se mostrado bastante útil para algumas iniciativas, como para o mercado financeiro, ou uma infraestrutura para o NFT representar um ativo financeiro específico e, ainda, representar um ativo ambiental, usando, sempre o NFT como meio e não como fim.

Um exemplo de ativo ambiental é a criação da Unidade de Crédito de Sustentabilidade (UCS), pela BMV. A UCS é uma unidade de monetização obtida a partir do Inventário, Verificação e Valoração dos estoques de biomassa florestal, e sua correlação com o carbono equivalente estocado, a riqueza da biodiversidade, o potencial hídrico e a vocação econômica, associadas a um plano de negócios para o desenvolvimento sustentável.

A tokenização entra como forma de quebrar barreiras territoriais com o uso das UCSs. Ao utilizar tokens ERC-20 (tokens fungíveis) para representar UCS e tokens não fungíveis (NFTs) para representar certificados de projetos de compensação, a Mundi facilita o rastreamento e verificação de UCSs e projetos de compensação.

Ao tokenizar as UCSs, a Mundi oferece uma solução transparente, responsável e econômica para as empresas compensarem seu impacto ambiental. Também permite o acesso a uma gama diversificada de projetos de compensação, tornando o mercado de desenvolvimento sustentável mais inclusivo e acessível.

O fim das cópias digitais

A especialista destaca que, antes, não havia essa possibilidade que o NFT oferece, tudo que existia no universo digital era cópia. Então, por exemplo, quando você envia um e-mail para outra pessoa, você não está, realmente, enviando o e-mail, você está enviando uma cópia de um e-mail.

Se o e-mail fosse um NFT, o e-mail iria sair da sua caixa de saída iria aparecer na caixa de entrada da outra pessoa. Então, o NFT traz esse potencial, essa característica do ativo digital.

“Ele, realmente, pode ser único e isso aproxima o universo digital do universo físico. Se a gente olhar essa busca, essa é a busca da população, cada vez mais, aproximar o digital do físico. Então ele traz essa possibilidade,” justificou

NFTs Dinâmicos – ativos multáveis

Sobre os NFTs dinâmicos, a advogada explica que ele tem duas características principais: tem uma identificação ID do token, e tem os metadados. No NFT tradicional, esses dois campos são imutáveis.

O NFT dinâmico traz a opção dos metadados poderem ser modificados com o tempo, de acordo com eventos externos. Então, no NFT dinâmico, só o token ID é fixo, ele é imutável, mas os metadados conseguem ser modificados.

Os metadados são informações adicionais.

Caroline propõe uma explicação análoga, onde podemos fazer uma comparação. O NFT tradicional estaria para um passaporte, uma identidade, que você não muda, não pode modificar. A única opção de modificar é você emitindo outro.

“E o NFT dinâmico ele estaria para sua casa, por exemplo, a sua casa pode ser modificada, você pode mudar o telhado, você pode mudar a pintura da casa, pode mudar toda a estrutura da casa, mas a casa vai continuar sendo a mesma, vai continuar com o mesmo registro,” explicou Caroline.

O NFT dinâmico traz a opção do NFT ter mutabilidade, essa transformação. A advogada reforça a aplicabilidade para o mercado de imóveis, para representar um imóvel no universo digital:

“Você vai registrando dentro do NFT todas as mudanças que tiveram nesse imóvel. E aí facilita bastante a vida de quem vai adquirir o imóvel depois, porque ele tem todas as informações em um só lugar”

Ela detalhou que, nos jogos, o avatar poderia ser o NFT, e conforme o avatar evoluir, ele vai mudando.

A especialista defende que é importante entender que NFT por NFT, ele não tem valor agregado. O valor do NFT, como colecionável, por exemplo, quem dá é o mercado.

Em 2021, houve o boom dos NFTs, uma valorização gigantesca do mercado de tokens não-fungíveis colecionáveis, e quem dava valor era o mercado. 

A maioria dos NFTs que são comercializados, são comercializados através de criptomoedas. Normalmente se faz uma interação direta entre criptomoedas e entre o contrato inteligente, que roda o NFT.

Contrato inteligente são linhas de código dentro da blockchain, ou seja, é o que faz absolutamente tudo da blockchain funcionar. Então, é regrado, principalmente, por contratos inteligentes.

Com relação ao mercado tradicional, já tem a possibilidade de adquirir NFT com moeda corrente, então, por exemplo, você consegue comprar um NFT com pix.

Onde os NFTs de arte podem ser vistos

Normalmente, ele é visto no computador, mas pode ser transmitido. Ele pode aparecer, por exemplo, no smart watch, já houve exposição de NFT nos painéis luminosos da Times Square, em Nova Iorque.

Existe uma startup que se chama Infinity objects, que viabiliza que NFTs sejam transmitidos para uma tela, que parece um porta-retrato. E uma linha de televisores da Samsung que permite você conectar os NFTs à tela.

A especialista garante que estamos muito no começo dos NFTs dinâmicos, absurdamente, no começo. “Começamos a ver alguns tipos de utilização agora, mas é uma coisa que vai começar a crescer em 2023 e vai amadurecer até 2025”, explica.

Vale a pena NFT como investimento? 

Sobre investimento, Caroline disse que nunca indica investimento em NFT, especificamente.

“Primeiro, esse assunto de investimento não é um assunto que é da minha expertise, eu não tenho experiência com investimento e, segundo, NFT para investimento ele funcionou, em 2021. 

Hoje, eu não digo que NFT para investimento ele funciona. É muito raro você ver pessoas ganhando dinheiro, continuando a ganhar dinheiro, hoje, fazendo investimento em NFT”.


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