Polícia desmantela rede de lavagem de dinheiro com criptomoedas do PCC
A Polícia Civil de São Paulo cumpriu, na terça-feira (06/08), mandados contra uma operação de lavagem de criptomoedas ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Foram realizadas batidas em diversas cidades na terça-feira (6). Além disso, a polícia prendeu 13 pessoas envolvidas no esquema. No total, a Justiça autorizou 20 mandados de prisão e 60 de busca e apreensão.
O esquema de lavagem de dinheiro do PCC funcionava com a ajuda de uma corretora de criptomoedas e um banco virtual. A ação teve expedição pela 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Direitos da Capital. A Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes de Mogi (DISE) deu suporte às operações.
Mais de R$ 8 bilhões bloqueados
Segundo informações do delegado Fabricio Intelizano à CNN, a exchange fez transações financeiras de cerca de R$ 500 milhões durante o período da investigação. Além disso, a polícia encontrou cheques no valor de R$ 55 milhões na sede da empresa em São Paulo.
No entanto, as transações detectadas durante as investigações não formam o quadro completo das fraudes promovidas pelo grupo criminosos. Afinal, além dos mandados de prisão, a Justiça ordenou o bloqueio de mais de R$ 8 bi. Os valores disponíveis estavam disponíveis em diversas contas dos alvos investigados.
Segundo a polícia, a megaoperação partiu da prisão de uma mulher suspeita de armazenar cerca de 30 quilos de entorpecentes para o PCC no município de Itaquaquecetuba (SP). Ela seria esposa de um dos líderes do grupo criminoso.
Além disso, a polícia descobriu que ela desempenhava o papel de intermediária na comunicação entre os membros da facção. Portanto, transmitia informações de dentro dos presídios para agentes nas ruas.
Outras pessoas estão sendo investigadas por pertencerem à complexa rede que mantém o fluxo de informações dentro da organização. Para que esse processo funcione, os membros do PCC utilizam desde cartas a recados de advogados, segundo as investigações.
Esquema contou com a cooptação de agentes públicos
O esquema tinha como objetivo o branqueamento de valores do PCC. Portanto, servia para transformar em recursos legais o dinheiro oriundo do tráfico de drogas. A lavagem de dinheiro com criptomoedas também tinha como objetivo financiar representantes do crime organizado para as eleições municipais deste ano. Afinal, o PCC tinha o plano de apoiar diversos candidatos na Grande São Paulo.
A Polícia Civil não divulgou o nome da empresa de cripto envolvida no caso. No entanto, ela estava em nome de uma mulher de 23 anos, filha de um candidato a vereador em Mogi das Cruzes. O PCC ainda esperava lançar em seu nome um candidato a vereador na cidade de Santo André.
Por fim, uma servidora comissionada da prefeitura de São Bernardo do Campo está sendo investigada pelo envolvimento com um membro do alto escalão do grupo criminoso.
13 membros do grupo foram presos, mas há foragidos
A polícia cumpriu medidas cautelares em diversos municípios do estado de São Paulo. Entre eles, estão São Paulo (Capital), Campinas, Guarulhos, Mogi das Cruzes, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Santo André, São Caetano do Sul, Mauá, Santos, Praia Grande, Mongaguá, Ubatuba, São José dos Campos e Sorocaba.
No primeiro dia de operações, 13 pessoas foram presas. Além disso, a polícia apreendeu 20 celulares, sete veículos, três armas de fogo e diversos relógios de luxo durante a ação. Por fim, encontrou R$ 25.000,00 e US$ 4.600,00 em dinheiro vivo.
No entanto, nem todos os alvos da operação foram presos. Afinal, parte dos criminosos seguia foragida na terça-feira.
Entre os alvos não encontrados, que por isso são considerados foragidos, está Patric Ueliton Salomão. Com os apelidos de Forjado ou Xuxu, ele é uma das principais lideranças do PCC. Por exemplo, seria o mentor de atentados contra o promotor Lincoln Gakiya e o senador Sergio Moro (União Brasil).
Também está foragido Décio Gouveia Luis, o Décio Português, que é considerado o sucessor de Marcola, líder do PCC.
Lavagem com criptos pelo PCC não é novidade
A mais recente operação da polícia contra o uso de exchanges de criptomoedas pelo PCC não chega a ser uma novidade. Afinal, o grupo criminoso vem usando esse recurso há algum tempo para branquear valores do tráfico de drogas e de outras atividades ilegais.
Por exemplo, em 2020, a Polícia Civil de São Paulo descobriu o uso de uma exchange brasileira para lavar dinheiro do grupo. Isso ocorreu após a prisão de André de Oliveira Macedo, mais conhecido como André do Rap, em 2019.
Na época, o esquema envolvia pagamentos em Bitcoin pelo envio de drogas do Brasil para a Europa.
A plataforma de criptos atuava na Baixada Santista e teria pedido recuperação judicial depois de movimentar R$ 300 milhões. Na mesma época, o promotor Lincoln Gakiya defendeu que André do Rap continuasse preso, após o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar um habeas corpus em favor do líder do PCC.
“A manutenção da prisão desse indivíduo é fundamental para a segurança pública do estado de São Paulo e da própria nação brasileira. Nós não podemos ficar à mercê de facções criminosas mandando uma grande quantidade de cocaína para a Europa, enriquecendo, e os seus indivíduos andando livremente aí pelo país.”
Polícia aperta o cerco a crimes com criptomoedas
Desde o ano passado, a polícia de diversos estados tem aumentado a repressão contra crimes relacionados a criptomoedas recentemente.
Por exemplo, em outubro, a polícia de Santa Catarina juntou forças com a Interpol para desmantelar uma gangue de suspeitos de “roubar criptomoedas à mão armada”. Os acusados também estavam envolvidos em outros crimes de extorsão.
Em junho do ano passado, a Polícia Federal (PF) e a Receita Federal (RF) lançaram uma grande operação contra seis exchanges de criptomoedas nacionais. A ação massiva buscou coibir o crime internacional relacionado à lavagem de dinheiro.
Além disso, em outro caso, a PF prendeu membros de dois grupos criminosos nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Eles foram acusados de lavar dinheiro com criptomoedas, somando US$ 417 milhões em fraudes desde 2017.
Enquanto isso, o Banco Central (BC) vem elaborando planos para a regulamentação de criptomoedas — um processo que espera finalizar até o final do ano. As novas regras poderiam trazer uma transparência maior sobre possíveis riscos e benefícios dos investimentos em criptoativos.