Polícia Federal desarticula 3 grupos criminosos que atuavam no mercado de criptoativos
A Polícia Federal (PF) e a Receita Federal do Brasil (RFB) congelaram cerca de R$ 9 bilhões em criptomoedas e moedas fiduciárias mantidas em exchanges de criptomoedas e contas bancárias. A informação foi divulgada pelo governo nesta terça-feira (10).
A Operação Niflheim desarticulou três grupos criminosos que atuavam no mercado de criptoativos. Eles são suspeitos de lavagem ou ocultação de bens, crimes contra o sistema financeiro nacional, falsidade ideológica, associação criminosa, organização criminosa e crimes contra a ordem tributária.
Os principais destinos dos valores eram países da Ásia e os Estados Unidos.
O nome da operação, Niflheim, foi inspirado na mitologia nórdica e significa “lar da névoa”. Portanto, faz alusão à atuação dos criminosos, que se baseava em transações financeiras obscuras.
Polícia Federal fala em três grupos criminosos
As autoridades informaram que os criminosos estavam tentando enviar moedas fiduciárias e tokens para destinatários na China, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos e Hong Kong. Além disso, alegaram que os suspeitos podem ter usado criptoativos não identificados para movimentar R$ 55 bilhões nos últimos três anos.
A iniciativa conjunta da Polícia Federal e da Receita Federal envolveu agentes que realizaram buscas e apreensões em empresas e endereços pessoais em diversos estados brasileiros. Também foram alvos da ação escritórios nos Estados Unidos. No entanto, a polícia não revelou os nomes das empresas nem dos indivíduos que os policiais estão investigando.
Segundo informações oficiais, três grupos diferentes fariam parte da operação criminosa. A PF está investigando possíveis conexões entre esses grupos. Afinal, acredita que eles vinham operando em conjunto.
Grupo usava laranjas em esquema
De acordo com a PF, 130 policiais e 20 servidores da Receita Federal participaram das buscas. Os tribunais emitiram pelo menos oito mandados de prisão e cerca de duas dezenas de mandados de busca e apreensão em Caxias do Sul (RS), São Paulo, Fortaleza e Brasília. Também houve a apreensão de diversos veículos e imóveis.
Veja um resumo dos mandados expedidos pela Justiça Federal:
- Caxias do Sul/RS: 5 mandados de prisão e 10 de busca e apreensão
- São Paulo/SP: 3 mandados de prisão e 4 de busca e apreensão
- Fortaleza/CE: 4 mandados de busca e apreensão
- Brasília/DF: 1 mandado de busca e apreensão
A polícia informou que o esquema teve início em 2021. Desde então, os criminosos vinham desenvolvendo operações financeiras complexas e em várias camadas.
Aliás, segundo as investigações, o dinheiro teria origem principalmente em redes de tráfico de drogas e tráfico de pessoas. Em seguida ao recebimento dos valores, os grupos se encarregavam de enviá-los ao exterior por meio de criptoativos.
A polícia acredita que os grupos sob investigação estariam usando empresas de fachada e outras táticas para ocultar suas movimentações financeiras. Afinal, o plano era dificultar o rastreamento dos fundos pelas autoridades.
O chefe da PF em Caxias, delegado Noerci da Silva Melo, falou ao jornal Zero Hora sobre o funcionamento do esquema:
“Esses recursos provêm, principalmente, do tráfico de drogas e do contrabando. O dinheiro começava nas empresas de fachada até chegar a essas empresas de ponta, administradas por esses três grupos. A partir dali, esses valores eram transformados em criptomoedas e enviados para o Exterior sem que houvesse a declaração para os órgãos de fiscalização.”
Segundo a PF, os supostos líderes dos grupos são de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, e Orlando, na Flórida.
PF mira casos de lavagem de dinheiro com criptomoedas
Esse não é o primeiro caso de lavagem de dinheiro do crime organizado envolvendo criptomoedas no Brasil. Afinal, em agosto, a Polícia Civil de São Paulo realizou uma ação contra uma corretora usada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).
A polícia cumpriu medidas cautelares em diversos municípios do estado de São Paulo. Entre eles, São Paulo (Capital), Campinas, Guarulhos, Mogi das Cruzes, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Santo André, São Caetano do Sul, Mauá, Santos, Praia Grande, Mongaguá, Ubatuba, São José dos Campos e Sorocaba.
Na ocasião, a megaoperação bloqueou mais de R$ 8 bilhões em diversas contas. Além disso, a polícia prendeu 13 pessoas suspeitas de participar do esquema. No total, a Justiça autorizou 20 mandados de prisão e 60 de busca e apreensão.
O esquema de lavagem de dinheiro do PCC funcionava com a ajuda de uma corretora de criptomoedas e um banco virtual. A exchange fez transações de cerca de R$ 500 milhões durante o período da investigação. Além disso, a polícia encontrou cheques no valor de R$ 55 milhões na sede da empresa, em São Paulo.
O esquema tinha como objetivo o branqueamento de valores do PCC. Portanto, transformava em recursos legais o dinheiro oriundo do tráfico de drogas. A lavagem de dinheiro com criptomoedas também tinha como objetivo financiar representantes do crime organizado para as eleições municipais deste ano no estado de São Paulo.
Em 2020, a Polícia Civil de São Paulo já havia descoberto que uma exchange brasileira de criptomoedas lavava dinheiro para o PCC. Isso ocorreu após a prisão de André de Oliveira Macedo, mais conhecido como André do Rap, em 2019. Esse esquema envolvia pagamentos em Bitcoin pelo envio de drogas do Brasil para a Europa.