Volume de negociações com NFT despencam 97% desde janeiro

Gabriel Gomes
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Hoje o cenário do mercado de NFTs é bem distinto daquele que se via há um ano atrás. Um exemplo do que se chamou de “mania de NFTs” foi o leilão realizado pela Christie’s em março do ano passado, no qual um token de Beeple, nome usado pelo artista Mike Winkelmann, foi vendido por US$ 69 milhões de dólares. 

O ápice de volume transacionado em 2021, alcançado no mês de agosto, foi de US$ 4,2 bilhões de dólares. Em janeiro deste ano, porém, um novo recorde de volume foi batido: US$ 17,2 bilhões de dólares. Entretanto, desde então o mercado desaqueceu-se formidavelmente, segundo dados do Duna Analytics, uma plataforma de informações sobre cripto finanças.

Transações de NFTs caiu incríveis 97% em menos de um ano

O volume de transações envolvendo tokens não-fungíveis caiu 97% desde aquele recorde de janeiro. Em setembro deste ano, o volume negociado foi de apenas US$ 467 milhões de dólares.

Um dos sintomas dessa nova situação foi a decisão do maior marketplace de NFTs, Open Sea, fundada no ano de 2017, de demitir um quinto de sua equipe. Seu diretor-executivo, Devin Finzer, afirmou no Twitter que se tratou de uma decisão difícil e triste.

Contudo, ela permitiria à empresa manter suas operações mesmo que as condições difíceis no mercado perdurem por anos, além disso, dava-lhe a convicção de que não seria necessário aplicar esse processo doloroso novamente. Finzer também afirmou que os funcionários demitidos receberam um generoso pacote de compensação.

O site da Dapp Radar, especializado em aplicativos descentralizados, corrobora o estado grave do mercado de NFTs e de seus maiores atores. Segundo ele, o volume de negociações da Open Sea caiu 99% em quatro meses. O marketplace contesta em parte esse número, mas admite que houve uma queda forte e que ela era esperada até certo ponto.

Cenário macroeconômico difícil é um dos motivos de tanta queda

Os problemas que afetam o mercado de NFTs, em boa parte, devem-se a tendências da economia de modo geral. Nos Estados Unidos, por exemplo, o banco central, chamado Federal Reserve, tem elevado os juros com a finalidade de combater a inflação. Isso enxugou a liquidez e reduziu a quantidade de fundos disponíveis para investimento, sobretudo em ativos pouco maduros como criptomoedas e NFTs.

O mercado de criptomoedas, aliás, perdeu, segundo os especialistas, mais de US$ 2 trilhões de dólares em valor neste ano. Ademais, o mercado de NFTs também lida com problemas como fraudes e ataques de hackers. Em fevereiro deste ano, por exemplo, clientes da Open Sea tiveram tokens com valor estimado de até US$ 1,7 milhões de dólares roubados. 

Além disso, há de se considerar os novos regulamentos tributários, como o do Estado de Washington, que decidiu taxar tokens não-fungíveis, o primeiro estado estadunidense a fazer isso. Todas essas questões colaboraram muito para que se arrefecesse um pouco o entusiasmo dos investidores.

Tantas questões negativas compreensivelmente “empurra” os investidores para ativos mais consolidados e, sobretudo, menos voláteis. Por esta razão há uma aversão generalizada ao risco no mercado, o que faz com que a maioria dê preferência para investimentos no dólar, títulos de renda fixa e ações de empresas consolidadas. Porém, há também quem enxergue o período atual como grande oportunidade para acumular criptomoedas com valores extremamente descontados.

Dificuldades devem permanecer no curto prazo

Em setembro deste ano, aconteceu o The Merge, um update técnico esperado há algum tempo e adiado algumas vezes pelo qual passou a rede Ethereum. Havia esperanças de que esse acontecimento, que reduziu em mais de 99% as necessidades energéticas da rede, na qual é feito o maior número de transações com NFTs, atraísse de volta os investidores. Isso, porém, não aconteceu até agora.   

Embora, muito compreensivelmente, vários atores do mercado de tokens não-fungíveis estejam incomodados com a situação, há quem a veja como algo benéfico. Um exemplo é Albert Mugrabi, que coleciona e negocia NFTs. Em entrevista a ARTnews, site que cobre o mundo da arte, colapsos como o atual permitem que os artistas sérios persistam e se tornem cada vez melhores.

Obviamente, é possível que o mercado de tokens não-fungíveis recupere-se no futuro próximo, especialmente se uma recessão nos Estados Unidos, esperada para este ano ou para o próximo, for evitada e se os preços das criptomoedas se recuperarem, mas os números disponibilizados pela plataforma Duna Analytics mostram que a queda foi rápida e relativamente brusca. O caminho de volta pode ser mais demorado e marcado por turbulências.

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