Banco Central pretende frear usos de stablecoins no Brasil

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Segundo Renato Gomes, diretor de organização do sistema financeiro e resolução do Banco Central (BC), a instituição pretende conter no país o uso de stablecoins, como USDT e USDC.

A declaração do diretor foi dada nesta quinta-feira (06), na apresentação do Relatório de Economia Bancária.

Além disso, ele destacou que o BC está observando “com bastante atenção” diversos fenômenos relacionados ao uso das criptomoedas no sistema financeiro.

Stablecoins são mais baratas e eficientes


Aliás, sobre o uso das stablecoins, Renato Gomes afirmou que o setor de importação recorre a elas para obter dólar de modo mais barato e eficiente.

No entanto, elas têm outras aplicações cotidianas, atualmente. Segundo o diretor:

“O sujeito compra uma stablecoin para quando fizer uma viagem internacional poder vender a stablecoin, transformar aquilo em dólar sem passar pelo sistema financeiro tradicional.”

No entanto, Gomes acrescentou, essas movimentações são realizadas “fora dos olhos” dos reguladores. Portanto, isso acaba gerando preocupação no BC, assim como em outros bancos centrais do mundo todo.

Fenômeno é de “curto prazo”, segundo diretor do BC


O diretor disse acreditar que o fenômeno é de “relativamente curto prazo”. Também explicou que uma das respostas do BC ao uso das stablecoins vai ser o Drex (Real Digital).

Por fim, Gomes lembrou dos debates que vêm ocorrendo dentro do G20 para aumentar a eficiência dos pagamentos entre fronteiras.

Ele lembrou que o Pix pode ser “ligado” a outros sistemas de pagamentos instantâneos, como os que estão em atividade no México, Rússia e Índia. Portanto, isso pode diminuir a demanda por stablecoins.

“Com ligação do Pix a outros sistemas de pagamentos instantâneos e avanço da agenda dos pagamentos transfronteiriços, as stablecoins vão ter menos um papel de provisão de conta em dólar.”

Banco Central já exibia preocupação com stablecoins


A atenção do BC para com as stablecoins não é novidade. Afinal, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, já havia comentado sobre a preocupação do órgão com o aumento do uso delas.

Em abril deste ano, Campos Neto chegou a dizer que não havia crescimento de criptomoedas no Brasil, apenas de stablecoins. Na época, o presidente do BC brasileiro afirmou que:

“As pessoas estão entendendo que elas [as stablecoins] são uma forma barata de ter conta em dólar porque, das stablecoins, 99,9% é dólar.”

Além disso, ele lembrou que, em países onde a moeda não é conversível, as pessoas desejam ter uma conta em dólar:

“Hoje, se quiser ter conta em dólar e for brasileiro, você precisa ter um volume alto de recurso, mas você pode comprar stablecoins e de certa forma você abriu uma conta digital em dólar.”

Crescimento das stablecoins ainda gera desconfiança


Por fim, Campos Neto apontou que o crescimento das stablecoins não impede a desconfiança em relação a elas. Afinal, não se sabe se haverá lastro para cobrir os ativos digitais. Sobre isso, o diretor afirmou:

“As pesquisas apontam que as pessoas querem ter conta em dólar, mas têm medo das stablecoins também, pois não acreditam no colateral, porque não sabem se do outro lado da transação há realmente o dólar. Se você tivesse stablecoin com mais transparência e segregação de contas, acho que ia crescer bem mais rapidamente.”

Aliás, essa dúvida está presente no mundo cripto desde pelo menos 2014, quando do lançamento da Realcoin (hoje conhecida como Tether).

A preocupação aumentou ainda mais em 2022, com a quebra da stablecoin algorítmica UST, da plataforma LUNA.

Transações em Tether superam as de Bitcoin


No entanto, a desconfiança não impede o crescimento constante das stablecoins no Brasil. Afinal, segundo levantamentos da Receita Federal, feitos mensalmente desde 2019, há um crescimento significativo do uso delas.

Os dados da Receita mostram que as stablecoins mais negociadas no país são a USDT (Tether) e a USDC. Aliás, as duas têm paridade com o dólar americano. Além disso, há a BRZ, que tem sua paridade vinculada ao real brasileiro.

Por fim, segundo a Receita, a análise dos dados públicos mostra que há uma mudança significativa no perfil das transações com criptomoedas.

Nos últimos anos, as negociações de criptomoedas, como o Bitcoin, foram superadas em larga medida pela movimentação das stablecoins como o Tether.

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