Real digital – Drex já não deve ser lançado este ano

Drex

O coordenador da iniciativa Drex no Banco Central (BC), Fábio Araújo, falou recentemente sobre os desafios do projeto e os próximos passos. Araújo participou do painel Explorando as Fronteiras do Drex, o “real digital”, realizado pelo Banco BV durante o WebSummit.

No evento, Araújo explicou que o processo de desenvolvimento da moeda digital brasileira “empacou” na fase de soluções de privacidade. Portanto, o Drex não deve ser lançado em 2024, como previa o BC. Além disso, Araújo afirmou que o BC apresentará um relatório para a sociedade no meio do ano, “encerrando essa primeira fase de testes”.

Aliás, o coordenador explicou que o relatório pode chegar a três conclusões distintas para a etapa atual. A primeira seria que essa tecnologia não está pronta e não estará nos próximos anos — um resultado já descartado. A segunda seria que a tecnologia está pronta e o sistema pode seguir para a fase de produção. No entanto, segundo Araújo, esse também “não parece que esse seja o caso”.

Por fim, o cenário mais provável é que o relatório indique que a tecnologia de privacidade é um grande obstáculo. Portanto, é preciso mais trabalho para amadurecer as soluções de capacidade.

O que está sendo testado?


A tecnologia blockchain foi criada para operacionalizar o desenvolvimento do Bitcoin. Desde 2008, ela tem como um dos seus princípios fundamentais a transparência. Por exemplo, quando se sabe a quem pertence uma determinada carteira de blockchain tradicional, é possível monitorar as movimentações dessa carteira. Portanto, é possível saber a quantidade de dinheiro enviado, para quem e quando.

No entanto, para desenvolver a versão cripto do Real, a legislação de sigilo bancário exige que o BC seja capaz de garantir a privacidade dos usuários na rede. É exatamente essa a operação que está sendo testada na etapa atual do desenvolvimento do Drex.

Aliás, Araújo explicou que os consórcios participantes do projeto já testaram uma solução, estão testando a segunda e ainda testarão uma terceira. A primeira solução de privacidade a passar por testes foi o Zether. Atualmente, estão ocorrendo os testes da Starlight. Por fim, será a vez da Parchein.

O Zether é um mecanismo de privacidade para contratos inteligentes compatível com Ethereum. Ele foi desenvolvido primeiramente por pesquisadores de Stanford e pela Visa Research. Além disso, o JP Morgan desenvolveu uma extensão dessa solução.

A Starlight é uma solução do tipo “open source”, de domínio público, da empresa de auditoria e consultoria EY. A empresa apresentou a Starlight para o BC especialmente para o desenvolvimento do Drex.

Por fim, a Parchain é uma plataforma da fintech anglo-brasileira Parfin, com foco no uso por instituições. Essa plataforma blockchain também visa o desenvolvimento do real digital.

Quais os próximos passos do Drex?


Além de comentar os desafios da etapa atual de desenvolvimento do Drex, Araújo também falou sobre os próximos passos. Segundo o coordenador, será preciso discutir os casos de uso com os parceiros do piloto para amadurecer a gestão de contratos inteligentes dentro deste ambiente.

O coordenador explicou que:

“A primeira fase do teste foi muito focada em smart contracts desenvolvidos para a infraestrutura concreta, então são smart contracts de especificidade do Banco Central, mas o Banco Central só vai oferecer a plataforma, os serviços vão ser feitos pelos participantes, pelos participantes do mercado. Então a gente tem que amadurecer dessa governança dos smart contracts, dos participantes dessa plataforma. Esse é o próximo passo que a gente deve começar.”

Segundo o site do Banco Central, a instituição recebeu 36 propostas de instituições com interesse de participação no piloto do Drex. Entre elas, o Comitê Executivo de Gestão (CEG) escolheu 16 para participar, com base nos critérios estabelecidos no Regulamento do Piloto Drex.

Aliás, uma dessas entidades participantes é o Banco do Brasil. A vice-presidente de Negócios Digitais e Tecnologia da instituição, Marisa Reghini, também esteve no Web Summit. Além de fazer projeções sobre o potencial do real digital, Reghini afirmou que não é possível saber quando ocorrerá o lançamento do Drex. Afinal, a definição de um cronograma mais claro depende dos resultados do piloto.

No entanto, a vice-presidente explicou que o Banco do Brasil já vem estudando seus possíveis usos. Afinal, a ideia é que a instituição esteja preparada para aplicá-lo “quando a gente puder utilizar”, afirmou.

Por fim, Reghini pontuou que o Drex ajudará no processo de bancarização da população, mas que ainda precisará de uma curva de aprendizado. Afinal, os canais digitais são uma forma mais fácil e prática de utilização dos bancos, e isso resulta numa inclusão maior.

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