Drex pode ficar para 2026, diz executivo da Unicred

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Drex pode ficar para 2026, diz executivo da Unicred
Agência Brasil

O head de produtos e TI da Unicred, Mateus Casanova, afirmou que o lançamento do Drex pode ser adiado para 2026. A Unicred participa de um dos 16 consórcios envolvidos nos testes do “real digital”. A empresa faz parte do grupo SFCoop, junto a cooperativas de crédito como a Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred.

No mesmo dia, o próprio Banco Central (BC) informou que as soluções de segurança e privacidade do piloto do Drex “não apresentaram a maturidade necessária”.

O BC também decidiu realizar uma nova fase de testes antes do lançamento para o público. No entanto, a autarquia não deu um prazo específico após esse novo adiamento.

Por outro lado, a declaração de um executivo de uma empresa envolvida no piloto, falando em um possível lançamento apenas em 2026, acaba colocando mais pressão sobre o projeto.

Preocupações com privacidade geram incerteza sobre Drex


Casanova falou na última quarta-feira (22), durante um painel do Apix, evento promovido pela Sensedia em São Paulo. Segundo ele:

“Não tem como prever quando estará disponível para a população. Não dá para dizer que em 2025 estaremos com o Drex, pode ser que fique para 2026.”

O principal problema diz respeito à privacidade das transações na rede de registro. Afinal, até o momento, os testes junto aos consórcios do piloto não foram suficientes para garantir uma solução segura.

Ainda não é possível dizer que o adiamento até 2026 realmente ocorrerá. Mas a possibilidade já aparece no horizonte, devido aos desafios encontrados durante os testes.

Banco Central já trabalhava com prazo maior


Fontes do mercado já previam um atraso no lançamento do Drex — de 2024 para 2025. Afinal, a questão da privacidade das transações vem ocupando profissionais envolvidos no projeto há algum tempo.

Uma das questões diz respeito à forma como as soluções tecnológicas propostas até agora podem se adequar às leis em vigor no país.

O aspecto mais sensível é a privacidade dos dados dos usuários. Isso porque um sistema de registro distribuído, como seria o caso do Drex, baseia-se na visibilidade das transações das carteiras.

Portanto, há uma incompatibilidade com as regras relativas ao sigilo fiscal e bancário do ordenamento jurídico brasileiro.

Soluções “não apresentaram a maturidade necessária”


O BC admitiu a dificuldade com a questão da privacidade em sua nota divulgada no dia 22:

“As soluções tecnológicas de privacidade testadas até o presente estágio do Piloto não apresentaram a maturidade necessária para que se possa garantir o atendimento de todos os requisitos jurídicos relacionados à preservação da privacidade dos cidadãos, apesar de terem evoluído ao longo do tempo.”

A autoridade monetária também informou que uma segunda fase de testes terá como objetivo incorporar funcionalidades, “promovendo a evolução e a maturação da plataforma”.

Segundo a autarquia, essa fase servirá para a avaliação de uma infraestrutura com Tecnologia de Registro Distribuído (DLT).

Nas próximas semanas, a autoridade monetária abrirá um novo prazo para os participantes do Piloto apresentarem propostas de uso do Drex. As iniciativas selecionadas entrarão em teste a partir de julho.

No terceiro trimestre deste ano, os participantes da plataforma irão criar e gerir contratos inteligentes (smart contracts) na plataforma. Aliás, eles poderão testar serviços próprios e novos modelos de negócios, e não apenas serviços criados pelo Banco Central, como informado na nota:

“Serão incluídos no ambiente de testes ativos não regulados pelo BC. Para tanto, haverá necessidade de se assegurar a participação ativa de outros reguladores na plataforma Drex, em especial da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que já acompanha a evolução da moeda digital do Brasil.”

Conforme o BC, a nova fase terminará ao fim do primeiro semestre de 2025. Ou seja, uma previsão de lançamento em 2026 parece factível.

Greve de servidores e “fuga de cérebros”


O BC cita apenas questões técnicas entre as razões por trás do atraso no piloto do Drex. No entanto, outros fatores podem ter colaborado para o adiamento do projeto.

Por exemplo, no começo deste ano, houve duas greves de servidores da autarquia. Entre as reivindicações dos funcionários, estavam um reajuste de 36% sobre os salários e um bônus por produtividade.

A paralisação não foi total em nenhum dos casos. Mas houve atrasos na divulgação de boletins e dados do órgão. Além disso, foram canceladas reuniões e agendas com o Sistema Financeiro Nacional.

Na mesma época, o projeto do Drex acabou desacelerando na autarquia.

As greves tiveram fim em abril, quando os servidores aceitaram uma proposta do Ministério da Gestão e Inovação (MGI).

Eles obtiveram uma correção de 6,7% nos vencimentos a partir de janeiro de 2025. Além disso, terão os salários reajustados em 10,9% em maio de 2026. No entanto, ficaram insatisfeitos com o desfecho.

Isso ocorre em um contexto de “fuga de cérebros” do BC. Afinal, muitos servidores sofrem assédio de empresas do setor privado, com propostas salariais maiores e diversos benefícios.

As ofertas para funcionários da autarquia tradicionalmente vêm do setor financeiro. No entanto, projetos como o do Drex também colocam na vitrine muitos servidores que acabam sendo alvo de empresas de tecnologia.

Otimismo com o real digital segue inabalado


Apesar do adiamento e dos desafios do piloto, Casanova se disse confiante na viabilidade da tokenização do real. Aliás, ele afirmou que acredita que se alcançará uma solução de privacidade para a rede de registro ainda este ano.

Segundo o executivo, a principal demora deve ocorrer ao se testar diferentes formatos para a infraestrutura descentralizada estatal do sistema financeiro.

Casanova acredita que o Drex pode estar disponível antes de 2026, mesmo que parcialmente:

“Acredito que vai ser faseada a liberação para a população. Cada caso de uso pode ser aberto em um período. Podemos tokenizar praticamente qualquer coisa. O importante é ter um porquê por trás daquilo.”

Entendendo o que é o Drex


O real digital funciona como uma versão eletrônica do dinheiro físico. Esse novo método de pagamento vai ser emitido diretamente pelo Banco Central. Por isso, seu uso poderá ocorrer em vários tipos de transações, como transferências, saques, entre outros.

A introdução do real digital pode permitir que as empresas criem novos métodos de negócios. Além disso, a moeda também pode ajudar o Banco Central a implementar novas tecnologias no setor financeiro.

O real digital é a versão brasileira de um CBDC. Ou seja, nasce a partir de uma stablecoin e com base no Sistema de Transferência de Reservas. A nova moeda digital do Brasil é o Drex e terá o mesmo valor que o real físico, ou seja, cada R$1 equivalerá a 1 Drex.

Segundo informações publicadas pelo Banco Central, cada letra do nome Drex possui um significado específico. A letra “D” representa a palavra digital, “R” real, “E” eletrônica e “X” possui um conceito de conexão e inovação.

Com o Drex, o Banco Central busca desenvolver ainda mais o setor financeiro. Isso leva a um novo rumo para digitalizar a economia no território brasileiro.

A nova moeda vai permitir que os brasileiros façam transações mais seguras. Além de ser mais acessível e democrática. Com isso, os detentores do Drex podem se beneficiar com as facilidades que a digitalização pode oferecer.

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