Inflação pode atrasar queda dos juros nos EUA – Entenda o impacto no mundo

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O Índice de Preços ao Consumidor (CPI na sigla em inglês) dos Estados Unidos teve uma alta de 0,3% no mês de janeiro. Esse foi o dado divulgado pelo Escritório de Estatísticas Trabalhistas dos EUA. Portanto, o ritmo de alta no custo de vida dos americanos foi o mesmo do último mês de dezembro.

Além disso, o CPI acumulado dos últimos 12 meses, encerrado em janeiro, ficou em 3,1%, abaixo dos 3,4% do acumulado de dezembro. O primeiro índice de 2024 ficou 0,2 pontos acima das apostas dos analistas de mercado de Nova York, segundo pesquisa da Reuters. Afinal, as casas de análises americanas estimavam uma inflação de 2,9% nos últimos 12 meses.

Boa parte da frustração com a alta no indicador de janeiro pode ser atribuída ao índice de habitação. Afinal, ele continuou em alta, subindo 0,6% no mês. Por outro lado, o índice de alimentos aumentou em 0,4%, com uma maior pressão da alimentação fora de casa, 0,5%.

Já o índice de energia caiu 0,9% durante o último mês. Isso se deve em grande parte à queda no índice da gasolina. No acumulado dos últimos 12 meses, a energia caiu em 4,6%. No entanto, o índice de alimentos teve alta de 2,6% na mesma leitura.

O anúncio da inflação intensificou a probabilidade de o Federal Reserve Board (FED, na sigla em inglês) manter a taxa de juros no nível atual. Foi um duro golpe no otimismo que alimentava o mercado este ano. Esperava-se o início de um ciclo de corte ainda no primeiro semestre.

Até o anúncio da semana passada, analistas previam que os cortes começariam ainda em maio. Aliás, no final de 2023, as análises apostavam que isso já começaria em março.

“Núcleo” da inflação indica que juros nos EUA não devem cair tão cedo


O “núcleo” da inflação medido pelo CPI ficou em 0,4%, acima dos 0,3% da medição de dezembro passado. A maioria dos analistas de Nova York também apostava nos 0,3%. No entanto, eles erraram novamente quanto ao acumulado dos 12 meses. Afinal, previam um índice de 3,7%, mas a alta foi de 3,9%.

Mais do que a inflação “cheia”, o chamado “núcleo” da inflação indica os próximos passos da política de juros. Afinal, ele exclui preços mais voláteis (como o dos alimentos e da energia), e reflete melhor o ritmo dos preços mais sensíveis à temperatura da economia. Portanto, esses preços apontam com mais precisão se a taxa de juros está surtindo efeito.

Em 31 de janeiro, o FED, o equivalente ao Banco Central brasileiro, decidiu manter a taxa de juros no atual corredor de 5,25% e 5,50% ao ano. Portanto, mantendo a maior taxa desde 2001.

A alta na inflação americana deixa poucas esperanças de que o FED começará um novo ciclo de corte nos juros em março. Até pouco tempo atrás, investidores davam isso como certo. Mas eles também apostavam numa baixa da inflação no acumulado do último mês. Caso isso tivesse acontecido, o corte de juros nos EUA também poderia vir mais cedo.

Incerteza sobre a inflação americana em 2024


Por outro lado, para o FED, ainda faltam dados para se garantir que a inflação realmente caminhe para 2% ao ano. Essa é a meta estabelecida pela instituição para 2024. Aliás, Christopher Waller, membro do board da instituição, já havia demonstrado essa preocupação em janeiro:

“Ainda preciso de mais dados para ter certeza sobre uma queda sustentada da inflação, que não tenha repiques ou resistência excessiva.”

Em um evento da Brookings Institution, ele afirmou que os cortes ao longo deste ano nos EUA serão feitos de forma metódica e cuidadosa. Portanto, não serão tomadas decisões de forma apressada, mas baseadas em análises cuidadosas dos dados.

A fala de Waller é de antes da divulgação dos dados da inflação de janeiro, quando ainda havia otimismo quanto à meta da inflação. No entanto, a divulgação dos recentes dados do CPI deixaram os analistas menos otimistas. Já se avalia que o FED não se precipitará para começar o corte nos juros em maio. Agora a esperança é que o ciclo de cortes comece em junho.

Inflação nos EUA já reflete na economia europeia


O anúncio da inflação mais robusta do que esperado nos EUA já surtiu efeito na economia mundial. Afinal, a manutenção dos juros num patamar alto faz com que os títulos da dívida americana se tornem mais atraentes para os investidores. Por outro lado, ativos de maior risco, como as ações negociadas na bolsa de valores, tornam-se menos interessantes.

Por exemplo, após o anúncio do CPI, as bolsas europeias tiveram uma retração. O índice de referência STOXX600 registrou a maior queda em quase quatro semanas.

O STOXX600, que compila ações de 17 mercados europeus, cedeu 0,92%, caindo para 482,83 pontos. A pressão foi do movimento de selloff nos setores mais sensíveis à evolução dos juros: o tecnológico e o imobiliário.

Entre os principais índices europeus, o DAX, da Alemanha, recuou 0,92%. O índice francês, CAC-40, desvalorizou em 0,84%. Na Espanha, o IBEX35 perdeu 0,59%. Além disso, o índice italiano, FTSE MIB, caiu 1,03%, e o AEX, em Amsterdã, registrou decréscimo de 1,43%.

Moedas asiáticas oscilaram pouco


Por outro lado, no mercado asiático, o dólar se estabilizou perto da máxima de três meses. As moedas dos principais mercados mantiveram-se em uma faixa estreita.

O índice do dólar e o futuro do índice do dólar oscilaram perto da máxima de três meses na Ásia. Por exemplo, o Yuan caiu 0,1%, permanecendo em um mínimo de três meses. No entanto, uma forte correção do ponto médio diário do Banco Popular da China limitou novas perdas.

Os mercados chineses retomaram as negociações com cautela. Afinal, os investidores aguardavam para ver se o aumento dos gastos durante o feriado do Ano Novo Lunar continuaria nas próximas semanas.

Outras unidades asiáticas também mantiveram uma faixa estável. Por exemplo, o dólar de Singapura movimentou-se pouco. Também o Won sul-coreano caiu apenas 0,3%.

Por outro lado, o dólar australiano subiu 0,1%, em antecipação à ata da última reunião do Reserve Bank of Australia. Na última reunião, a instituição avisou que poderá não aumentar as taxas de juros. Portanto, isso deu alguma força para a economia australiana.

Na Índia, a Rupia permaneceu estável em torno do nível de 83 em relação ao dólar. Além disso, o Baht tailandês subiu acentuadamente. Isso aconteceu apesar dos dados que mostram que a economia tailandesa cresceu menos do que o esperado no quarto trimestre.

Por fim, no Japão, o iene oscilou em torno do nível de 150 em relação ao dólar. Isso porque os comerciantes permaneceram cautelosos quanto a qualquer possível ação do governo nos mercados cambiais.

Aliás, o nível de 150 é um ponto crucial para o iene. Afinal, incursões sustentadas acima desse nível levaram o governo japonês a tomar medidas fortes no passado. Ministros importantes no governo japonês ofereceram advertências verbais aos mercados cambiais na semana passada. Isso ocorreu justamente após a última queda da moeda japonesa.

Mercado de Ações na Ásia seguiu diferentes direções


Os índices de ações na Ásia também fecharam em direções diferentes. O índice Nikkei, de Tóquio, caiu 0,70%, indo para 37.703,32 pontos. Os índices de referência japoneses Shimano e Hikari Tsushin tiveram os piores desempenhos. Por exemplo, a Shimano caiu 7,0% e a Hikari, 6,8%.

Também houve queda na Coréia do Sul, onde o índice Kospi, de Seul, caiu 1,10%, para 2.620,42 pontos. Aliás, essa perda interrompeu uma sequência de três sessões de alta. As ações de companhias aéreas e financeiras lideraram a queda. Por exemplo, a Asiana Airlines caiu em 8,8% e o KB Financial Group caiu 3,4%.

Por outro lado, o índice Hang Seng, de Hong Kong, subiu 0,80%, para 15.879,38 pontos. Empresas relacionadas ao consumo e ao lazer puxaram a alta. Por exemplo, a Galaxy Entertainment, que opera hotéis e cassinos, subiu 3,5%. Também a fabricante de roupas Shenzhou International teve alta de 3,1%. Na China continental, o índice Xangai Composto permaneceu fechado devido ao feriado do Ano Novo Lunar.

Por fim, na Índia, o índice Sensex fechou em alta de 0,39%, a 71.833,17 pontos. A liderança foi da empresa de serviços financeiros Nuvama Wealth Management, com alta de 3,2%. Por outro lado, a empresa de tecnologia da informação Wipro sofreu queda de 1,6%.

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