Adeus “Dolce&Cabana” – A blockchain leva ao fim dos produtos de luxo falsificados

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Desde cintos da Dolce & Gabbana a pulseiras falsas da Cartier, a falsificação é um problema endémico ao mercado de bens de luxo. A explosão de popularidade das redes sociais levou ao aumento da venda de produtos de luxo.

O mercado, valorizado em US$ 242 mil milhões (€224 mil milhões) em 2022, irá continuar a registar uma tendência de crescimento até pelo menos 2030 ao crescer em média 5.4% ao ano. Mas para cada produto verdadeiro há, não uma ou duas, mas centenas ou milhares de cópias.

De acordo com algumas estimativas, o mercado de produtos falsificados cresceu 10 000% nas duas últimas décadas e vale anualmente cerca de US$ 600 biliões (€557 mil milhões). Sendo impossível acabar com os produtos falsificados, as marcas de luxo encontraram na tecnologia blockchain uma forma de garantir a autenticidade dos seus produtos.

Blockchain são redes distribuídas em que é possível guardar informação de forma imutável, transparente e segura. Uma vez registados numa destas redes, os dados tornam-se impossíveis de alterar ou apagar.

Com o recurso a esta tecnologia as marcas de luxo estão a criar ferramentas para que os clientes verifiquem a autenticidade dos seus produtos e para garantirem que detêm a propriedade dos mesmos.  A partir de agora, só será enganado quem quer.

A adoção da blockchain pelas marcas de luxo


Durante os primeiros anos as criptomoedas, que existem desde o lançamento da Bitcoin em 2009, eram consideradas um ativo financeiro sem futuro e altamente volátil.

Foi essa mesma volatilidade que vulgarizou o uso das cripto como meio de pagamento. As repentinas e astronómicas subidas dos preços criaram milionários de um dia para o outro, levando à criação de novos mercados e a alterações nos atuais.

Desde muito cedo que vendedores independentes de produtos de luxo aceitam pagamentos em criptomoedas.

 

Em 2021, a popularização do Bitcoin e moedas amigas entre millennials e Gen Z, fruto da rápida digitalização da economia durante a pandemia, o aumento do valor dos criptoativos e o uso mais generalizados dos mesmos levaram a que marcas estabelecidas e casas de moda de renome, como a Gucci, Balenciaga, TAG Heuer e Farfetch, começassem a aceitar cripto também.

Para além de ser a tecnologia base por detrás de criptomoedas, a blockchain é cada vez mais aplicada em diferentes ramos de atividade para resolver problemas estruturais relacionados com o armazenamento e segurança de informação.

As marcas de luxo estão a adotar a tecnologia para resolver um problema inerente ao mercado – a contrafação.

É impossível acabar com as milhares de iniciativas privadas que fabricam e comercializam produtos falsos, mas é possível garantir aos clientes que os produtos que compram são autênticos e que respeitam os padrões de qualidade esperados.

Autenticidade – Um problema global


Normalmente, as marcas de luxo distinguem-se pela originalidade, mas como tudo o que é verdadeiro pode ser falsificado, o uso da blockchain para provar a autenticidade de produtos e garantia da origem, é transversal a todos os mercados.

Os registos em blockchain não estão num servidor central. São detidos por todos os computadores que fazem parte da rede, não podendo ser nem eliminados ou alterados. Cada computador tem uma cópia da informação que, por estar em rede, pode ser consultada por qualquer pessoa.

A inviolabilidade e transparência que a tecnologia torna possível permite verificar seguramente a identidade de pessoas, a detenção de propriedade de obras de arte e bens de luxo e o histórico das cadeias de fornecimento.

A indústria de jogos é das mais ativas na integração de utilizadores em redes blockchain e do seu desenvolvimento. Os casinos, que desde os tempos imemoriais são a origem de inúmeras histórias de fraude, são um exemplo de um mercado que está a mudar radicalmente a sua estrutura.

Os casinos Bitcoin operam parcialmente ou totalmente em blockchain, o que permite ultrapassar problemas crónicos como roubos de contas ou uso repetido de fundos e assim permitir jogar roleta online com criptomoedas com uma segurança impensável há 10 anos.

Onde estamos agora


A adoção de inovações tecnológicas pode ser tanto exponenciada como retardada mediante fatores estruturais dos mercados.

Na indústria de bens de luxo, o poder de decisão está concentrado nas mãos de poucos conglomerados, permitindo adotar soluções mais rapidamente.

Em Abril de 2021 os gigantes LVMH Moët Hennessy, Prada Group e Cartier (marca do grupo Richemont) juntaram-se para criar a Aura Blockchain. Atualmente, conta também com a participação do grupo OTB e da Mercedes-Benz.

O Consórcio Aura Blockchain é uma entidade sem fins lucrativos que desenvolve aplicações com base em tecnologia blockchain visando garantir e elevar os padrões de qualidade da indústria. Cada item têm uma “impressão digital” guardada na rede e permite confirmar a autenticidade dos produtos.

Além disso, possibilita que os consumidores acedam através da plataforma às informações referentes ao percurso do produto e, caso queiram vender os bens, registem os dados da troca em rede.

A iniciativa traz também mais proximidade entre os consumidores e as marcas já que, através das APIs desenvolvidas, se torna possível receber convites exclusivos e personalizados ou requisitar serviços pós-venda sem que seja necessário os clientes deslocarem-se às lojas.

O Consórcio está aberto a todas as empresas e parceiros do mercado de bens de luxo. Apesar de, em circunstâncias normais, serem concorrentes, a cooperação tecnológica traz benefícios para as relações com os consumidores, prestigio, e reputação.

Já na indústria de jogos, é a competição feroz entre diferentes projetos que está a levar à rápida adoção de tecnologias descentralizadas.

Tanto este como o setor de bens de luxo se distinguem dos restantes pela integração eficaz de blockchain, juntos na vanguarda tecnológica, estão a desbravar o caminho que eventualmente irá levar a um funcionamento da economia significativamente diferente daqueles que conhecemos hoje em dia.

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