O futuro das criptomoedas: especialistas brasileiros são otimistas. Fique por dentro.

Augusto Medeiros
| 15 min read

Especialistas brasileiros, nas áreas de criptomoedas e blockchain, ajudam a entender a crise dos ativos digitais e falam sobre o que está por vir. Neste artigo, também, fazemos um contraponto com a visão de especialistas estrangeiros.

As especulações sobre o futuro das criptomoedas aumentaram, desde que o Bitcoin entrou numa trajetória de desvalorização, com questões da macroeconomia, como a inflação dos EUA e com problemas internos do setor, como a fraude na corretora, FTX. Mais à frente, você entenderá melhor os motivos.

A queda do Bitcoin chegou a 64%, em 2022, o que assustou muitos investidores.

Existe uma grande preocupação sobre o valor das criptomoedas e em quais criptomoedas investir em 2023. E há quem se pergunte se vale a pena investir em criptomoedas.

Quanto menos se sabe como funciona a criptomoeda, maior é o susto com o inverno cripto, ou seja, a crise atual. Sem informações aprofundadas, o investidor pode ficar confuso e inseguro com as notícias envolvendo as moedas descentralizadas. E essa é uma das opiniões ouvidas pelo Cryptonews sobre o futuro desse mercado. 

Informação especializada é o caminho para quem quer aprender como ganhar dinheiro com criptomoedas.

O desafio de analisar um mercado altamente volátil

Uma grande provocação para especialistas do mercado de criptomoedas é fazer previsões para os preços do Bitcon ou de qualquer outra moeda criptografada e descentralizada, como a Ether. E é fato que muitos analistas que ousaram prever preços não se deram muito bem nos resultados.

Foi o caso da gestora Cathie Wood, da ARK Investments, que esperava um recorde para o Bitcoin, no ano passado, acima de US$ 100 mil, rumo a US$ 1 milhão até 2030. No entanto, a moeda terminou o ano valendo US$16.540.

O mercado de criptomoedas é considerado um dos mais voláteis e, por esse motivo, é tão difícil acertar sobre o que vem pela frente.

Perceber que essa volatilidade e a especulação fazem parte do jogo é um passo importante para começar a compreender os processos de um investimento de alto risco.

No caso dos experts ouvidos pelo Cryptonews, eles são bem cautelosos e preferem não entrar no mérito dos valores, mas trazem uma análise sobre o mercado, com base em novos processos e no nível de conhecimento dos investidores.

Hora de separar o joio do trigo

Foto: Paulo Cesar Rocha

Para o especialista, Jeff Prestes, professor de Blockchain e Smart Contracts, na PUC – São Paulo, o colapso da FTX mostra que a descentralização é algo importantíssimo para o mercado cripto, porque é possível o investidor fazer negócios em exchanges descentralizadas, e fazer a própria custódia dos seus ativos. 

Significa não depender de instituições financeiras, como os bancos convencionais.

“Isso traz uma segurança, não só aos investidores, como também, ao mercado. Você pode notar, com números, que não houve paradas, nem problemas de operação, mesmo com a implosão da FTX, no mercado cripto descentralizado”, justifica, Prestes.

Ele usou como exemplo o Compound, que não foi afetado com a crise. Compound é usado, especialmente, como um protocolo de empréstimo de criptomoedas. Os usuários podem receber rendimentos dos juros, ao depositar um dos tokens suportados em um pool compartilhado.

Prestes destaca que, fazer a custódia dos seus criptoativos é salutar e traz segurança.

“Aqueles investidores que fazem as custódias dos seus criptoativos, também, não tiveram nenhum problema, então, vale aquela máxima, ‘not yours keys, not your money’ – se você não tem as chaves, então o dinheiro não é seu,” acrescentou o professor.”

Claro que, gerir, sozinho, os próprios criptoativos, ainda é um jornada longa para muitos investidores. E aí entra uma brecha para o mercado oferecer novos serviços, como explica, Prestes.

“Têm surgido, no mercado, empresas tradicionais, bancos, oferecendo serviços dessa custódia de criptoativos, então, isso pode ser um novo modelo de negócio, que tá surgindo, agora, em 2023, que talvez possa se consolidar,” esclareceu o professor. 

Mas ele alerta sobre a importância do investidor confiar nessas instituições.

Uma contratação recente feita pelo Banco Santander, mostra essa tendência, apontada por Prestes. Há cerca de um mês, o especialista em blockchain, Evandro Camilo, foi contratado pelo banco como chefe de produtos, com foco em ativos digitais.

Entre as funções delegadas ao executivo estão: desenvolver conhecimento institucional de ativos digitais para fins de capacitação; trabalhar em estreita colaboração com as estruturas globais do Santander: Blockchain Center of Excellence and Digital Assets; trabalhar com líderes de negócios financeiros tradicionais para mapear oportunidades de ativos digitais, como receitas incrementais ou redução de custos. 

E como há poucos meios tão competitivos quanto o de investimentos, o Santander não está sozinho nessa novidade. O Itaú oferece serviços para quem deseja investir em criptoativos.

Entre as promessas do Itaú Digital Assets estão: emissão de ativos digitais, com uma estruturação mais eficiente; aquisição de ativos digitais rentáveis, com facilidade pelos canais Itaú; e oferta de novos ativos digitais nunca vendidos antes.

A seleção de maus e bons agentes do mercado

Jeff prefere não opinar sobre previsão de preços para criptomoedas porque elas estão sujeitas a muitos fatores, que podem mudar tudo, mas ele é otimista sobre o futuro para o mercado.

“O que eu acho é que o mercado pode, nesse inverno cripto, consolidar processos e boas práticas. A implosão da FTX, a longo prazo, vai trazer benefício para o mercado cripto, porque as pessoas, cada vez mais, vão separar o joio do trigo, então, isso só vai fortalecer. E eu exergo que, com tecnologias, como Zero-knowledge Proof (ZKPs), por exemplo, consolidadas, a gente terá mais escalabilidade, mais transações no mundo cripto,” explicou. 

O que é Zero-Knowledge Proof?

É uma tecnologia que é tendência no mercado de blockchain e web3, principalmente, no que diz respeito ao ecossistema da rede Ethereum. Um método que usa a criptografia como prova de autenticidade, sem precisar revelar o conteúdo, entre as partes envolvidas na transação. 

Jeff Prestes conclui sua opinião, dizendo:

“Em 2024, 2025, ou quando tiver uma nova subida, exponencial, dos preços dos criptoativos, a gente terá uma infra-estrutura muito mais fortalecida e um ambiente de negócios, também, muito mais maduro.” 

Regulamentação das criptomoedas pode fortalecer o mercado

Outro especialista ouvido pelo Cryptonews, o advogado Rodrigo Caldas Borges, membro fundador da Oxford Blockchain Foundation, defende que o mercado sofreu muito, em 2022, com a derrocada da FTX, por uma questão de confiança.

“A medida que existe pouco ou baixo nível de conhecimento geral da população, em relação a essa nova classe de ativos, fraudes cometidas por empresas acabam gerando a desconfiança do investidor como um todo. Não conseguem segregar o que é a tecnologia do que é o ativo e o que são os maus atores e acabam ficando com aquela ideia de que o mercado não seria algo positivo ou legítimo. Isso é muito ruim”, disse Borges.

A boa previsão feita por Rodrigo é que, com o passar dos anos, a tendência é que essa desconfiança vá reduzindo, a medida em que os ativos vão se perpetuando no tempo. 

“Vale lembrar que o Bitcoin entrou em circulação, em 2009. A gente tá falando de um ativo, há 14 anos, sendo transacionado no mercado. Além disso, olhando o cenário brasileiro, vale lembrar que a gente teve a aprovação do marco legal dos criptoativos, no fim de 2022, então, agora, essa classe de ativos ela é reconhecida, legalmente, no país e tem uma série de regras ali a serem observadas”explicou o advogado. 

Os deputados aprovaram a regulação do comércio das criptomoedas no dia 29 de novembro de 2022. 

O Projeto de Lei 4401/21 acatado pelos deputados prevê que a regulamentação seja feita por um órgão do Governo Federal. Está inclusa na mira da lei, a prestação de serviços de ativos virtuais, como tokens, NFTs, criptomoedas e Smart Contracts.

Um dos objetivos é combater crimes de estelionato e lavagem de dinheiro. 

As responsabilidades do órgão regulador estão concentradas nas corretoras (exchanges), não nos investidores:

  • Autorização para que as prestadoras de serviços atuem no setor;
  • Definir as condições para exercer cargos em órgãos estatutários e contratuais em prestadora de serviços de ativos digitais;
  • Supervisão das corretoras;
  • Suspender, diante de desacordos, a autorização para a prestação de serviços pelas operadoras; 
  • Fixação das hipóteses em que as atividades deverão estar inclusas no mercado de câmbio ou deverão se submeter à legislação, já vigente, de capitais brasileiros no exterior e capitais estrangeiros no Brasil.

Rodrigo diz que a expectativa é que esse regulador infralegal seja o Banco Central, para fazer a regulamentação específica da matéria. 

“Com isso, a gente tem agilidade, na medida em que tira da discussão política e passa para um órgão técnico, a discussão regulatória do setor, o que possibilita uma maior interação entre o mercado, o regulador e até uma maior agilidade na promulgação das normas”, esclarece.  

O advogado vê com entusiasmo o futuro do setor de criptomoedas, com a regulamentação feita pelo Banco Central, tendo em vista trabalhos já realizados com instituições de pagamento e com o pix.

“Então, a expectativa é que isso aconteça e, com isso evoluindo, a tendência é que a gente tenha, cada vez mais, investidores institucionais entrando nesse mercado. E o surgimento de novos produtos e novas soluções, utilizando as bases da tecnologia blockchain, usada no mercado de criptoativos, concluiu” 

Opiniões divergentes sobre o futuro das criptomoedas

O que dizem os analistas e investidores estrangeiros sobre o futuro das criptomoedas? É o que veremos a seguir.

A revista exame publicou opiniões de analistas do mercado cripto, divergentes entre si, dadas no início deste ano, sobre o Bitcoin. Enquanto uns acreditam no crescimento exponencial da moeda, outros visualizam uma queda histórica.

De novo, vem a questão macroeconômica, na medida em que os investimentos em criptomoedas podem aumentar, ou diminuir, a depender de como as principais economias mundiais conduzirão as políticas monetárias, se haverá corte de juros.

A expectativa é, com menos juros, mais investimento em criptomoedas. Porém, até o momento, grandes potências mundiais, como os Estados Unidos, usam os juros altos para tentar controlar a inflação.

O famoso investidor de capital de risco, o americano, Tim Traper, é bastante otimista em relação ao Bitcoin. Ele acredita que a criptomoeda possa alcançar US$ 250 mil, até o fim deste ano. Seria um recorde histórico. 

Segundo sua fala à rede americana de televisão, CNBC, o argumento seria relacionado à participação feminina, no mercado.

“as mulheres controlam 80% dos gastos no varejo, e apenas 1 em cada 7 carteiras de bitcoin são atualmente detidas por mulheres, essa barragem está prestes a quebrar”.

Na previsão de Draper, essa participação feminina geraria uma alta de 1.400% do Bitcoin. Ele não acredita que a moeda volte a cair nessa fase crítica, atual.

A previsão do banco Standard Charted é pessimista e aponta para uma perda do Bitcoin, este ano, ainda maior que em 2022, com uma desvalorização que passa dos 70%.

Nos cálculos do banco, a cripto mais poderosa do planeta desceria ao patamar de US$ 5 mil.

A opinião da empresa, também, está relacionada ao ciclo de alta de juros dos Estados Unidos, que segue aterrorizando os mercados. Não só de criptomoedas. 

“apesar das vendas de bitcoin estarem desacelerando, o estrago já foi feito,” divulgou o banco.

Outro investidor americano, Mark Mobius, segue o pessimismo do banco, Standard Charted, porém, com uma previsão de US$ 10 mil para o Bitcoin, até o fim de 2023. Ele repetiu a mesma previsão para 2022, mas não acertou, já que a moeda fechou o ano em US$ 16,7 mil.

Ele segue o argumento dos mais desanimados:

“Com taxas de juros mais altas, a decisão de manter ou comprar Bitcoin e outras criptomoedas torna-se menos atraente, pois apenas segurar a moeda não pagará mais que os juros”, disse. 

Histórico de criptos comprova volatilidade

Ao considerar a volatilidade das criptomoedas, para pensar em previsões, vale a pena resgatar parte da trajetória das moedas que se tornaram referências para o mercado de criptoativos, o Bitcoin e o Ether.

Esse não é o primeiro e nem o pior inverno cripto do Bitcoin e, pelos dados históricos, não deve ser o último. A maior desvalorização da moeda foi em 2018, com uma perda de 71%.

O Ether, também, é um bom parâmetro para analisar esse momento crítico, porque ela é a segunda maior moeda digital, depois do Bitcoin. A cripto sofreu uma desvalorização de 68%, no ano passado, e assim como sua concorrente, registrou a maior perda, desde 2018.

Estamos falando sobre a maior blockchain do planeta, com mais de 2.500 projetos de finanças descentralizadas (DeFi). O maior valor foi alcançado, em setembro, US$ 1.982 e o mínimo foi a US$ 1.200.

Veja o desempenho das duas moedas, entre 2016 e 2022, segundo o CoinGecko.

Ano Bitcoin US$Ether US$
2016963,48
201713.850,40736,77
20184.039,70131,9
20197.196,40129,21
202028.949,40735,94
202146.219,503,677,35
202216.5391.194

Aprofundando as causas da crise

Como disseram os especialistas, Jeff Prestes e Rodrigo Borges, quem deseja investir em criptomoedas deve buscar autonomia para administrar seus próprios criptoativos. Um bom exercício para essa jornada é entender como o movimento do mercado influencia nos valores das moedas.

Inflação nos Estados Unidos

Foto de Aditya Vyas na Unsplash

Entre as análises apresentadas, a política monetária dos Estados Unidos é uma unanimidade como causa para a retração dos investimentos em criptoativos.

O Governo norte-americano fechou 2022 com uma inflação acumulada de 6,5%. Apesar de, ainda, ser uma preocupação, o índice demonstra desaceleração. No primeiro semestre do ano passado, ela chegou a 9%, a maior dos últimos 40 anos. 

A subida da inflação nos EUA foi consequência, entre outros fatores, da alta de preços dos combustíveis, por conta da guerra na Ucrânia.

Na tentativa de controlar a inflação, o Federal Reserve, equivalente ao Banco Central do Brasil, elevou a taxa de juros a 4,5%, patamar mais alto desde 2007. É uma forma de conter o consumo. 

Isso, também, implica que o investimento no Tesouro Americano (títulos de renda fixa emitos pelo Governo) se torna mais rentável e é tido como muito seguro. 

O resultado disso é que se torna mais atrativo investir no Tesouro Americano, em vez de aplicar em criptomoedas, que ao contrário dos títulos americanos, são um investimento de alto risco. 

Fraude na exchange FTX

Depois de ser preso, nas Bahamas, no fim do ano passado, o fundador e ex-CEO da plataforma de criptomoedas FTX, Sam Bankman-Fried (30), foi indiciado, por promotores dos Estados Unidos, por vários crimes, fraude eletrônica, fraude de valores mobiliários e lavagem de dinheiro.

Ele é acusado pelo mau uso de centenas de milhões de dólares de fundos dos clientes de sua empresa.

É nesse sentido que os especialistas, entrevistados pelo Cryptonews, se referem sobre separar o que são crimes no mercado cripto, do que é o mercado de criptomoedas, em si. 

Uma boa comparação pode ser o que ocorreu com a rede de Lojas Americanas, que teria relação com fraude, mas nem faz parte do mercado cripto.

Assim como na Americanas, um dos problemas da FTX, também, estaria em ocultar dos investidores a real situação financeira da empresa. 

O colapso da FTX afetou, fortemente, o mercado, por se tratar da terceira maior corretora de criptomoedas do mundo.

A exchange foi fundada em 2019 e, em julho de 2021, alcançou mais de um milhão de usuários e era a terceira maior exchange de criptomoedas em volume. 

No fechamento desta matéria, em 28 de janeiro, o Bitcoin valia US$ 22.997,24 com uma queda de 0,29%.

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