O que aconteceu com as Lojas Americanas? Saiba tudo agora.

Augusto Medeiros
| 7 min read

No dia 11 de janeiro, a própria Americanas publicou um comunicado onde dizia terem sido identificadas “inconsistências em lançamentos contábeis”, na companhia, com valor de R$ 20 bilhões.

Diretores que haviam assumido os cargos há nove dias, também, divulgaram estarem deixando os postos naquele dia.

Esse comunicado foi dirigido a acionistas e ao mercado em geral e, no dia seguinte, a bomba estourou na imprensa.

Imediatamente, a procura por notícias sobre as lojas Americanas disparou nos sites de busca, como o Google: rombo nas americanas; americanas rombo 20 bilhões; ações nas americanas hoje.

Todo mundo quer saber o que houve com uma das maiores redes de lojas do Brasil e aonde essa história vai parar. Isso significa que as Lojas Americanas vão fechar? 

A companhia Americanas gera no Brasil cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos e o risco desses funcionários perderem o emprego é uma das várias preocupações desde que foi noticiado o rombo de R$ 20 bilhões na contabilidade da empresa. As ações das Americanas despencaram quase 80% em um único dia. 

Enquanto acionistas tentam suspender o pagamento de dívidas, um dos credores da Americanas, o banco BTG, critica que a justiça esteja protegendo um “fraudador”, referindo-se à companhia. 

Mas o que, de fato, aconteceu sobre esse rombo na Americanas? É o que você vai saber, agora.

A descoberta do rombo de R$ 20 bilhões na Americanas

Da maneira mais simples, o que teria acontecido é que a Americanas pediu aos seus bancos que assumissem dívidas diante dos seus credores, ou seja, como a companhia não teria como assumir suas dívidas, os bancos fariam isso. Em troca, a Americanas pagaria com juros às instituições financeiras. Até aí, tudo dentro de uma certa normalidade, mas não foi só isso.

O problema é que essa transação não teria sido informada nos balanços contábeis da empresa. Não teria havido transparência.

A surpresa veio quando esse rombo foi descoberto, pela própria área contábil da companhia, depois de uma nova equipe de diretores assumir a empresa. O susto foi, exatamente, porque os investidores não sabiam da real fragilidade financeira da marca. Por isso, gerou um grande impacto negativo no mercado. 

No dia em que a situação veio a tona, houve uma queda de 77,33% no valor das ações da Americanas, na Bolsa de Valores de São Paulo. Um levantamento do TradeMap mostrou que essa foi a maior queda diária de uma empresa de capital aberto desde 2008.

Comunicado da Americanas na íntegra.

A seguir, divulgamos na íntegra o comunicado publicado pela Americanas no dia 11 de janeiro e divulgado na imprensa no dia seguinte. O documento é destinado aos acionistas e ao mercado em geral na forma de fato relevante:

Americanas S.A. CNPJ/ME nº 00.776.574/0006-60 NIRE 3330029074-5

FATO RELEVANTE

Americanas S.A. (“Americanas” ou “Companhia”), em atendimento ao disposto na Resolução CVM nº 44, de 23 de agosto de 2021, vem comunicar aos seus acionistas e ao mercado em geral que foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores realizados em exercícios anteriores, incluindo o exercício de 2022. Numa análise preliminar, a área contábil da Companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões na data-base de 30/09/2022. A Companhia estima que o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial. 

Neste momento, não é possível determinar todos os impactos de tais inconsistências na demonstração de resultado e no balanço patrimonial da Companhia. 

Entre as inconsistências mencionadas acima, a área contábil da Companhia identificou a existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem acima, nas quais a Companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores nas demonstrações financeiras de 30/09/2022. 

As estimativas acima estão sujeitas a confirmações e ajustes decorrentes da conclusão de trabalhos de apuração e dos trabalhos a serem realizados pelos auditores independentes, após o que será possível determinar adequadamente todos os impactos que tais inconsistências terão nas demonstrações financeiras da Companhia. 

Diante desses fatos e consequente alteração de prioridades da administração, o Diretor-Presidente Sergio Rial e o Diretor de Relações com Investidores André Covre, empossados em 2/1/2023, comunicaram sua decisão de não permanecer na Companhia, com efeito imediato. 

O Conselho de Administração nomeou interinamente para Diretor-Presidente e Diretor de Relações com Investidores o Sr. João Guerra, executivo com ampla trajetória na companhia nas áreas de tecnologia e recursos humanos, e não envolvido anteriormente na gestão contábil ou financeira. 

O Conselho de Administração decidiu, ainda, criar um comitê independente para apurar as circunstâncias que ocasionaram as referidas inconsistências contábeis, que terá os poderes necessários para a condução de seus trabalhos. 

Os acionistas de referência da Americanas, presentes no quadro acionário há mais de 40 anos, informaram ao Conselho de Administração que pretendem continuar suportando a Companhia, tendo o Sr. Sergio Rial como seu assessor nesse processo, prestando apoio na condução dos trabalhos. 

A Companhia manterá o mercado informado a respeito dos desdobramentos relevantes relacionados aos assuntos objeto deste Fato Relevante. 

Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2023 

Sergio Rial – Diretor Presidente 

André Covre – Diretor de Relações com Investidores

Investigações em andamento

Depois da saída dos novos diretores, como foi divulgado no comunicado, uma das medidas da Americanas foi criar o Comitê Independente para apurar as circunstâncias que ocasionaram as inconsistências contábeis.

Outra iniciativa foi divulgar um comunicado aos clientes das lojas para informar que o funcionamento da rede continuaria normalmente:

Providências na Justiça

A Americanas recorreu à Justiça para tentar reduzir os impactos da crise e evitar que a situação se agravasse. A companhia pediu ao Juízo da 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro para suspender vencimentos antecipados e efeitos de inadimplência e o pedido foi aceito.

Isso quer dizer que, diante da crise, os credores não poderão usar o recurso de pedir para as dívidas serem pagas com antecedência.

Claro, os credores não gostaram nada da decisão. O banco BTG criticou os acionistas de referência da empresa e apresentou um agravo ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro contra a decisão do Juízo da 4ª Vara.

Para o BTG, o rombo da Americanas é resultado de uma fraude, como eles expõem no documento do agravo, publicado pelo Jornal do Comércio:

“O objetivo era simplesmente concluir a fraude sem exposição dos verdadeiros atores por trás do fracasso. O escândalo da Americanas não se trata de um rombo recente, mas construído ano a ano há mais de década, tudo parte de um plano engendrado para lucrar às custas de todo o mercado financeiro e sair ileso, com bens blindados no exterior”, afirma a defesa do banco, feita pelos escritórios Galdino&Coelho Pimenta Takemi Ayoub e FCDG Ferro, Castro Neves, Daltro & Gomide.

Dívida pode chegar a R$ 40 bilhões

A Americanas informou que, caso os vencimentos antecipados não fossem suspensos, a dívida poderia subir para R$ 40 bilhões, já que quase todos os contratos têm a cláusula de vencimento antecipado.

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