Argentinos afetados pela crise escaneiam a própria íris em troca de criptomoedas

Pedro Augusto
| 3 min read

criptomoedas

No coração de Buenos Aires, um shopping se tornou o palco para uma cena cada vez mais comum. Pessoas se aproximavam de um estande da Worldcoin para registrar sua íris em troca de criptomoedas.

Centenas de milhares de argentinos estão buscando alternativas para mitigar os impactos da inflação e dos ajustes fiscais que afetam o país.

Os voluntários são recompensados com US$ 80 em criptomoedas

Com 64 anos e sem perspectivas de emprego devido à sua idade, Sosa, um professor de artes marciais, encontrou-se em uma encruzilhada.

“Faço isso porque não tenho um peso, não há outra razão. Não queria fazer isso, mas devido à minha idade ninguém me dá trabalho, e eu preciso do dinheiro”, revela Sosa em tom resignado.

Diante de Sosa, uma esfera prateada equipada com uma câmera, digna de um cenário de ficção científica, captura a imagem de sua íris. Esse breve processo promete adicionar cerca de US$ 80 em tokens à sua carteira digital, um pequeno alívio financeiro para quem enfrenta dificuldades econômicas.

Os quiosques da Worldcoin, que já somam 250 espalhados por toda a Argentina, têm se tornado pontos de encontro frequentes para pessoas com perfis similares ao de Sosa.

Recentemente, notou-se um aumento significativo no número de filas em diversos desses estandes em Buenos Aires, onde jovens operadores manuseiam um ou dois dispositivos capazes de realizar o escaneamento de dados biométricos.

A empresa por trás do procedimento polêmico

Lançada em 2023 sob a cofundação de Sam Altman, CEO da OpenAI, a Worldcoin apresenta uma inovadora proposta de criptomoeda com sistema de verificação de identidade baseado no escaneamento da íris.

A operação da Worldcoin está sob escrutínio regulatório em diversos países. Autoridades do Quênia, Espanha e Portugal já exigiram a suspensão da coleta de dados biométricos pela empresa até a conclusão de investigações sobre suas práticas.

No entanto, na Argentina, a proposta da Worldcoin encontrou um local em que é aceito. O país, que enfrentou uma inflação alarmante de 211% em 2023 e agora passa por ajustes econômicos sob a gestão do presidente ultraliberal Javier Milei, viu pelo menos 500 mil de seus cidadãos escanearem suas íris até o começo de 2024.

Esse número representa mais de 15% dos 3 milhões de participantes globais, conforme indicam as últimas informações divulgadas pela companhia.

Miriam Marrero, uma caixa de supermercado de 42 anos, exemplifica a situação de muitos argentinos ao explicar sua participação. Em meio a dificuldades financeiras e salários insuficientes, recorreu ao escaneamento de íris por dinheiro, com o intuito de auxiliar um amigo na construção de sua casa.

Objetivos da Worldcoin

A visão da Worldcoin vai além de uma simples troca de dados biométricos por dinheiro. A empresa almeja criar a “maior rede financeira e de identificação do mundo”.

Dessa forma, ela utilizará a tecnologia blockchain para um passaporte digital que permite aos usuários provar sua identidade online de maneira segura, sem a necessidade de expor outros dados pessoais.

Por fim, com promessas de “recursos de segurança altamente avançados”, a Worldcoin assegura que nem a Worldcoin Foundation, nem sua afiliada, Tools for Humanity, comercializaram, comercializam ou comercializarão dados pessoais dos usuários, incluindo os biométricos.

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