Saiba como o colapso bancário dos EUA pode impactar o setor de criptomoedas

Killian A.
| 7 min read

O dia 10 de março de 2023 foi marcado pelo fim do Silicon Valley Bank (SVB), que estava há mais de 40 anos no mercado e era considerado o principal banco utilizado pelas startups.

Na última semana, com o aumento de juros nos Estados Unidos, os clientes financeiros começaram a sacar recursos em massa das instituições bancárias. Com isso, os bancos se viram sem recursos disponíveis para realizar os pagamentos e sem a possibilidade de vender os ativos de médio ou longo prazo, em razão do prejuízo bilionário que isso poderia trazer.

Com o colapso do Silicon Valley Bank, foram adotadas medidas para evitar mais danos e, em razão do receio de que a falência se espalhasse pelo mercado, o FDIC e o Federal Reserve decidiram fechar o Signature Bank, devido a um risco sistêmico semelhante ao SVB. Ou seja, o colapso do Signature Bank foi desencadeado em grande parte pela queda do Silicon Valley Bank.

Poucos bancos estavam tão profundamente envolvidos nas empresas de criptomoedas quanto o Signature Bank e o Silvergate, e sua queda é um golpe simbólico e prático para o setor. As instituições ofereciam uma maior legitimidade para as empresas de criptomoedas e forneciam serviços importantes aos clientes, como a possibilidade de realizar transações 24 horas por dia.

Muitas pessoas no setor viam o Signature como o último recurso para que as empresas de criptomoedas pudessem ter vínculos com as instituições financeiras tradicionais e acreditavam que o banco provavelmente assumiria um papel preferencial para o setor de ativos digitais.

Sem dúvidas, o Signature Bank desempenhou um papel muito importante no ecossistema cripto, por se tratar de uma empresa sediada em Nova York regulada pelas leis financeiras abrangentes do Estado e que deu credibilidade ao setor de criptomoedas, ao possibilitar que as empresas de ativos digitais tivessem um banco de Nova York e regulamentado prestando serviços para o setor.

É provável que os reguladores federais examinem outros bancos que oferecem serviços de criptomoedas, enquanto as instituições financeiras tradicionais podem se afastar de tais serviços, devido ao custo de manter a conformidade e a volatilidade do mercado.

Impacto do colapso bancário dos EUA no setor de criptomoedas

O grande problema para os investidores é que a falência dos bancos dos EUA pode afetar também o mercado de criptomoedas, mas provavelmente sem um grande impacto direto nos protocolos nativamente descentralizados e que não dependem de pontes com o sistema bancário tradicional para a sua existência, como é o caso do Bitcoin.

Ainda assim, é possível que ocorra um grande abalo para a comunidade cripto como um todo, principalmente neste momento, alguns dias após o colapso do banco Silvergate, que anunciou, no dia 8 de março, que estava encerrando as suas operações e sendo liquidado.

Dessa forma, as falências bancárias provavelmente terão consequências negativas a longo prazo. Além de uma possível diminuição na capitalização do mercado de ativos digitais, eventos recentes provavelmente podem minar a confiança em instituições financeiras que atuavam de forma parceira com as criptomoedas e, assim, retardar o desenvolvimento das relações entre TradFi e os investidores de criptomoedas.

À medida que as instituições bancárias sofrem colapsos como este que está sendo vivenciado, as empresas de criptomoedas podem ser forçadas a repensar as suas participações financeiras, levando-as a considerar opções bancárias alternativas, que muitas vezes podem ser mais arriscadas.

Isso reacendeu o debate entre os investidores sobre se os bancos criptos deveriam ser separados dos bancos tradicionais ou se deveriam ser integrados ao sistema financeiro já existente. 

Em meio à crise, um momento importante para o Bitcoin e para o Ethereum

Uma consequência não intencional, mas muito importante no cenário de criptomoedas é o fato de que essa situação de colapso bancário serviu para ressaltar a importância do Bitcoin.

No curto prazo, o impacto certamente pode ser negativo para a indústria cripto, mas de outro ponto de vista, o Bitcoin pode estar prestes a prosperar à medida que a criptomoeda pode oferecer um refúgio para pessoas transferirem os seus fundos.

Como a própria criação do Bitcoin foi o resultado da ideia de fornecer um refúgio seguro para crises financeiras como essa, a proposta de valor do Bitcoin só tende a aumentar com a atual crise das instituições financeiras tradicionais. Muitas pessoas em todo o mundo estão transferindo os seus ativos para criptomoedas o mais rápido possível, e a principal delas é o Bitcoin.

Além disso, de acordo com dados recentes, o Ethereum (ETH), a segunda maior criptomoeda do mercado, experimentou uma entrada líquida de, aproximadamente, US$ 1 bilhão, com um fluxo positivo de US$ 50,6 milhões para as exchanges.

Impacto do colapso bancário na Circle e nas reservas USDC

Com o colapso bancário dos EUA, a Circle, uma empresa de tecnologia financeira, sofreu um revés significativo em suas reservas em USDC. A empresa anunciou, recentemente, que US$ 3,3 bilhões, que representam 8,2% de sua reserva total do USDC de US$ 40 bilhões, estão atualmente presos em contas apreendidas pelo SVB, o que causou um temor generalizado e consequente pedidos de resgate.

O impacto da Circle foi sentido em várias das principais exchanges, e algumas foram forçadas a suspender os seus serviços de conversão de USDC. A Binance, por exemplo, suspendeu as conversões automáticas de USDC para BUSD, enquanto a Coinbase suspendeu temporariamente as conversões de USDC para USD.

Assim, ao contrário do Bitcoin, o USDC, por ser um ativo digital representativo de bens e direitos do mercado tradicional e que tinha parte da sua reserva com o Silicon Valley Bank, despencou para US$ 0,88. No entanto, alguns especialistas acreditam que o preço do USDC deve voltar ao normal assim que o expediente bancário nos Estados Unidos começar, tendo em vista que os fundos serão devolvidos após intervenção do Fed.

A perda de indexação do USDC também afetou a stablecoin USDD, da Tron. Os investidores venderam seus USDD, fazendo com que perdesse a sua paridade e fosse negociado em baixa, a US$ 0,93, na última semana.

O DAI, parcialmente apoiado pelo USDC, também foi negociado em baixa, por cerca de US$ 0,90. Os traders responderam ao colapso migrando para o Tether, a maior stablecoin do mundo, que tem um valor de mercado de mais de US$ 72 bilhões e não está exposto ao SVB. No entanto, as preocupações sobre as práticas e reservas de negócios do Tether permanecem.

A gravidade da situação da Circle e seu efeito cascata no ecossistema financeiro mais amplo levantaram novamente as preocupações sobre a estabilidade do mercado de criptomoedas, trazendo à tona mais uma vez que o mercado de ativos digitais é altamente imprevisível e volátil.

Empresas financeiras também foram afetadas pela crise bancária nos EUA

A insegurança sobre a possibilidade de ocorrerem novas falências bancárias, após o colapso dos bancos nos EUA, causou um declínio nas ações tradicionais de empresas financeiras.

Com isso, outras áreas do mercado testemunharam um aumento nos preços, já que os investidores esperavam que os eventos recentes levassem o Fed a reconsiderar a sua estratégia de aumentar as taxas de juros, o que causou perturbações na economia, apesar de diversas tentativas das empresas em tranquilizar os investidores de que os outros bancos não seriam afetados pelos mesmos problemas do Silicon Valley Bank (SVB).