Como comprar criptomoedas com segurança

Augusto Medeiros
| 8 min read

Se os cybercrimes são uma preocupação para quem já tem intimidade com o mercado de criptomoedas, imagine para quem está chegando. Mesmo quem tem experiência não está blindado contra golpes. Por isso, informação é a maior ferramenta para reduzir os riscos e se sentir mais seguro ao realizar transações digitais.

Um desafio é entender com clareza como esses crimes são cometidos. É importante a prevenção, porque existe pouca perseguição policial sobre cibercrimes de escala menor, que acabam sendo investigados por detetives independentes.

Especialista dá dicas para comprar bitcoin

O analista de valores e médico oftalmologista membro do conselho fiscal na Unimed americana, Edson Ichiara, escreveu para o site, Me Poupe, sobre como comprar bitcoin e outras criptomoedas com segurança.

Ele indica procurar as exchanges com maior volume de operações e não aconselha comprar, diretamente, com pessoa física, pois, considera muito arriscado.

“Prefiro comprar de uma empresa porque consigo provar para a Receita Federal a origem do meu Bitcoin e posso pesquisar sobre a empresa antes de fazer a operação.”

Ele indica dois sites que mostram as maiores exchanges do Brasil, Bitvalor e CoinMarketCap.

Ichiara também orienta pesquisar o CNPJ da Exchange. Basta jogar no site de buscas o nome da empresa e a palavra CNPJ. Depois, com o CNPJ em mãos, o investidor deve partir para o site da Receita Federal e checar a situação da exchange.

E a última dica do especialista é observar a dificuldade de cadastro para novos clientes da exchange. Ele considera que isso é sinal de que a empresa dificulta a entrada de fraudadores. Edson explica que, se o cadastro exigir documentos, fotos, comprovante de residência, é porque a exchange é mais segura.

Veja quais as melhores plataformas de negociação de futuros de criptomoedas que atuam no Brasil.

Maioria dos golpes chega por Whatsapp

No ano passado, uma pesquisa da Comissão de Valores Mobiliários revelou que a maior parte dos golpes financeiros envolve criptomoedas (43,3% dos entrevistados) e chega às vítimas por meio do aplicativo Whatsapp (27,5% dos entrevistados).

Os entrevistados contaram por que caíram no golpe:

  • Aparência do site transmitindo confiança (39,9%);
  • Familiares ou amigos que já haviam feito o investimento (38,8%);
  • Bom atendimento por parte dos profissionais (35,4%);
  • Pequeno montante de dinheiro exigido (30,9%);
  • Desconhecimento da modalidade do golpe (24,7%).

Golpes mais comuns

Puxão de tapete – rug pull

O nome desse golpe faz lembrar um termo popular muito usado no Brasil para se referir a alguém que foi enganado por um conhecido. Essa é a lógica do crime, fazer a pessoa acreditar em quem oferta e, após comprar os tokens, vem o susto.

Esse é um golpe de criptografia em que um grupo bombeia o token antes de desaparecer com os fundos. Os investidores ficam com um ativo sem valor.

Entenda o passo a passo do crime:

  1. Os cibercriminosos desenvolvem um token de criptografia e colocam à venda;
  2. Em seguida aumentam o valor;
  3. Extraem o máximo que podem do valor;
  4. Por fim, abandonam o token e aí o valor cai para zero.

Existem três tipos mais praticados de rug pull:

Roubo de liquidez: os criadores de token retiram todas as moedas do pool de liquidez, levando o valor do token a zero;

Limitação de ordens de venda: os tokens são criptografados de forma que apenas os fraudadores sejam capazes de vendê-los;

Dumping: se você se sentir atraído por uma promoção irresistível, divulgada em redes sociais, aí pode estar o puxão de tapete “dumping”. É que os desenvolvedores vendem, rapidamente, seu próprio grande suprimento de tokens, o restante perde valor e deixa os investidores no prejuízo.

Como se proteger do puxão de tapete

  • Não confie em qualquer desenvolvedor. É importante pesquisar quem está por trás da oferta de novos projetos de criptomoedas. Eles são conhecidos? São anônimos? Quem são os promotores? Nesse caso, participar de comunidades pode ajudar a encontrar informações valiosas. Mas sempre desconfiando de qualquer suspeita;
  • É bom destacar que a falsificação de perfis em redes sociais pode levar o investidor a acreditar num fraudador. A desconfiança deve ser maior com perfis novos e com o baixo profissionalismo das mídias usadas;
  • Verifique se a moeda tem bloqueio de liquidez. Sem bloqueio de liquidez, os fraudadores podem fugir com toda a liquidez;
  • Mais um ponto fundamental sobre liquidez. Tem que se atentar ao Valor Total Bloqueado (VTL) do pool de liquidez. Ele deve estar entre 80% e 100%;
  • Pesquise sobre o limite de ordens de venda. Se houver privilégio para alguns investidores, em detrimento de outros, isso pode ser um sinal de fraude;
  • Como não é fácil descobrir sobre os bloqueios, uma dica é comprar uma pequena quantidade e tentar vender imediatamente, caso não consiga, é um sinal de fraude;
  •  Outro sinal são as variações repentinas muito altas dos valores das moedas. Isso deve ser encarado com cautela;
  • Muitos golpes têm uma característica em comum e que deve ser observada, também, no caso das moedas digitais. Quando a vantagem parece ser boa demais, é porque, provavelmente é. Então, atenção a ofertas tentadoras.
  • Tornou-se padrão haver auditorias externas para validar novas criptomoedas. Isso deve ser checado. E veja se a auditoria é feita por pessoas com credibilidade e se o resultado foi positivo;
  • Por fim, controlar a ansiedade antes da compra é fundamental para ter um tempo dispensado a uma pesquisa mais profunda, que traga informações de confiança.

Phishing – o golpe do site falso

Esse é outro golpe, comumente, aplicado em investidores que são levados a clicar em links de sites falsos, onde os criminosos “pescam” (phishing) os dados pessoais do usuário e utilizam para roubar suas criptomoedas.

Nesse caso, o mais importante é estar atento a links que chegam por e-mail ou redes sociais e não clicar sem ter segurança do que se trata. Há casos em que o criminoso invade contas verificadas de Twitter para oferecer ofertas tentadoras.

Inclusive, existem golpistas que oferecem ajuda para pessoas que já foram vítimas de fraude. Eles se apresentam como desenvolvedores de blockchain.

Sorteios de criptomoedas

Usando perfis falsos, até mesmo, se passando por gente famosa, os criminosos postam sorteios nas redes sociais, pedindo que os usuários façam depósitos de criptomoedas, com a promessa de que a pessoa poderá ganhar o dobro de moedas digitais.

Uma dica é ter atenção a pequenas diferenças entre o nome do perfil falso e o nome da pessoa famosa. Mas é bom lembrar que os cibercriminosos conseguem invadir perfis de famosos. Ou seja, cuidado com as ofertas tentadoras, em qualquer circunstância.

Veja aqui alguns sorteios de criptomoedas confiáveis pesquisados por nossa equipe.

Esquema Ponzi

Os criminosos usam plataformas (tranding bots – bosts de negociação) que ofertam grandes vantagens. Daí praticam o esquema Ponzi. 

Eles usam o dinheiro que entra para pagar rendimentos a outras pessoas, que já estavam investindo na plataforma. Isso configura o golpe de pirâmide. Quando acumulam muitos fundos, eles somem com o dinheiro e encerram o site.

Para se proteger desse golpe, serve a dica básica, desconfiar de ofertas tentadoras, e outra forma de descobrir que se trata de fraude, é tentar verificar quem está por trás da plataforma. Normalmente, não há, sequer, informações sobre a equipe.

Segundo a Polícia Federal, Sasha Meneghel, filha da apresentadora Xuxa, foi lesada em R$ 1,2 milhões em um crime de criptomoedas. Segundo nota da defesa de Sasha e do marido, João Figueiredo, eles teriam sido vítimas do esquema de pirâmide, conforme divulgação do site G1:

“É preciso diferenciar o que é cripto e o que é pirâmide, golpe. Investimento em criptomoedas é uma tendência mundial e o Brasil tem sido destaque, isso é inegável”, diz nota assinada pelos advogados Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso

Ações governamentais podem ampliar a segurança cibernética

Um Projeto de Lei que tramita na Câmara dos Deputados pode ser um grande passo rumo a transações mais seguras de criptomoedas, no Brasil. A PL 4401/2021 prevê a regulamentação pelo Banco Central.

Ementa PL4401/2021:

Dispõe sobre a inclusão das moedas virtuais e programas de milhagem aéreas na definição de “arranjos de pagamento” sob a supervisão do Banco Central.

O diretor de relações governamentais da exchange de criptomoedas brasileira Mercado Bitcoin, Julien Dutra, disse à revista Exame que a regulamentação coloca o Brasil na vanguarda mundial, ao lado de países como os Estados Unidos e Alemanha.

O procurador federal da AGU (Advocacia Geral da União), Grégore Moreira de Moura, escreveu na coluna da Folha de São Paulo, Tendências/Debates, que é preciso haver uma estratégia governamental de segurança para combater os crimes cibernéticos. Ele sugere algumas ações:

“Incentivar a autorregulação privada da internet como papel fundamental na prevenção desse tipo de criminalidade; investir em cibersegurança como forma de diminuição de oportunidades para os criminosos; promover mecanismos de inteligência e defesa cibernética; propor um plano de educação cibernética; controlar a disseminação de informações falsas; aumentar a cooperação internacional e, por fim, desenvolver uma política de segurança para combater os crimes informáticos.” 

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