Relatório da Chainalysis aponta queda nas fraudes, mas aumento dos mercados de ransomware e darknet

O ano de 2022 foi de escândalos de fraudes e quedas de preço no mercado de criptomoedas. No entanto, 2023 foi um ano de recuperação dos criptoativos e de crescimento da atividade do mercado. Por isso, muitos acreditam que a má fase acabou.

As recentes notícias sobre a alta do Bitcoin e a supervalorização das meme coins parecem confirmar isso. Mas e quanto às fraudes envolvendo criptomoedas? A Chainalysis, empresa americana de análises de blockchain, divulgou recentemente um relatório de crimes com criptomoedas em 2024. O documento mostra uma queda nas fraudes e no volume de fundos roubados.

Segundo o relatório, em 2023 houve uma queda no valor enviado para endereços de carteiras digitais ilícitas: de US$ 39,6 bilhões em 2022 para US$ 24,2 bilhões.

No entanto, a Chainalysis adverte para o fato de que essa estimativa pode aumentar quando esses dados forem atualizados. Isso porque os dados são baseados nos endereços ilícitos identificados até o momento. Novos endereços sempre podem ser descobertos. Por exemplo, o relatório do ano passado estimava um valor de crimes de criptomoedas de US$ 20,6 bilhões, que depois foi atualizado para US$ 39,6 bilhões.

Caso FTX é exceção


Outra razão para essa diferença é que o relatório passado não incluía os US$ 8,7 bilhões em reclamações de credores contra a FTX. A Chainalysis explicou que decidiu não colocar o valor das transações da FTX e outras firmas que colapsaram naquele ano sob alegação de fraude enquanto o processo legal ainda estava ocorrendo.

No entanto, já que um júri decidiu que o CEO da FTX era culpado de fraude, esse valor foi incluído no relatório deste ano.

Além disso, a Chainalysis explicou que esse valor de US$ 8,7 bilhões em reivindicações dos credores contra a FTX é a melhor estimativa a ser incluída. Isso porque o relatório leva em conta apenas as atividades mensuráveis na rede nas estimativas de atividades ilícitas. No caso da FTX, é impossível usar apenas dados on-chain para medir o tamanho das atividades fraudulentas.

Por fim, a Chainalysis explicou que está tratando o caso da FTX como uma exceção à sua metodologia habitual por causa do tamanho do impacto desse escândalo. Mas eles irão incluir novos valores em relatórios futuros caso haja novas condenações.

Relatório da Chainalysis aponta queda nas fraudes, mas aumento dos mercados de ransomware e darknet

Receitas de fraudes e hacking caíram significativamente


Segundo o relatório da Chainalysis, a receita ilícita total das criptofraudes caiu 29,2% em 2023 com relação a 2022. Já a receita ilícita do hacking caiu 54,3%.

A Chainalysis mostra que houve uma mudança no perfil dos golpes. Muitos golpistas de criptomoedas estão adotando as táticas de golpes românticos. Esses golpes buscam construir relacionamentos com as vítimas, para apresentá-las a oportunidades de investimento fraudulentas. Portanto, são golpes mais difíceis de desmascarar.

Portanto, eles acreditam que o verdadeiro dano das fraudes é maior do que mostram as métricas do seu relatório. Embora tenha havido um aumento de denúncias, ao menos nos EUA, eles acreditam que as informações, especialmente das fraudes românticas, ainda sejam sub notificadas.

Por outro lado, o hacking de criptomoedas é muito mais difícil de esconder. Afinal, os observadores da indústria podem detectar rapidamente os fluxos incomuns de um determinado serviço ou protocolo quando um hacking ocorre.

O relatório mostra um declínio nos fundos roubados, que é impulsionado principalmente pela queda acentuada no hacking de DeFi. Essa queda pode representar a reversão de uma tendência perturbadora de longo prazo. Além disso, pode significar que os protocolos DeFi estão melhorando suas práticas de segurança.

O DeFi é o nome de um conjunto de serviços e produtos financeiros (empréstimos, transferências e sistemas de pagamentos), que rodam em uma blockchain. No geral, essas soluções não são controladas por intermediários, como bancos ou outras instituições financeiras.

Por fim, a Chainalysis adverte que as métricas de fundos roubados são fortemente orientadas por valores atípicos e um grande hacking pode novamente mudar a tendência.

Mercado de ransomware e darknet em ascensão


Enquanto as fraudes e o hacking caíram no último ano, os mercados de ransomware e darknet aumentaram. Contrastando com a tendência geral, elas são as duas formas mais proeminentes de criptocrime que tiveram um aumento das receitas em 2023.

O aumento das receitas pode sugerir que os invasores de ransomware se ajustaram às melhorias de segurança cibernética das organizações. Aliás, essa tendência havia sido relatada pela primeira vez, pela Chainalysis, no início deste ano.

No entanto, após as quedas acentuadas no ano passado, o crescimento da receita de ransomware acaba sendo mais impactante. Além disso, os mercados da darknet ganharam pelo menos US$ 1,7 bilhões em receitas em 2023, mostrando tendência de alta em relação a 2022.

Esse crescimento nas receitas da darknet veio após um declínio em 2022. Afinal, naquele ano tivemos o encerramento da Hydra, que foi, de longe, o maior mercado do mundo. No seu auge, a Hydra chegou a capturar mais de 90% de todas as receitas do mercado darknet.

O relatório revela que, embora nenhum mercado tenha substituído o Hydra em termos de tamanho, os mercados menores estão prosperando. Eles estão fazendo isso porque conseguem atingir nichos específicos e desenvolver mais “funções especializadas”.

Entre esses mercados, a Chainalysis destacou o Mega Darknet Market como líder do grupo, com mais de US$ 500 bilhões em transações de criptomoedas.No entanto, a receita gerada pelos mercados da darknet ainda não retornou aos picos registrados na época do Hydra.

Entidades sancionadas impulsionam atividades ilícitas


O relatório de crimes de criptomoedas da Chainalysis também mostrou uma proeminência das transações relacionadas com sanções no volume de transações ilícitas. Afinal, as entidades e jurisdições sancionadas representam, em conjunto, um volume combinado de transações no valor de US$ 14,9 bilhões em 2023. Esse valor representa 61,5% de todo o volume de transações ilícitas medido no ano.

Aliás, a maior parte do total é impulsionada por serviços de criptomoeda sancionados pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, na sigla em inglês), do Departamento do Tesouro dos EUA.

Além disso, o relatório mostrou uma mudança nas sanções da OFAC ligadas às criptomoedas em 2023. Afinal, elas se voltaram mais para grupos e atores individuais, afastando-se dos principais mercados da darknet, como o Garantex e o Hydra, incluindo mixers como o Tornado Cash.

A lista de indivíduos sancionados ligados às criptomoedas inclui ainda o grupo de hackers norte-coreano Kimsuky, o mixer de criptomoedas Sinbad.io, a russa Ekaterina Zhdanova e a MSB Buy Cash, sediada em Gaza.

Mudança nos tipos de ativos


Além da redução no valor absoluto da atividade ilícita, o relatório também mostra uma queda na participação de todo o volume de transações cripto associadas à atividade ilícita. Essa queda foi de 0,42% em 2022 para 0,34% este ano.

Além disso, o relatório aponta para uma mudança nos tipos de ativos envolvidos em crimes baseados em criptomoedas. Afinal, ao longo de 2021, o Bitcoin foi a criptomoeda preferida dos cibercriminosos, provavelmente por causa da sua alta liquidez. No entanto, isso mudou desde então, e as stablecoins representam agora a maior parte de todo o volume de transações ilícitas.

Segundo a Chainalysis, essa mudança também acompanha o recente crescimento na participação das stablecoins nas criptoatividades em geral, incluindo as legítimas.No entanto, esse domínio das stablecoins não ocorre em todos os tipos de crimes baseados em criptomoedas. Por exemplo, algumas atividades ilícitas, como vendas no mercado darknet e extorsão de ransomware, ainda têm o predomínio do Bitcoin.

Por outro lado, golpes e transações associadas a entidades sancionadas mudaram para stablecoins. Isso acaba ajudando o aumento da sua participação no volume total de transações ilícitas. Afinal, como visto acima, as transações associadas a entidades sancionadas têm o maior volume de receitas ilícitas nos criptocrimes.

Além disso, o relatório explica a preferência pelas stablecoins nesses tipos de criptocrimes. As entidades sancionadas, aquelas que operam em jurisdições sancionadas e as envolvidas com financiamento do terrorismo podem enfrentar mais desafios para acessar o dólar americano por meios tradicionais. No entanto, ainda querem se beneficiar da estabilidade que ele proporciona.

Por fim, o relatório lembra que os emitentes de stablecoins podem congelar fundos quando tomam conhecimento da sua utilização ilícita. Por exemplo, a Tether fez isso recentemente com endereços ligados ao terrorismo e à guerra em Israel e na Ucrânia.

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