Investigação revela uso de documentos falsos e empresas de fachada por emissores de Tether (USDT) para acessar sistema bancário global

Joel Frank
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Criptomoeda Tether. Imagem: Adobe

Para manter o acesso ao sistema bancário global, as empresas por trás do emissor da stablecoin Tether (USDT), com sede em Singapura, usaram uma mistura de documentos fraudulentos, identidades obscuras e empresas de fachada, de acordo com reportagem do Wall Street Journal.

O valor do USDT está atrelado ao dólar americano e apoiado em 1:1 com dólares americanos/equivalentes líquidos, segundo informações da empresa Tether Limited. USDT é a maior stablecoin por capitalização de mercado, com US$ 71,124 bilhões em tokens atualmente em circulação.

Os volumes de comércio do Tether estão tipicamente parecidos aos de Bitcoin e Ether combinados. De acordo com a CoinMarketCap, USDT obteve US$ 37,23 bilhões em volumes de negociação nas últimas 24 horas, contra os US$ 25,65 bilhões do Bitcoin e US$ 9,7 bilhões do Ether.

Uso de táticas não convencionais para manter acesso bancário

De acordo com o Wall Street Journal, o uso de táticas não convencionais pela equipe por trás da criptomoeda Tether para manter o acesso ao sistema bancário global começou em 2017, mas foi no final de 2018 que o método ilegal ganhou dimensão. O artigo revela:

“No final de 2018, as empresas por trás da criptomoeda mais comercializada estavam lutando para manter seu acesso ao sistema bancário global. Alguns de seus financiadores recorreram a intermediários sombrios, documentos falsificados e empresas de fachada para voltar a entrar no sistema, mostram os documentos. Um desses intermediários, um dos maiores comerciantes da China, estava tentando `contornar o sistema bancário fornecendo faturas e contratos de vendas falsos para cada depósito e retirada`, disse Stephen Moore, um dos proprietários da Tether Holdings Ltd., em um e-mail interceptado pelo The Wall Street Journal.”

Ainda em 2017, a Wells Fargo & Co parou de processar transações de várias das contas bancárias da firma de criptografia de Taiwan. Representantes da Tether disseram em uma ação judicial contra o banco na época que isso era “uma ameaça existencial para os negócios”.

Os documentos citados pelo jornal revelaram que os emissores de Tether abriram novas contas em Taiwan que foram mantidas em confiança pelo executivo da Hylab Technology Ltd. Chrise Lee, embora as contas tenham sido abertas sob o nome de Hylab Holdings Ltd.

Enquanto isso, uma conta separada foi aberta na Turquia por uma empresa chamada Deniz Royal Dis Ticaret –  conta que, desde então, tem estado na mira do Departamento de Justiça dos EUA por supostamente ser usada para lavar dinheiro para um grupo terrorista.

Empresa do Panamá também envolvida no esquema fraudulento

Bitfinex, uma firma irmã da Tether, também transferiu mais de US$ 1 bilhão para uma empresa agora com sede no Panamá, chamada Crypto Capital Corp. As informações dão conta de que a Crypto Capital era conhecida por iniciar empresas de fachada para abrir contas bancárias para empresas de criptografia.

A Bitfinex alega agora que tinha sido enganada pela Crypto Capital Corp, que teve cerca de US$ 850 milhões de seus ativos apreendidos por supostas fraudes bancárias e lavagem de dinheiro.

Táticas enganosas usadas para expandir acesso a bancos dos Estados Unidos

Os documentos também revelam táticas enganosas usadas pela empresa Tether e seus financiadores para expandir o acesso bancário dos EUA com o Signature Bank de Nova York.

Em 2018, a Signature já havia fechado duas contas ligadas à Tether e suas empresas associadas, ao mesmo tempo em que rejeitava um pedido de conta da Bitfinex.

Entretanto, a corretora de combustível de aviação AML Global logo se aproximou do Signature Bank para abrir uma conta, alegando que queria usar a conta para negociar na bolsa cripto sediada nos Estados Unidos Kraken para cobrir sua exposição global à moeda.

O pedido de conta não revelou que Christopher Harbourne, o proprietário da AML Global, também possui cerca de 12% da Tether e Bitfinex, mas sob um nome diferente, Chakrit Sakunkrit.

Nomes falsos e informações subtraídas

O nome Chakrit Sakunkrit havia sido previamente incluído na lista negra, pois alguém do Signature Bank considerou que ele estava tentando fugir das medidas contra a lavagem de dinheiro quando as contas anteriores da Tether e empresas relacionadas haviam sido fechadas.

A conta da AML Global foi provisoriamente concedida, mas logo fechada depois que os executivos do Signature Bank notaram que a atividade da conta estava ligada à Bitfinex, e não à Kraken, como a AML Global havia alegado.

Efeito imediato nos preços cripto

Os preços das principais criptomoedas caíram após a divulgação da reportagem, o que dará aos críticos de Tether mais munições para aumentar o FUD. Alguns afirmam que o USDT não é apoiado 1:1 por dólares americanos ou equivalentes, como alegam os desenvolvedores de Tether.

Logo após a publicação da reportagem, Bitcoin foi negociado em torno de US$ 22.300, tendo caído cerca de 4,8% nas últimas 24 horas (em 06/03). Ether foi negociado no mesmo período em torno de US$ 1.560, com uma queda de cerca de 5% em 24 horas. Ambas as criptomoedas, a maiores em capitalização de mercado, caíram cerca de 1% desde a divulgação da reportagem.

Se o Tether vivesse uma corrida bancária em grande escala, como aconteceu com a FTX, isto poderia ser catastrófico para os mercados cripto, pelo menos a curto prazo. USDT é uma fonte-chave de liquidez de entrada no espaço criptográfico.

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