A Web3 delas – Especialista em blockchain fala sobre o espaço das mulheres no mercado cripto

Pedro Augusto
| 6 min read
Mulheres na Web3
Imagem: @_notWillyWonka

Os mercados financeiro e de tecnologia são tradicionalmente ocupados por homens, mas algo começou a mudar com a popularização da Web3. Pelo menos é o que acredita Daniela von Hertwig Meyer, CEO da Anny Baas, uma plataforma de crowdfunding Web3. Para Daniela, a baixa presença de mulheres nesse mercado se explica por fatores que nada dizem respeito à falta de aptidão.

“Vai desde aspectos culturais que fizeram grande parte das mulheres duvidar de suas capacidades intelectuais e de liderança à sobrecarga mental imposta às mulheres, e não aos homens”, diz Daniela.

À frente da Anny Baas, um dos desafios da especialista em blockchain e ex-Binance é descomplicar alguns conceitos e quebrar alguns mitos. Como o de que tecnologia blockchain é algo complicado e para poucos. Um dos principais projetos de Daniela é o desenvolvimento da plataforma de automação da tokenização. Com essa ferramenta, garante a executiva, qualquer pessoa, mesmo sem conhecimento em tecnologia, poderá criar seu token de utilidade.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail para Cryptonews Brasil, Daniela esclarece as diferenças fundamentais entre tokens e criptomoedas, analisa o processo de tokenização no Brasil e explica como as mulheres (e devem) ganhar mais espaço na Web3. Quem sabe, não muito longe, elas serão a maioria também neste setor, por ora tão masculinizado.

Daniela von Hertwig Meyer, CEO da Anny Baas
Daniela von Hertwig Meyer, CEO da Anny Baas

Cryptonews Brasil – Por que há tão poucas mulheres em postos de liderança nesse setor?

Daniela von Hertwig Meyer – Nosso mercado é um misto de tecnologia e finanças, duas áreas notadamente de predominância masculina. A lista de fatores para que isso tenha acontecido é grande. Vai desde aspectos culturais que fizeram grande parte das mulheres duvidarem de suas capacidades intelectuais e de liderança à sobrecarga mental imposta às mulheres. Cuidar da casa, da família, da sua aparência, estudar, se sobressair, se impor, mas sem ser agressiva, etc. O que não é imposto aos homens da mesma forma.

Alguma chance disso mudar?

Há uma luz no fim do túnel. As mulheres neste mercado, atuantes em diferentes profissões e tipos de empresas, estão se unindo cada vez mais para descomplicar o “tecnês”. E trazer o conhecimento mais próximo de mulheres que antes não se identificariam com termos técnicos, financeiros. Ou mesmo que torceriam o nariz para palavras como investimento, tokens e blockchain.

Algumas ONGs já se movimentam para cavar espaço para as mulheres, bem como empresas buscando lideranças femininas para seus negócios. Mas ainda é necessário mais iniciativas de educação e fomento para abrir novas oportunidades.

Que conselhos daria a uma mulher que quer alçar postos de liderança no mercado cripto?

Acredite em si mesma. Não vai ser fácil, adversidades irão surgir. Mas nós precisamos acreditar em nós mesmas, mesmo que nos falem o contrário. É um trabalho diário, precisamos nos lembrar disso constantemente. Busque por lideranças femininas em plataformas como o LinkedIn para você se espelhar. Busque e participe de eventos online e presenciais de mulheres empreendedoras. E também ONGs como Womakerscode, Mulheres do Brasil, Rede empreendedora.

E, se na sua cidade ou região não tiver nenhum desses tipos de grupos, aí está a oportunidade para você criar o primeiro.

Como define o mercado cripto do Brasil em relação a outros países?

Estamos avançados em relação a outros países quando vemos esforços como Pix, Drex, consultas públicas e sandbox regulatórios acerca de temas como criptomoedas e tokenização de ativos. Porém, vemos países como os Emirados Árabes que têm redução fiscal e isenção de impostos para empresas atuantes em blockchain. E que incentivam a criação de novos negócios e fomentam o desenvolvimento de novas aplicações tecnológicas.

Acredito que estes tipos de incentivo são extremamente positivos para o setor, influenciando diretamente na inovação e inclusive na geração de novos empregos.

O que difere os conceitos de token e criptomoedas?

Toda criptomoeda é um token, mas nem todo token é uma criptomoeda. Pode parecer um pouco confuso, mas vamos simplificar aqui: um token é uma representação de um “pedaço” de algo. Já uma criptomoeda é a unidade de valor utilizada para validar as transações em uma rede blockchain.

De maneira simplificada, podemos colocar que criptomoedas são os tokens nativos de uma blockchain, utilizados para validação de informações, como mencionado anteriormente, e também como moedas correntes de suas próprias redes. Por exemplo, o Bitcoin é a criptomoeda (token nativo) da rede blockchain Bitcoin. O Ether é a criptomoeda (token nativo) da rede blockchain Ethereum. E a Ada é a criptomoeda (token nativo) da rede Cardano.

Já os ativos digitais criados em cima de uma rede blockchain já existente são os chamados tokens, que podem possuir diferentes características conforme a sua proposta de usabilidade.

Qual dos dois é mais seguro para o investidor em termos de liquidez?

Precisamos ter em mente que toda transação em uma rede blockchain precisa pagar uma taxa de transação. O chamado “fee” é o que vai garantir que as informações daquela transação estão sendo validadas e gravadas na rede.

Quando falamos em tokens criados em cima de blockchains já existentes, o fee a ser pago será sempre na criptomoeda nativa desta rede. Por exemplo, se eu crio um token XYZ na blockchain da Ethereum, toda transação deste token XYZ será validada (paga) em ETH (símbolo do Ether, criptomoeda nativa da rede Ethereum).

Dessa forma, a criptomoeda nativa de redes blockchain acabam tendo maior volume de operações. E, consequentemente, maior liquidez. Mas isso não quer dizer que um é melhor que o outro, e vice versa.

Todos os atributos de cada projeto devem ser muito bem analisados antes de qualquer compra. Como equipe por trás do desenvolvimento, qual o objetivo do token ou criptomoeda, qual o supply (quantidade de tokens emitidos). Ademais, quais as estratégias de crescimento, e assim por diante.

blockchain

A que mercados a tokenização de ativos pode ser útil e por quê?

Acredito que todos os mercados podem se beneficiar com a tokenização. Em especial, os emergentes como ESG, projetos de comunidades, pessoas com talentos e habilidades especiais, novos negócios, entre outros. Hoje se fala muito em tokenização de RWAs, que são os “ativos do mundo real”, como títulos públicos e privados, imóveis, agro, etc.

Mas a tokenização é uma ferramenta poderosa. Pode ajudar desde a captação de recursos para projetos, bem como facilitar programas de lealdade/ fidelidade de empresas de qualquer tamanho, troca por benefícios, atribuição de recompensas, trocas de valores. Por exemplo, com tokens utilitários, uma empresa que deseje implementar um projeto de ESG em sua estrutura, mas que não tenha recursos suficientes para isso, poderá criar os tokens desse projeto. E quem comprá-los, trocará posteriormente por produtos e/ou serviços atrelados aos tokens.

Essa “lógica de negócio” pode ser aplicada a diferentes tipos de projetos e ideias. Na Anny, nós atendemos estes tipos de projetos corporativos e estamos desenvolvendo a nossa plataforma de automação da tokenização. Nela, qualquer pessoa, mesmo sem conhecimento em tecnologia, poderá criar seu token de utilidade em uma interface simplificada e intuitiva. E ter sua comunidade ajudando a financiar seus sonhos.

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