Elon Musk confirma primeiro implante de chip cerebral em um humano

Pedro Augusto
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Na noite de segunda-feira (29/01), Elon Musk, CEO da Neuralink e conhecido bilionário, anunciou um marco significativo alcançado pela sua empresa. A realização do primeiro implante de um chip cerebral em um humano, ocorrido no domingo (28/01). O implante, uma novidade no campo da neurotecnologia, mostrou resultados iniciais promissores, incluindo a detecção eficaz de picos de atividade neuronal.

A Neuralink, sob a liderança de Musk, recebeu a autorização da Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) para começar os testes em humanos em maio do ano passado. Este avanço vem após um período de intensa preparação e recrutamento de voluntários dispostos a receber o chip.

Segundo Musk, o primeiro paciente a receber o implante já está em recuperação e apresenta sinais positivos que apontam para o sucesso inicial do procedimento.

Como a notícia do chip cerebral veio a público


Em uma recente publicação no X, antigo Twitter, Musk revelou que se detectou uma atividade cerebral “promissora” após um procedimento cirúrgico, e o paciente está se recuperando bem.

Em resumo, a Neuralink, empresa de Elon Musk, tem como objetivo conectar cérebros humanos a computadores para auxiliar no tratamento de condições neurológicas complexas. Além disso, a iniciativa da empresa acompanha os esforços de outras empresas do setor que já implantaram dispositivos semelhantes.

Segundo a professora Anne Vanhoestenberghe, do King’s College London, este primeiro teste em humanos representa um marco significativo para qualquer empresa que produza dispositivos médicos. Ela destaca que, apesar de muitas empresas estarem desenvolvendo produtos inovadores, apenas algumas implantaram seus dispositivos em seres humanos.

Dessa forma, a Neuralink passa a integrar um grupo seleto no campo da interface cérebro-computador. Vanhoestenberghe também ressalta a necessidade de cautela, observando que só pode se avaliar o “verdadeiro sucesso” a longo prazo.

Sucesso da Neuralink pode ter sido exagerada por Elon Musk

É importante notar que Elon Musk é conhecido por gerar publicidade para suas empresas, o que pode influenciar a percepção sobre os avanços da Neuralink.

Entre as empresas que alcançaram progressos similares na área está a École Polytechnique Fédérale, em Lausanne, na Suíça. Em suma, esta instituição conseguiu fazer com que um homem paralisado voltasse a caminhar apenas com o pensamento, graças a implantes eletrônicos colocados no cérebro e na coluna que transmitem sem fio pensamentos às pernas e pés do paciente.

Publicou-se os detalhes desse avanço na revista científica Nature em maio de 2023. Até o momento, não houve verificação independente das alegações de Musk, nem a Neuralink forneceu informações adicionais sobre o procedimento mencionado.

A BBC News entrou em contato tanto com a Neuralink quanto com o órgão regulador médico dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration, em busca de comentários.

Como o chip cerebral funciona?


Telepathy, um chip revolucionário do tamanho de uma moeda, promete permitir que os usuários controlem telefones e computadores exclusivamente com o pensamento. Desenvolvido para ser implantado diretamente no cérebro por uma cirurgia invasiva, o dispositivo é posicionado em uma área cerebral crucial para o controle dos movimentos.

O diretor da Associação Paulista de Neurologia, Marcelo Simis, esclarece que se fixa o Telepathy no cérebro com a assistência de 1.024 eletrodos ultrafinos, mais finos que um fio de cabelo. Uma vez instalado no crânio, o chip capta atividades neuronais e transmite comandos para outros sistemas, funcionando como uma Interface Cérebro-Computador.

Realiza-se a colocação do chip por um robô especializado, desenvolvido pela empresa responsável pelo Telepathy. Atualmente, o foco está na verificação da segurança do procedimento. Antes da aplicação em humanos, testou-se o Telepathy em primatas. Vídeos divulgados pela Neuralink demonstram os animais manipulando o cursor de um computador utilizando apenas o pensamento, evidenciando as capacidades inovadoras do dispositivo.

Musk faz referência a Stephen Hawking 

O visionário Elon Musk propôs um objetivo ousado para a Neuralink: desenvolver uma tecnologia capaz de permitir a comunicação mais rápida que um digitador habilidoso ou um leiloeiro.

Este objetivo é inspirado na imagem de um futuro onde figuras como o falecido cientista britânico Stephen Hawking, que sofria de doença do neurônio motor, poderiam se comunicar com velocidade e eficiência surpreendentes.

Testes da Neuralink possuem um histórico conturbado


A Neuralink foi alvo de críticas no passado, conforme reportado pela Reuters em dezembro de 2022. A empresa se envolveu em testes que resultaram na morte de aproximadamente 1.500 animais, incluindo ovelhas, macacos e porcos.

Em julho de 2023, o chefe do Departamento de Agricultura dos EUA, responsável por investigar preocupações com o bem-estar animal, afirmou que não foram encontradas violações nas regras de pesquisa animal na Neuralink. No entanto, uma investigação separada da agência ainda está em andamento.

Em maio de 2023, a Neuralink recebeu autorização da FDA nos EUA para testar seu chip em humanos. Esse aval marcou o início de um estudo de seis anos, no qual se utiliza um robô para colocar cirurgicamente 64 fios flexíveis, mais finos que um fio de cabelo humano, em uma parte do cérebro que controla a “intenção de movimento”.

Segundo a Neuralink, esses fios permitem que seu implante experimental — alimentado por uma bateria que pode ser carregada sem fio — registre e transmita sinais cerebrais sem fio para um aplicativo que decodifica como a pessoa pretende se mover.

Tecnologias como a do chip cerebral ainda requerem cirurgia invasiva

A professora Tara Spires-Jones, presidente da Associação Britânica de Neurociência, destacou o grande potencial da tecnologia em ajudar pessoas com distúrbios neurológicos no futuro.

Sobretudo, ela ressalta que este é um excelente exemplo de como a pesquisa fundamental em neurociência está sendo aproveitada para avanços médicos.

No entanto, Spires-Jones alerta que a maioria dessas interfaces requer cirurgia neurológica invasiva e ainda está em estágios experimentais, o que significa que provavelmente levará muitos anos até que sejam facilmente disponíveis.

Chip cerebral não é algo tão novo assim


A comunidade científica, já familiarizada com o uso de dispositivos cerebrais para ajudar pacientes a recuperar a mobilidade, está agora observando os esforços de Elon Musk para levar esta tecnologia a um novo patamar.

Sobretudo, Musk propõe a introdução desses dispositivos no mercado de massa, visando não apenas auxiliar os pacientes com deficiências motoras, mas também permitir que qualquer pessoa recuperar autonomia perdida devido a movimentos comprometidos.

Primeira interface cérebro-computador existe desde 2004

Apesar da proeminência de Musk e da Neuralink no campo, a empresa não está sozinha na corrida tecnológica. A Blackrock Neurotech, sediada em Utah, é uma das rivais com vasta experiência, implantando sua primeira de muitas interfaces cérebro-computador já em 2004.

A Precision Neuroscience, fundada por um dos cofundadores da Neuralink, também está trabalhando para auxiliar pessoas com paralisia. A empresa desenvolveu um implante que se assemelha a uma fita muito fina, posicionada na superfície do cérebro. Pode-se introduzir esse implante por meio de uma técnica menos invasiva, conhecida como “microcorte craniano”.

Além dessas iniciativas, já alcançaram-se avanços significativos por meio de dispositivos existentes. Em dois estudos científicos recentes realizados nos Estados Unidos, utilizaram-se implantes para monitorar a atividade cerebral quando uma pessoa tentava falar.

Direitos humanos e preocupações éticas

No entanto, essa inovação vem acompanhada de crescentes preocupações éticas. O principal medo é a respeito de como poderão utilizar esses dispositivos e os riscos potenciais associados ao seu mau uso.

Diante disso, organizações de direitos humanos estão se manifestando, exigindo a criação de códigos de ética pelas empresas envolvidas.

Por fim, essa medida é vista como uma solução temporária até que uma legislação abrangente sobre inteligência artificial seja estabelecida, garantindo uma regulamentação adequada que englobe todos os aspectos e implicações dessa tecnologia.

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