Reunião do G20: Brasil destaca mudança climática e combate à fome

Fernando Haddad discursa durante encontro do G20 (fonte: divulgação/Kelly Fersan)

A reunião ministerial da Trilha de Finanças do G20 está ocorrendo esta semana em São Paulo. O encontro integra a agenda da presidência do Brasil do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, representam o Brasil no evento que ocorre no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera.

Na segunda-feira (26/02) e na terça-feira (27/02), os representantes e secretários dos ministros de Finanças e dos presidentes dos bancos centrais fizeram um encontro preparatório.

Nessas duas ocasiões, a embaixadora Tatiana Rosito representou o ministério da Fazenda. Ela é a secretária de Assuntos Internacionais do ministério da Fazenda e coordenadora da Trilha de Finanças do G20.

Na quarta-feira (28), o ministro Fernando Haddad e o presidente do BC, Campos Neto, participaram das sessões temáticas da reunião ministerial. Além disso, o ministro teve uma série de encontros bilaterais e eventos à margem da reunião principal.

No entanto, a participação do ministro da Fazenda é virtual, pois ele está em isolamento após diagnóstico de Covid-19.

Confira a seguir o que ocorreu nos primeiros dias do evento, com destaque para a agenda de Haddad.

Agenda de Haddad: primeiro dia com foco na questão climática


A agenda do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve cheia durante os dois primeiros dias do evento. A maratona começou na segunda (26) no gabinete do Ministério da Fazenda em São Paulo. Ele se reuniu com o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov.

Também conversou com o diretor do banco GFANZ, Mark Carney. O banco financia a transição para a economia de zero carbono.Além disso, o ministro se encontrou com os representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI). São eles o diretor-executivo do Brasil na instituição, Afonso Bevilaqua, e a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva.Ainda na segunda-feira, Fernando Haddad participou de dois eventos ligados ao plano de transição ecológica.

Ele deu uma entrevista coletiva, na qual apresentou o programa de proteção cambial para investimentos verdes sustentáveis. Essa apresentação ocorreu no prédio do ministério da Fazenda na Avenida Paulista. Por fim, à tarde, o ministro participou da mesa de abertura do Fórum Mudanças Climáticas. O evento tem o selo do G20 Social e foi organizado por entidades da sociedade civil.

Terça-feira foi dia dos Brics


O segundo dia começou com reuniões com os ministros das Finanças norueguês, Trygve Vedum, e português, Fernando Medina. Em seguida, Haddad participou de um evento na Câmara Americana de Comércio (Amcham), junto com a secretária norte-americana do Tesouro, Janet Yellen.

O evento celebrou os 200 anos das relações entre Brasil e EUA.À tarde, Haddad teve uma reunião de trabalho fechada sobre o G20, no Pavilhão da Bienal. No mesmo local, ele representou o Brasil na reunião dos governadores dos países que integram o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), ou Banco do Brics, como também é conhecido.

Depois disso, ocorreu uma reunião a portas fechadas com Dilma Rousseff, presidenta do NDB. Por fim, o dia terminou com uma participação na reunião de ministros das Finanças do Brics. Este ano, a presidência da reunião é da Rússia.

Em discurso de abertura, Haddad falou de “uma nova globalização socioambiental”


Na quarta-feira (28), Haddad se reuniu com o ministro da Economia da Arábia Saudita, Faisal bin Fadhil al-Ibrahim. Em seguida, ele fez o discurso de abertura da reunião ministerial. Haddad discursou de modo virtual, devido ao diagnóstico de Covid-19. Em sua fala, ele apresentou a posição do governo brasileiro para enfrentar os problemas que afetam os países:

“Entender a mudança climática e a pobreza como desafios verdadeiramente mundiais, a serem enfrentados por meio de uma nova globalização socioambiental”

Aliás, para 2024, o Brasil propôs ao G20 duas forças-tarefa fundamentais: a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza e a Mobilização Global Contra a Mudança Climática. Haddad afirmou que:

“Precisamos criar incentivos para que os fluxos internacionais de capital sejam direcionados de forma eficiente para as melhores oportunidades, definidas, não mais, em termos de lucratividade imediata, mas, sim, de acordo com critérios sociais e ambientais”

Esses temas surgiram a partir do objetivo de construir uma nova globalização, focada na cooperação internacional para soluções de desafios sociais e ambientais. Segundo o ministro, a última onda de globalização foi marcada pela busca de aumento da rentabilidade através da arbitragem trabalhista e regulatória em nível internacional.

No entanto, enquanto milhões de pessoas saíram da pobreza, especialmente na Ásia, houve um aumento considerável da desigualdade de renda e riqueza em diversos países.Além disso, a crise climática está cada vez mais forte, e se tornou uma “verdadeira emergência”, segundo Haddad. Isso coloca diversos problemas para os países pobres.

Por exemplo, eles precisam arcar com custos ambientais e econômicos crescentes, enquanto veem suas exportações ameaçadas por uma crescente onda protecionista. Por fim, os países têm suas receitas comprometidas pelo serviço da dívida, devido a um cenário pós-pandemia de juros ainda elevados. No entanto, para o ministro, esse cenário não pode levar a crer que os países ricos podem simplesmente se isolar:

“Embora, como disse, os países mais pobres paguem um preço proporcionalmente mais alto, seria uma ilusão pensar que países ricos podem dar as costas para o mundo e focar apenas em soluções nacionais”

Taxação dos super-ricos é citada


Em seu discurso, o ministro da Fazenda também explicou o legado de desigualdade deixado pela última globalização. Ele considera que houve uma “confusão” da integração econômica global com a liberalização de mercados, a flexibilização das leis trabalhistas, a desregulamentação financeira e a livre circulação de capitais.

“As crises econômicas resultantes causaram grandes perdas socioeconômicas. Enquanto a hiperfinanceirização prosseguiu em ritmo acelerado, um complexo sistema […] foi estruturado para oferecer formas cada vez mais elaboradas de evasão tributária aos super-ricos”

Portanto, segundo ele, além de reconhecer os avanços da última década, é preciso “fazer com que bilionários do mundo paguem sua justa contribuição em impostos”. Aliás, desde o ano passado, Haddad tem defendido a taxação de fundos exclusivos e das chamadas offshores. Esses fundos também são conhecidos como fundos dos “super-ricos”.

Em resumo, esses são os desafios de uma nova globalização socioambiental, que precisa corrigir os erros da última onda de globalização, enquanto prepara o mundo para um cenário de crise climática.Por fim, o ministro da Fazenda defendeu que:

“Em um mundo no qual trabalho e capital são cada vez mais móveis, pobreza e desigualdade precisam ser enfrentadas como desafios globais, sob a pena da ampliação das crises humanitárias e imigratórias”

Evento continua com debates econômicos


Na manhã de quarta-feira, o foco da reunião foram os temas trazidos pela fala de Haddad. À tarde, o evento continuou com uma sessão presidida por Campos Neto. O foco foi a atual conjuntura macroeconômica e estabilidade financeira internacional.

Nessa sessão, houve discussões sobre perspectivas globais para crescimento, emprego, inflação e estabilidade financeira.Por fim, na manhã desta quinta-feira (29), a sessão passou a discutir a tributação progressiva, com foco nas propostas para que os bilionários do mundo paguem mais impostos. O encerramento será com uma sessão sobre a cooperação em questões de dívida e desenvolvimento sustentável.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda terá outros encontros com demais ministros de Finanças da França. Além disso, também participará de um evento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Combate às desigualdades é prioridade do Brasil no G20


Os principais destaques da primeira reunião foram o combate à desigualdade global e as reformas em instituições financeiras multilaterais. A Trilha de Finanças do G20 segue as prioridades do Brasil, atual presidente do G20. Portanto, o debate focou no papel das políticas públicas no combate à desigualdade.

Além disso, a reunião ministerial discutiu as perspectivas globais sobre crescimento, emprego, inflação e estabilidade financeira.Segundo o ministério da Fazenda, o debate tem o objetivo de estimular melhores práticas no enfrentamento da dívida global, que cresce cada vez mais. Também pretende discutir formas de financiar o desenvolvimento sustentável e discutir a taxação internacional. Por fim, focará nas perspectivas dos países quanto ao setor financeiro.

Encontro conta também com representantes de organizações e bancos internacionais


As delegações de 27 países confirmaram presença no encontro. Entre os participantes, estão Alemanha, Estados Unidos, China, Arábia Saudita, Argentina, França, Japão, México, Canadá, além da União Africana e da União Europeia.Entre os nomes importantes presentes no evento, estão os da Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, e o Ministro das Finanças alemão, Christian Lindner.

Também estão em São Paulo o comissário para o Comércio e Indústria da União Africana, Albert Muchanga, e o ministro das Finanças da Indonésia, Sri Indrawati. Por fim, participa do encontro o ministro da economia argentino, Luis “Toto” Caputo.Além dos ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais dos países, estão presentes no evento os representantes de 16 organizações e bancos internacionais.

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