Rio Grande do Sul fecha contrato para criação de criptomoeda do agronegócio

Gabriel Gomes
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Durante o segundo dia de atividades da edição deste ano do South Summit Brazil, ocorreu a formalização de um protocolo entre o governo gaúcho e a startup Agrigooders para a implementação de uma criptomoeda para o agronegócio do estado sulino.

O termo tem por finalidade a promoção do uso da moeda digital criada pela empresa que visa monetizar a adoção de práticas agrícolas, social e ambientalmente sustentáveis. Representando o governo do Estado do Rio Grande do Sul, assinaram o documento:

  • O vice-governador Gabriel Souza;
  • O secretário da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Giovani Feltes;
  • A secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann; e 
  • O secretário do Desenvolvimento Rural, Ronaldo Santini.

Agrigooders está em operação desde o ano passado

A Agrigooders é fruto da parceria entre três empresas. A SIA (Serviço de Inteligência em Agronegócios), empresa especializada no desenvolvimento e na promoção de soluções tecnológicas e empresariais para o progresso do agronegócio no Brasil, a consultoria Dreams & Purpose Consulting e a Gooders, plataforma de recompensas pela realização de ações em benefício da sociedade.

Segundo a Agrigooders, seu ativo digital, também chamado Agrigooder (ou, em abreviação, AG), facilita a monetização de serviços socioambientais de um sistema de produção agropecuária sustentável. Suas moedas podem ser convertidas em dinheiro ou em créditos sociais, doados para causas filantrópicas ou ambientais, ou ainda trocadas por descontos em estabelecimentos conveniados, que já passam de sete dezenas. A criptomoeda do agro Agrigooders foi introduzida em novembro do ano passado.

Para obtê-las, é preciso realizar alguma ação que se enquadre nas diretrizes do Agrigooders e seja certificada por um dos parceiros dela. Há outros benefícios de que os produtores rurais desfrutam com a certificação de suas atividades ambientalmente sustentáveis, segundo a Agrigooders.

Dentre eles podemos citar o reconhecimento público da contribuição para a preservação do ambiente, resultando em melhoria de imagem, compensação mais imediata por investimentos produtivos que, em geral, só são recompensados a médio e longo prazos. Por fim, também há o incentivo à adoção de boas práticas na produção agropecuária por parte do conjunto do setor Agro.

Aproximação de governo e produtores é essencial para produção amigável ao meio ambiente

Com sua adesão ao acordo, o governo sul-rio-grandense espera recompensar os produtores rurais pela adoção de boas práticas e, desta forma, colaborar para que seja acelerado o avanço de uma agenda positiva no campo. O vice-governador afirmou que não é mais possível que a atividade agropecuária prescinda do cuidado com as questões ambientais, as quais passaram a ser exigidas mesmo pelo mercado internacional. 

Ele também destacou a importância da cooperação que tem sido mantida entre as secretarias do governo e o setor privado. A secretária de Meio Ambiente e Infraestrutura também apontou a importância da cooperação entre Estado e empreendedores, especialmente no planejamento e na execução de políticas e parcerias que valorizem as boas práticas na produção agropecuária e valorizem os ativos ligados a ela.

Ronaldo Santini, secretário de Desenvolvimento Rural, afirmou que o acordo é um passo no caminho para que o Rio Grande do Sul consiga cumprir a chamada Agenda 2030, além disso, deverá trazer benefícios para a população gaúcha. A Agenda 2030 é um conjunto de metas para o desenvolvimento das sociedades de forma que respeite o Meio Ambiente e atenda às necessidades sociais das populações.

Outros integrantes da equipe do governo gaúcho que estiveram presentes no South Summit Brazil 2023, que aconteceu de 29 de março a 31 do mesmo mês, foram Pedro Capeluppi, secretário estadual de Parcerias e Concessões, e Juvir Costella, que lidera a Secretaria de Logística e Transportes. 

A edição deste ano do evento contou com mais de 100 patrocinadores, ocupou 22 mil metros quadrados e recebeu mais de 20 mil visitantes provenientes de 50 países. Eles puderam conhecer as ideias de cerca de 3 mil startups. Os organizadores afirmam que o aplicativo oficial do evento gerou 40 mil conexões entre atores do meio agropecuário, como empresários, investidores e inovadores, além de terem sido agendadas mais de mil reuniões presenciais.

Governo do Rio Grande do Sul já estuda soluções de blockchain há algum tempo

Não é de hoje que o governo do estado mais meridional do Brasil dá atenção à tecnologia blockchain e às possibilidades que oferece para a modernização do aparato do estado e para sua conexão com a sociedade. Por exemplo, em outubro de 2021, o governo estadual publicou o edital de um concurso público para o cargo de Analista de Planejamento, Orçamento e Gestão, que exigia conhecimentos sobre contratos inteligentes e blockchain para o preenchimento da função.

No ano seguinte, a Escola de Governo, que é vinculada à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão, promoveu o evento “LabTech Talks — O que é a blockchain e como tem sido utilizada no âmbito do poder público: o caso da Estônia”, onde foram discutidos os usos que vêm sendo dados à tecnologia de blockchain no âmbito do poder público, com destaque para o exemplo da Estônia, país que está entre os mais avançados na incorporação das possibilidades da tecnologia digital à máquina pública.

Agrigooders já firmou outras parcerias importantes

O protocolo de intenções entre o governo do Rio Grande do Sul e a Agrigooders não foi o único acordo importante firmado por esta empresa recentemente. Há algumas semanas, ela firmou uma parceria com a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, uma entidade sem fins lucrativos que reúne participantes de diferentes elos do processo de produção agropecuária e já participou de edições da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas como representante do agronegócio brasileiro.

O objetivo da parceria firmada é incentivar práticas ambientalmente sustentáveis na produção rural e agregar a elas valor. O Guia de Indicadores da Pecuária Sustentável será utilizada para a validação das ações sustentáveis que os produtores rurais participantes implementarem, permitindo que sejam monetizadas com o uso de moedas Agrigooders. A ferramenta usada para pautar este processo foi desenvolvida pela Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável para a avaliação da sustentabilidade de propriedades agropecuárias.

De acordo com o site Planeta Campo, Rafael Brauner, CEO da Agrigooders, afirmou que a parceria com a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável é importante por compartilharem dos mesmos propósitos e que a organização sem fins lucrativos é uma parceira estratégica no esforço para o desenvolvimento da atividade pecuária de forma sustentável.

Outra declaração citada pelo Planeta Campo é a de Luiza Bruscato, a diretora-executiva da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, para quem a parceria entre as duas organizações permitirá que produtores rurais que dedicam atenção à sustentabilidade de suas atividades do ponto de vista ambiental recebam benefícios concretos por sua atuação responsável. Além disso, é um mais um passo que a instituição que ela lidera dá no cumprimento de sua missão de incentivar a adoção de práticas mais sustentáveis na pecuária nacional.

Criptomoedas e blockchain estão cada vez mais sendo consideradas em soluções financeiras

Projetos como o da moeda Agrigooders e os resultados que vêm obtendo na forma de adesões de empresas e importantes organizações do setor público e do setor não-governamental, parecem indicar que a aceitação da tecnologia blockchain. Esta pode muito bem atuar como ferramenta para promoção de políticas, oficiais ou não, para o atendimento do interesse público. Ademais, essas adesões constituem interessantes passos em um caminho que pode levar, em um futuro próximo, à entrada das criptomoedas no mainstream financeiro.

Para esse processo, a sanção no ano passado de um marco regulatório para o setor cripto, algo que falta mesmo a muitos países desenvolvidos, deu uma definida contribuição. Neste ano, antes de entrar em vigor em junho, a referida peça legal provavelmente passará por regulamentações e receberá o acréscimo de esclarecimentos, como o da divisão de papéis entre os reguladores financeiros na supervisão do mercado de criptomoedas, o que deve aperfeiçoá-la e aumentar sua utilidade. 

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