Invasão da Ucrânia: O que o Ocidente precisa fazer agora

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Stefan Wolff, Professor de Segurança Internacional, Universidade de Birmingham.

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Com a invasão em larga escala na Ucrânia, Vladimir Putin ultrapassou uma linha importante. O ocidente assistiu e fez pouco quando a Rússia invadiu a Geórgia em 2008 e anexou a Crimeia em 2014. Mas a invasão em larga escala na Ucrânia que está em andamento é impossível de ignorar. As ações de Putin e suas justificativas lançam sérias dúvidas sobre a possibilidade de qualquer tipo de diplomacia crível com a Rússia nesta fase do conflito.

As intenções do presidente russo ficaram claras desde seu discurso em 21 de fevereiro, no qual ele falou do “império” da Rússia, após o qual reconheceu as repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk como estados independentes. Agora ele está dirigindo uma “operação militar especial” na Ucrânia, supostamente justificada por ameaças à Rússia. A diplomacia não conseguiu deter Putin e tirar a Rússia do precipício. É improvável que seja útil, ou bem-vinda, na situação atual.

O que é necessário agora é uma política de contenção e a garantia dos membros da Otan e da UE. A Rússia precisa sentir uma verdadeira dissuasão contra qualquer nova escalada militar que traga para Putin o custo de sustentar esse aventureirismo. O último envolveria mais sanções à Rússia – incluindo Putin e seu círculo íntimo e suas famílias – e tudo o possível para apoiar a Ucrânia militarmente, mas, pelo menos por enquanto, sem o envio de tropas pelos países ocidentais.

Também será importante cooperar, tanto quanto possível, com a China como parte deste processo. As relações entre a China e o Ocidente podem não ser as mais calorosas, mas ambos os lados compartilham o interesse pela estabilidade na região onde a China fez investimentos significativos por meio da Belt and Road Initiative na última década. A China repetidamente equilibrou seu apoio às demandas russas ao mesmo tempo em que apoiava a nova ordem de segurança europeia com ênfase na importância de respeitar a soberania e a integridade territorial dos Estados.

Assim, não é de forma alguma inevitável que a China ofereça uma potencial “salva-vidas” à Rússia em termos de apoio econômico e financeiro assim que as sanções ocidentais começarem a surtir efeito, bem como oferecer apoio político e diplomático a Putin na ONU e em outros fóruns regionais e internacionais. Embora seja improvável que a China fique abertamente do lado do Ocidente contra a Rússia, ela pode desempenhar um papel vital de empurrar a Rússia para um retorno à diplomacia por interesse próprio, dado seus investimentos substanciais na Ucrânia.

Sob Putin, a Rússia também tentou reafirmar seu status de grande potência em outros lugares – da Ásia Central ao sul do Cáucaso, da Síria à Líbia e Mali. Isso dá ao Ocidente uma alavanca potencialmente adicional para pressionar a Rússia, drenar seus recursos e tornar insustentável a invasão militar de Putin à Ucrânia.

Segurança em Primeiro Lugar

A questão é: o que deve acontecer quando chegarmos a um estágio em que a diplomacia possa mais uma vez ser uma ferramenta útil para restaurar a paz e a segurança internacionais? Em primeiro lugar, a questão será sobre o formato das discussões com a Rússia. Dada a complexidade da crise, isso precisaria acontecer localmente, entre a Rússia e a Ucrânia e, mais amplamente, entre a Rússia e o Ocidente.

Isso ocorre porque as questões humanitárias precisam ser abordadas juntamente com a restauração da soberania e integridade territorial da Ucrânia e o estabelecimento – ou revitalização – de mecanismos para evitar que futuras crises se transformem em guerra. Esse processo precisa reconhecer que as questões e os desafios são muito mais amplos do que a Ucrânia.

Essas discussões não serão possíveis no curto prazo. Mas, a médio e longo prazo, não há alternativa viável para um engajamento diplomático renovado. Isso não é para prever o sucesso da diplomacia futura, que será difícil de alcançar, dadas as visões muito diferentes de possíveis finais que os diferentes jogadores têm no momento. Em vez disso, é reconhecer que a diplomacia é um mecanismo necessário para restaurar a ordem da instabilidade atual.

Restaurando e sustentando a ordem internacional

Para a Ucrânia, a preocupação imediata é o fim da invasão e a estabilização e redução da situação em suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. Além disso, manter o apoio de uma posição internacional unida de não reconhecimento da apropriação de terras da Rússia na Crimeia e Donbas é crucial.

A recuperação do que provavelmente se tornará um confronto militar prolongado e prejudicial em solo ucraniano colocará uma pressão adicional nas instituições e no tecido social da Ucrânia e exigirá amplo apoio financeiro e técnico internacional. No longo prazo, a restauração de sua plena soberania e integridade territorial precisa permanecer em foco.

Para o Ocidente, conter a agressão da Rússia e manter as alianças ocidentais (UE e OTAN) unidas e intactas são os objetivos principais óbvios de curto prazo. Com um foco de longo prazo, a restauração de uma ordem de segurança europeia (e internacional) viável precisa ser alcançada – isso envolverá o gerenciamento do relacionamento mais amplo entre o Ocidente e a Rússia.

Por outro lado, Putin – e é aí que surge o desafio para a diplomacia – vai querer ver uma aceitação do novo status quo que ele espera que surja. Isso lhe permitiria a consolidação de sua própria esfera de influência na Eurásia que mantém o Ocidente e a China afastados e estabelece a Rússia como um terceiro pólo em uma nova ordem mundial tripolar.

A diplomacia conseguirá o milagre de chegar a um compromisso aceitável e sustentável? Qualquer resposta a esta pergunta só pode ser especulativa neste momento. Mas o que sabemos – até certo ponto – é que muito dependerá dos líderes individuais. Os “três grandes” – Joe Biden da América, Xi Jinping da China e o próprio Putin – serão a chave para o que vem a seguir em termos diplomáticos. Mas os líderes de segunda linha, como os que estão no comando da UE, Alemanha, França e Reino Unido, também serão críticos para esse diálogo.

Também dependerá dos custos infligidos à Rússia em resposta às suas transgressões e se estas, por sua vez, criam pressões domésticas para Putin.

E diplomaticamente, dependerá da eficácia dos formatos em que a diplomacia será conduzida: tanto específicas para a crise atual quanto, de forma mais geral, em relação à futura ordem internacional.

Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.

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