Real digital – Lançamento do Drex pode ficar para 2025

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Real digital - Lançamento do Drex pode ficar para 2025
Imagem: @_notWillyWonka

O projeto do Drex, conhecido popularmente como real digital, continua firme e forte no Banco Central (BC). Em fase de testes, ele conta com a participação do setor privado. No entanto, cresce a tendência de que ele só venha a ser lançado para o consumidor final no início de 2025.

Entre os fatores que explicam esse adiamento estão as dificuldades enfrentadas nos testes de segurança e a recente greve dos servidores do BC. A instituição abriu um concurso público para reforçar seus quadros, mas dificilmente isso terá algum efeito no curto prazo.

Esse não seria o primeiro atraso no cronograma do Drex. Afinal, o encerramento da primeira fase do projeto piloto, anteriormente previsto para março deste ano, já foi adiado para maio. Apesar disso, tanto o BC quanto o mercado financeiro mantêm expectativas elevadas sobre o sucesso do projeto.

O que é o Drex? Entenda como funcionará o real digital


O Drex é uma nova versão 100% digital do Real. Por isso, tem sido chamado informalmente de Real Digital desde antes da criação do seu nome oficial.

O ativo poderá ser armazenado em um sistema virtual e terá o mesmo valor da moeda oficial. Também permitirá que você faça transações da mesma forma que realiza hoje com cédulas, moedas ou por meio de contas digitais em bancos ou serviços de pagamento.

O armazenamento virtual será possível por meio de carteiras digitais oferecidas por instituições financeiras. O objetivo do Drex é facilitar as transações entre instituições e por parte dos usuários finais.

As vantagens do sistema incluem a segurança e rapidez que ele deve oferecer. Afinal, trata-se de um sistema desenvolvido na blockchain pelo Banco Central (BC). Ou seja, combina as vantagens da tecnologia mais avançada com a credibilidade do emissor oficial de moeda no Brasil. Assim, assume as características de uma stablecoin oficial.

O nome Drex reflete as principais características que o Banco Central procura embutir no Real Digital. Ele funciona como uma abreviatura de “digital real”. Veja o que significa cada letra do nome:

  • D – referência ao digital
  • R – remete ao real brasileiro
  • E – referência ao seu sistema eletrônico
  • X – remete à ideia de inovação e acrescenta sonoridade ao nome

Apesar das semelhanças, o Drex não é uma criptomoeda como o Bitcoin ou o Ethereum. Ele funcionará como uma moeda digital do Banco Central, ou CBDC (da sigla em inglês Central Bank Digital Currency).

O Drex terá as mesmas garantias do Real tradicional em termos de segurança, valor e aceitação. No entanto, acrescentará outros benefícios, como a possibilidade de contratos inteligentes. Por exemplo, poderá ser usado para realização de pagamentos condicionados à transferência de propriedade de um bem, como um imóvel, um carro ou ativos em geral.

Como funciona o Piloto Drex?


Os estudos para o lançamento do Drex iniciaram em 2020. Naquele ano, o BC montou um grupo dedicado ao tema.A iniciativa cresceu bastante ao longo de 2023. E teve um empurrão importante quando, em março do ano passado, surgiu uma plataforma de testes do projeto.

O nome Drex surgiu em agosto, como uma tentativa de estabelecer uma marca para o novo sistema. Desde então, a versão digital da moeda brasileira gerou uma expectativa ainda maior junto ao público geral.Atualmente, 16 propostas fazem parte do Piloto Drex:

  • Bradesco, Nuclea e Setl
  • Nubank
  • Banco Inter, Microsoft e 7Comm
  • Santander, Santander Asset Management, F1RST e Toro CTVM
  • Itaú Unibanco
  • Basa, TecBan, Pinbank, Dinamo, Cresol, Banco Arbi, Ntokens, Clear Sale, Foxbit, CPqD, AWS e Parfin
  • Caixa, Elo e Microsoft
  • SFCoop: Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred
  • XP, Visa
  • Banco BV
  • Banco BTG
  • Banco ABC, Hamsa, LoopiPay e Microsoft
  • Banco B3, B3 e B3 Digitas
  • Consórcio ABBC: Banco Brasileiro de Crédito, Banco Ribeirão Preto, Banco Original, Banco ABC Brasil, Banco BS2 e Banco Seguro, ABBC, BBChain, Microsoft e BIP
  • MBPay, Cerc, Sinqia, Mastercard e Banco Genial
  • Banco do Brasil

Em setembro de 2023, o Banco Central promoveu a segunda plenária do Fórum Drex, um evento de discussões sobre o projeto. Na ocasião, o coordenador da Iniciativa Drex, Fábio Araújo, deu detalhes sobre o andamento dos testes na plataforma.

Na ocasião, 13 dos 16 consórcios participantes do piloto já haviam operado nós da rede. Além disso, 11 deles haviam completado transações no ambiente simulado. No total, o BC confirmou a realização de 500 operações.Essas transações do projeto piloto simulam transferências de reservas bancárias e depósitos tokenizados. Também são simuladas operações de compra e venda de títulos federais.

Qual o status atual do projeto?


Desde o início do projeto, o BC evita definir uma data certa para o lançamento do Drex. No entanto, há a expectativa de que ocorra entre o fim de 2024 e o início de 2025.Pelo calendário divulgado no site do Banco Central, a avaliação do Piloto Drex está prevista para junho deste ano. Por outro lado, não há informações relativas ao que ocorrerá depois.

Em dezembro de 2023, o Diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do Banco Central, Mauricio Moura, comentou o andamento do projeto durante uma LiveBC promovida pela instituição.

“Os testes estão evoluindo muito bem e vão continuar por todo o ano que vem. Primeiro, os participantes dos testes têm verificado a adequação e a aplicabilidade dos testes de uso. Segundo, estão avançando muito bem os esforços para desenvolvermos soluções tecnológicas complexas e inovadoras para suportar o Drex.”

Também em dezembro, houve mais uma edição do fórum Drex. Ela não trouxe muitas novidades sobre o sucesso dos testes. No entanto, contou com a participação do Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que fez vários elogios ao projeto.

A expectativa original do Banco Central era encerrar a fase atual de testes, com foco na segurança e privacidade, em março deste ano. Mas essa previsão acabou estendida para maio. Agora, cumprir o novo prazo também tende a ser uma missão desafiadora.

Rogerio Melfi, membro da ABFintechs que acompanha o projeto de perto, afirmou ao site Infomoney que o prazo provavelmente será adiado:

“Em 2024, o consumidor final ainda não verá nada. O piloto entre bancos e instituições participantes está fluindo, com validação de cenários envolvendo também o Tesouro Nacional. Muitas instituições ainda precisam evoluir nos testes.”

Já o BC divulgou nota reforçando sua confiança, ao afirmar que “ao fim de 2024, o Banco Central poderá incluir testes com a população no Piloto Drex”. No entanto, também afirmou que “o projeto e os participantes do mercado precisarão ter atingido o grau de maturidade adequado” para que isso ocorra.

Paralisações no Banco Central podem afetar projeto


Um dos fatores que ameaça o cumprimento dos prazos do projeto Drex é a constante ameaça de greve por parte dos servidores do Banco Central.

A categoria promoveu uma paralisação de 24 horas no dia 11 de janeiro deste ano. Na ocasião, os funcionários deixaram de cumprir algumas funções, como participações em reuniões e atendimento ao público. No entanto, o Pix e outros sistemas continuaram funcionando normalmente para os usuários.

É possível que novas ações do tipo ocorram ao longo de 2024. Afinal, segundo o Sindicato Nacional da categoria (Sinal), há uma insatisfação grande dos funcionários com o tratamento dado às suas reivindicações.

As reivindicações dos servidores incluem uma reestruturação de carreira. Além disso, eles pedem um adicional por produtividade e o reajuste das remunerações. Recentemente, o governo federal negociou o benefício para categorias de outros órgãos de estado, como a Receita Federal e a Polícia Federal, o que aumentou a insatisfação no BC.

Uma paralisação mais longa pode ter impactos sobre projetos como o Pix e o Drex. Afinal, no momento atual, diversas iniciativas têm ocorrido nessas duas frentes.

Novo concurso pode reforçar investida digital do BC


A preocupação com possíveis greves acentua a dificuldade recente do Banco Central em tocar seus projetos com os braços e mentes disponíveis. Afinal, a instituição vem atuando em cada vez mais áreas. E isso ficou ainda mais forte com a criação da Agenda BC#, que reúne projetos como Drex, o Pix e iniciativas de Open Finance.

Com esse contexto, o Banco Central anunciou recentemente um novo concurso público com 100 vagas imediatas para analistas. Os salários são superiores a R$20 mil. Metade das vagas (50) é destinada à área de economia e finanças. Também há 50 vagas dedicadas à Tecnologia da Informação.

O edital do concurso está disponível no site do Banco Central. As inscrições estão abertas de 22 de janeiro até 20 de fevereiro, com valor de R$150. As provas devem ocorrer no dia 19 de maio em todas as capitais brasileiras.

Para assumir uma vaga de analista do BC, é preciso ter um diploma de curso superior em qualquer área. No entanto, após a aprovação, os candidatos passam por um processo de capacitação de caráter eliminatório e classificatório.

O sucesso das iniciativas digitais do Banco Central é um dos fatores que pressionam a demanda por mão de obra. Muitos funcionários da instituição que participam desses projetos acabam migrando para o setor privado com propostas superiores financeiramente. Aliás, esse fenômeno é tão forte atualmente que recebeu o apelido de “Drexit”, em clara referência ao Brexit do Reino Unido.

Drex pode reforçar tokenização de ativos no Brasil


O Drex tem potencial para acelerar a tokenização no Brasil. Em um momento de forte expansão do sistema bancário no país, impulsionado pelo Pix, o Drex deve nascer com um considerável público potencial. Além disso, seu caráter oficial e alta liquidez devem garantir a confiabilidade junto aos usuários.

O mercado financeiro deve se beneficiar bastante desse processo. Os títulos públicos federais, por exemplo, têm sido muito procurados na B3, a bolsa de valores brasileira, e são um dos alvos de testes atualmente no piloto Drex. Com isso, pode ocorrer uma imigração expressiva de volume de negociação para tokens no novo sistema.Em 2023, houve uma forte tokenização da B3.

A nova plataforma, Trademate, recebeu muitos produtos de alta negociação na categoria de renda fixa. Por exemplo, títulos públicos federais indexados como NTNB, LFT e NTNC, além de títulos pré-fixados como LTN e NTNF, fazem parte do sistema.Já em 2024, a B3 pretende adicionar os seguintes produtos na plataforma:

  • Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA)
  • Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI)
  • Cotas de Fundos Fechados (CFF
  • Debêntures e Crédito de Descarbonização (CBIO)

A B3 é uma das instituições que tem participado dos testes do Drex. Uma das razões para isso é justamente a possibilidade de uma migração de seus produtos para uma blockchain oficial do Banco Central. No entanto, sua ETF de Bitcoin lançada recentemente e outros projetos de digitalização demonstram o interesse no potencial das novas tecnologias.

CBDCs ganham força pelo mundo


O Drex não é o único projeto do gênero. As moedas digitais emitidas por Bancos Centrais (CBDCs, na sigla em inglês) continuam ganhando força mundo afora.

Segundo um estudo do Atlantic Council, 130 países estão explorando iniciativas como a do real digital. Além disso, eles representam juntos 98% do PIB global. Confira esses países no mapa abaixo, que também está disponível na versão interativa.

Entre os principais projetos de CBDC, estão o do Banco Central Europeu (BCE) e o do yuan digital chinês. Também foram anunciados pilotos no Japão e nos Estados Unidos.

Cada país tem seguido uma linha diferente em relação ao modelo de tecnologia e às aplicações de uma moeda digital oficial. Por exemplo, na China, o foco tem sido a realização de operações no mercado internacional. Nesse sentido, reforça a estratégia do país para diminuir a dolarização da sua economia.

Já o Banco Central da Argentina iniciou o desenvolvimento de um marco legal para pesos digitais. No entanto, neste caso, uma CBDC teria como principal objetivo mitigar problemas econômicos, principalmente relacionados à inflação que o país enfrenta.

Todos esses países provavelmente analisam com atenção o caso da CBDC lançada na Nigéria. A eNaira, uma das primeiras moedas do gênero, falhou até o momento em capitalizar os benefícios reais da tecnologia de blockchain. Por isso, praticamente não tem sido usada no país. O seu caso reforça a importância de estudos e testes detalhados antes do lançamento de um sistema do gênero.

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