Texas pode criar moeda digital vinculada ao ouro

Gabriel Gomes
| 7 min read

Projetos no legislativo do Texas propõem o lançamento de uma criptomoeda estadual lastreada em ouro. Se aprovados, devem entrar em vigor em setembro.

Criptomoedas são alvo de controvérsias no governo dos EUA


Há fortes oposições, entre os políticos americanos, à ideia que vem sendo explorada pelo banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, de criação de uma moeda digital de banco central para servir de forma digital do dólar.

Um dos opositores da ideia é o governador da Flórida, Ron DeSantis, pertencente ao Partido Republicano. Ele disse em coletiva de imprensa em 20 de março, que tal moeda digital daria mais poder ao governo, reduzindo a privacidade dos cidadãos e, talvez, até limitando os tipos de gastos que eles possam fazer com seu próprio dinheiro.

Já no dia 21 de março, Ted Cruz, senador pelo Texas, também pertencente ao Partido republicano, apresentou um projeto de lei para impedir que o Federal Reserve lance uma moeda digital de banco central para uso do público.

Senador texano é a favor das criptomoedas, mas não das estatais


Ted Cruz, senador do Texas.

Entre as razões para ter apresentado seu projeto, o congressista destacou a necessidade de defesa do dólar, a promoção de inovação em criptomoedas e a defesa da privacidade.

Ted Cruz é um entusiasta das moedas digitais privadas. Ele apresentou no começo deste ano o Adopting Cryptocurrency in Congress as an Exchange of Payment for Transactions Resolution (Resolução para Adoção de Criptomoedas no Congresso como Forma de Pagamento por Transações).

A resolução tem a finalidade de instruir as autoridades responsáveis pela administração do Capitólio a firmarem contratos com fornecedores que aceitem criptomoedas como pagamento em suas máquinas de venda automática no complexo do Capitólio.

Além disso, visa incentivar as lojas de presentes e outros estabelecimentos comerciais do Capitólio a aceitarem criptomoedas como pagamento. Uma das vantagens do uso de criptomoedas como meio de pagamento no Capitólio, segundo Cruz, seria permitir que os visitantes internacionais que visitam a capital americana, contem com uma alternativa segura de pagamento sem necessidade de pagar custos de conversão de moeda desnecessários e, frequentemente, altos.

Políticos do Texas querem uma moeda própria do estado sulista


No entanto, apesar da aversão demonstrada por Cruz a moedas digitais estatais, há quem defenda, no próprio Texas, que o senador representa no Congresso americano, o lançamento de uma moeda digital para o estado que seja baseada no ouro.

Com esse fim, há, no Legislativo do Texas, dois projetos de lei. Um deles apresentado por um membro da câmara baixa, Mark Dorazio, e o outro, por um membro da câmara alta, Bryan Hughes. Ambos são membros do Partido Republicano, de Cruz e DeSantis. Todos os Legislativos estaduais americanos, com exceção daquele do Nebraska, são bicamerais.

Ambos os projetos foram apresentados em 10 de março do ano passado, e seus textos estabelecem que, se aprovados, entrarão em vigor em 1 de setembro. Eles determinam que o Controller of Public Accounts (Controlador das Contas Públicas, um cargo eletivo cujo ocupante tem funções como cuidar da arrecadação dos tributos e estimar a quantidade de dinheiro que o Legislativo do Estado poderá gastar no biênio) lance uma moeda digital para o estado e sirva de administrador do ouro adquirido com o fim de dar-lhe lastro e garantir sua confiabilidade.

A moeda digital resultante da aprovação de um dos citados projetos de lei seria vendida diretamente ao público. O dinheiro recebido do comprador seria usado pelo controlador para comprar a quantidade de ouro necessária para lastrear o dinheiro digital emitido.

Ainda não foi agendada discussão ou votação desses projetos, mas a apresentação deles pode indicar que ganha força no Texas a ideia de uma solução local para a questão de uma moeda digital segura e sadia.

Texas tem chamado atenção da indústria de criptomoedas


O estado sulista tem tido um papel de destaque na indústria cripto, do qual se tornou um dos grandes centros mundiais, ainda mais depois do banimento da mineração de criptomoedas pelo governo da China.

Os motivos que têm atraído mineradores para o Texas incluem sua infraestrutura desregulamentada, as baixas tarifas de eletricidade praticadas no estado, a abundância de opções de energia renovável e incentivos fiscais do governo estadual e de condados.

O estado foi apresentado como uma opção favorável para as empresas de mineração que foram forçadas a deixar a China depois que o governo do país asiático baniu a atividade no ano de 2021.

Nos últimos anos, o sistema do Texas passou por interrupções devastadoras devido a ondas de calor e tempestades de inverno, tornando o fornecimento constante de eletricidade um problema delicado para os eleitores locais. Os mineradores agora são compensados por desligar quando a demanda é forte.

Uma matéria recente da agência de notícias Reuters destacou que os mineradores de bitcoin no Texas estão consumindo cerca de 2.100 MW, aproximadamente 75% mais do que no ano anterior.

O diretor comercial da mineradora U.S. Bitcoin Corp afirmou que o oeste do Texas é uma área que atraiu muitos mineradores devido à necessidade de energia deles. A empresa de que ele faz parte abriu uma operação de mineração em um parque de energia eólica que produz 280 megawatts.

Excesso de mineradores causa problemas na rede de energia


Contudo, o influxo de mineradores para o estado também traz preocupações, exacerbadas pela fragilidade da rede elétrica, demonstrada no último inverno americano, quando mais de 200 pessoas morreram no Texas durante apagões generalizados causados por uma tempestade que afetaram milhões de texanos.

Embora muitos tenham culpado a falta de planejamento e infraestrutura adequados para lidar com condições climáticas extremas, teme-se que a adição de muitos novos usuários de grande porte reduza a flexibilidade da rede elétrica.

Joshua Rhodes, pesquisador da Universidade do Texas, ouvido pela Reuters, afirmou que, se os mineradores seguirem seus cronogramas de conexão à rede elétrica, esta enfrentará um grande desafio, isso porque a demanda por eletricidade crescerá como nunca tinha feito antes.

Mineradores texanos estão na mira do governo

A situação talvez ajude a explicar por que razão um comitê do Senado do Texas recentemente aprovou por unanimidade (10 votos a zero) um projeto de lei para cortar incentivos para os mineradores e forçar aqueles entre eles que gastam mais de 10 megawatts a se registrarem junto ao ERCOT.

ERCOT é a sigla para Electric Reliability Council of Texas ou, em português, Conselho de Confiabilidade Elétrica do Texas, uma empresa que administra a rede elétrica texana como “large flexible load operators” (“grande operador de carga flexível”).

Ou seja, grandes consumidores de energia cuja flexibilidade permite que cessem ou reduzam consideravelmente seu uso de eletricidade a qualquer momento, de modo a permitir que ela possa ser consumida por outros usuários da rede elétrica. Com isso, podem ser alvos de programas, voluntários ou não, de redução de gasto de energia em momentos de pico de consumo ou de instabilidade da rede.

Conclusão


Em resumo, a criação de uma moeda digital de banco central nos Estados Unidos tem sido alvo de fortes oposições, especialmente entre políticos republicanos, como Ron DeSantis e Ted Cruz.

Enquanto alguns, como Cruz, defendem o uso de criptomoedas privadas e a defesa da privacidade, outros, como DeSantis, alertam para os perigos de uma moeda digital estatal.

No entanto, o Texas, estado sulista que se tornou um grande centro cripto, assistiu à apresentação por legisladores republicanos de projetos de lei para a criação de uma moeda digital baseada em ouro, o que pode indicar uma solução local para a questão de uma moeda digital segura e sólida.

A questão ainda é controversa e não há previsão de quando uma decisão será tomada, mas é evidente que as criptomoedas estão cada vez mais presentes no cenário econômico mundial.

Portanto, cedo ou tarde o governo federal americano e os estados do país terão que decidir que caminhos seguirão em sua busca por inserção na nova economia digital e como lidarão com os riscos e dificuldades das novas realidades.

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