Ações das Big Techs disparam em 2024

Gabriel Gomes
| 7 min read
Desempenho das big techs na B3
Imagem: @_notWillyWonka

As ações das Big Techs, empresas gigantes do setor tecnológico, tiveram um ótimo desempenho em 2023. De acordo com dados da Elos Ayta Consultoria, as Big Techs apresentam um crescimento que equivale a 54% do valor de mercado de todas as empresas listadas na B3. Destaque para a Apple, que ultrapassou a marca dos US$ 3 trilhões.

“O impressionante crescimento das Big Techs destaca a importância contínua dessas empresas no cenário financeiro mundial. Seus marcos históricos não apenas definem recordes, mas também têm um impacto direto no panorama econômico global, solidificando-as como líderes indiscutíveis”, afirma o analista Einar Rivero.

Com o intuito de colocar em contexto o tamanho e a importância dessas empresas, podemos lembrar que aquelas designadas como Seven Magnificent (“sete formidáveis”) respondem por um quarto do S&P500, um dos principais índices do mercado acionário dos Estados Unidos. As Seven Magnificent são Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla.

Ao site da revista Fortune, Chris Zaccarelli, executivo da consultoria Independent Advisor Alliance, afirmou que as empresas de tecnologia tiveram participação desproporcional na alta do mercado de ações americano em 2023. Além disso, disse Zaccarelli, elas continuam a apresentar o maior potencial de faturamento.

Não é à toa, portanto, que o mercado está esperando com ansiedade a divulgação, nesta semana, dos números de faturamento do último trimestre de 2023 de cinco empresas: Alphabet, Amazon, Apple, Meta e Microsoft.

Os valores de mercado delas somam mais de US$ 10 trilhões de dólares. Os resultados divulgados poderão ter forte influência sobre os humores do mercado, que está entre a expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos e dúvidas quanto à firmeza dos ralis na Bolsa de Nova Iorque e na Nasdaq.

Mas o que explica os bons resultados que as Big Techs vêm obtendo? Há em ação não só fatores gerais, como os macroeconômicos, mas também fatores específicos do setor de tecnologia ou de algumas das empresas em questão.

Expectativa é que crescimento das ações das Big Techs continue por todo 2024


É provável que a tendência de valorização das ações das Big Techs persista ao longo deste ano, que, até agora, vem sendo auspicioso para essas empresas.

Só para ilustrar, o crescimento do valor de mercado das 5 maiores empresas do setor de tecnologia em 2024 foi de US$ 489 bilhões. Ou seja, foi superior à metade do valor de mercado de todas as empresas listadas na B3, que é de US$ 908 bilhões.

Por exemplo, a Microsoft já ganhou neste ano quase US$ 200 bilhões de valor de mercado. Isso equivale à cerca de R$ 1 trilhão de reais. As duas empresas brasileiras mais valiosas, Vale e Petrobras, somam pouco mais de R$ 800 bilhões de valor de mercado.

Em artigo publicado pelo site Trade News em dezembro do ano passado, Isa Morena Vista citou as opiniões de dois especialistas: o analista da Buena Vista Capital, Renato Nobile, e o analista da Terra Investimentos, Luis Novaes.

Segundo Nobile, o processo de elevação dos juros americanos que teve início em 2022 como forma de controlar a inflação atingiu duramente o setor de tecnologia. As Big Techs tiveram que ajustar os seus custos. Por consequência, estavam em boa posição para tirar vantagem da melhora da economia em 2023.

Novaes também destaca a eficiência operacional que as Big Techs alcançaram e aponta outro fator. Para ele, algumas tecnologias consagradas vêm apresentando considerável resiliência econômica.

O bom desempenho das ações das “sete formidáveis” no passado recente não passou despercebida. Por exemplo, Scott Lehtonen, em artigo publicado em 29 de janeiro no site Investors’ Business Daily, apontou essas ações como as melhores para “comprar e segurar” no atual cenário.

O site da Fortune ouviu o gerente de portfólio sênior do CI Roosevelt, Jason Benowitz. Segundo ele, sem dúvida, uma grande quantidade de traders está comprando ações das Big Techs.

Embora admita que elas possam sofrer uma correção, o executivo acredita haver boas chances de que elas continuem se valorizando no futuro próximo mesmo que a economia americana desacelere.

Apple aparece com grande destaque nas previsões


Aliás, no que toca à Apple, esse fator foi apontado por Harsh Chauhan em artigo de maio de 2023. No ano passado, as ações da Apple ganharam mais de 50% em valor.

Originalmente publicado no site de finanças The Motley Fool, o artigo de Chauhan, previu que a Apple será uma empresa de valor de mercado superior a US$ 5 trilhões em 2030.

Segundo Chauhan, dois fatores servirão de catalisadores para o desempenho de longo prazo da empresa. Um deles é a resiliência do faturamento da Apple com o iPhone.

Embora as vendas globais de smartphones tenham caído 14% no primeiro trimestre de 2023 em relação ao trimestre correspondente do ano anterior, as vendas do iPhone caíram apenas 2,3%. Dessa maneira, a empresa conseguiu aumentar a sua participação no mercado de 18% para 20,5%.

Ademais, embora tenha cerca de um quinto do mercado de smartphones, a Apple, em 2022, respondia por quase metade do faturamento desse segmento. Sua participação nos lucros do segmento foi ainda mais espantosa: 85%.

Segundo a empresa de pesquisa Spherical Insights, o mercado de smartphones deve quase dobrar de tamanho entre 2021 e 2030. No primeiro desses anos, ele gerou pouco mais de meio trilhão de dólares em faturamento. Até 2030, deverá gerar cerca de US$ 950 bilhões de faturamento.

O outro fator que Chauhan apontou como catalisador para o bom desempenho de longo prazo da Apple é o setor de serviços (Apple TV, Apple Pay, Apple Music, etc.).

Em 2022, a empresa adquiriu mais de 150 milhões de assinantes. Além de estar em expansão, o negócio de serviços da Apple apresenta margem de lucro bruto bastante superior ao de produtos (71% contra 37%).

Microsoft e Google apostam na Inteligência artificial


Também a inteligência artificial vem sendo um fator no desempenho do setor de tecnologia. A Microsoft, com sua aliança com a startup OpenAI, e a Alphabet, dona do Google, exercem papel de liderança nesse segmento.

Em artigo sobre a Microsoft que escreveu para o site da revista Forbes, Derek Saul apontou a importância da inteligência artificial. Segundo Saul, a Microsoft é um raro caso de grande empresa que conseguiu transformar o crescente interesse na inteligência artificial em resultados financeiros significativamente melhores.

Ela apresentou resultados recordistas nos relatórios de faturamento mais recentes. Um dos destaques deles foi o setor de nuvem inteligente, que apresentou crescimento anual de 20%.

A inteligência artificial também ajuda a explicar os resultados da Nvidia. O valor de suas ações subiu mais de 30% desde o começo deste ano. Em 2023, mais que triplicou.

Outras Big Techs usam na criação de sistemas de inteligência artificial (por exemplo, chatbots como o ChatGPT, da OpenAI) um tipo de chip especial. Nos últimos anos, a Nvidia esmerou-se em aprimorar seus métodos de fabricação desse tipo de chip. Isso lhe deu considerável poder de mercado.

Segundo a firma de pesquisa Omdia, a Nvidia responde por mais de 70% das vendas de chips para inteligência artificial. No caso de chips de inteligência artificial (aquela capaz de gerar mídias como textos ou imagens), a participação dela é ainda maior.

Conclusão


Em suma, o faturamento e a valorização de mercado que as Big Techs vêm obtendo resultam da complexa interação entre condições econômicas, tecnológicas e gerenciais.

Inegavelmente, eles influenciam as estratégias dos investidores e contribuem para o aprofundamento da influência das Big Techs sobre o mercado. Exemplo disso é a importância que o desempenho das ações delas têm para índices como o S&P500 e para os ânimos do mercado.

Há, contudo, observadores, que temem que os investidores estejam excessivamente expostos a essas ações. Por enquanto, porém, a confiança nelas têm prevalecido. Evidência disso é a procura relativamente baixa por instrumentos que sirvam de hedge para o investimento nelas.

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