Solana ou Ethereum – Qual a melhor rede para NFTs?

Gabriel Gomes
| 9 min read

No começo do ano passado, um relatório do banco de investimento JP Morgan apontava o encolhimento que a liderança da rede Ethereum no setor de NFTs tinha sofrido durante a expansão rápida do mercado daqueles ativos no ano anterior, assim assistiu a uma forte expansão da Solana.

A rede Solana, que chegou a ser apelidada de Ethereum-killer (matadora de Ethereum), foi concebida para resolver problemas existentes em redes mais antigas que ela, como a própria Ethereum.

Desde a divulgação do relatório do JP Morgan, a situação do mercado de tokens não-fungíveis mudou consideravelmente: ele entrou em baixa, e, se é verdade que a rede Ethereum continua líder em NFTs, a Solana apresenta algumas vantagens que, a longo prazo, podem permitir-lhe superar a concorrente.

Baixo custo e velocidade são os principais trunfos da rede Solana

Uma das vantagens da Solana é ter custos mais baixos que a Ethereum, cujas taxas de transação podem chegar a 100 dólares. Os custos altos desestimulam a criação de NFTs e sua transação com base na rede, efeito também causado pela volatilidade das taxas cobradas.

Embora as taxas de transação na rede Ethereum tenham caído com o desaquecimento do mercado de NFTs e a chegada do Ethereum 2.0, os custos dela ainda não são páreos para os da Solana, o que é uma atração desta.

Além disso, a Solana é mais rápida: suas transações podem chegar a ser quase instantâneas, enquanto na Ethereum a espera para o processamento de uma operação é de, em média, 4 minutos. A agilidade da Solana é vantajosa para criadores e compradores de tokens não-fungíveis (NFTs).

Entre as razões da agilidade da Solana, estão o revolucionário mecanismo de consenso que ela usa, do tipo Proof-of-History, e o Cloudbreak, que atua como um arquivo distribuído e impede que muito do espaço seja ocupado pelo histórico de transações, o que, se acontecesse, diminuiria a velocidade da rede.

Devido ao menor tempo que as transações levam para seu processamento na rede Solana, esta tem uma pegada de carbono menor do que a Ethereum, o que a torna menos hostil ao Meio Ambiente, um fato que muitos consideram importante.

Também é válido destacar que o modelo da Solana confere-lhe uma estrutura mais descentralizada, e pode ser expandida mais facilmente do que a da Ethereum, que, além de problemas de escalabilidade, também só inova lentamente, devido ao tamanho que seu ecossistema alcançou.

Histórico de maior segurança é o carro chefe da rede Ethereum

É preciso lembrar, contudo, que Solana tem um histórico de problemas de segurança, os quais já foram aproveitados por hackers em ataques multimilionários.

Um exemplo da relativa falta de segurança da Solana é o ataque que foi sofrido pelo protocolo de finanças descentralizadas baseado na rede Solana Mango Markets, no qual foram roubados mais de US$ 100 milhões de dólares.

Em agosto de 2022, um ataque hacker drenou tokens baseados em Solana, inclusive a criptomoeda nativa da rede, o SOL, de milhares de carteiras digitais. O valor roubado ultrapassou US$ 4 milhões de dólares.

Além disso, houve períodos em que a rede Solana ficou fora do ar por horas seguidas. Por exemplo, em fins de setembro de 2022, a interrupção do funcionamento dela durou mais de 6 horas.

A proximidade a Sam Bankman-Fried também fere a Solana. O ex-CEO da corretora de criptomoedas falida FTX, que aguarda julgamento por fraude e outros crimes, não estava diretamente ligado à rede, mas era um desinibido defensor da Solana, que foi atingida por estilhaços da explosão da reputação dele.

Grandes projetos NFT apostam em multi-rede como tendência no setor

Para deixar mais complexa a situação, dois dos principais projetos de tokens não-fungíveis em Solana, DeGods e y00ts, estão em preparações para providenciar uma ponte (bridge) que permita aos detentores dos tokens deles que migrem para outras redes.

Os dois projetos são da startup Dust Labs, que afirmou recentemente que o futuro dos NFTs é multi-rede. Rohun Vora, um criador que trabalhou em ambos os projetos, postou no Twitter um vídeo em que agradecia a comunidade Solana pelo apoio que deu aos projetos, que segundo ele, foram responsáveis por colocá-los no mapa.

Vora também disse que as equipes dos projetos concluíram que, para que eles pudessem continuar a crescer, era necessário que alguns riscos calculados fossem tomados, pois o maior risco de todos seria não aceitar risco nenhum.

Os detentores de y00ts poderão migrar para a rede Polygon, e os de DeGods, para a Ethereum. Por enquanto, a migração é voluntária.

Segundo o CoinDesk, que cobre o universo cripto, um porta-voz do DeGods confirmou que a rede Polygon combinou a concessão de uma verba para o projeto em troca de sua migração. O valor não foi revelado. Além disso, segundo o referido site, Vora afirmou que essa verba será só para dois anos e está atrelada a certos marcos de desenvolvimento, que também não foram comunicados à imprensa.

Anatoly Yakovenko, que é um dos fundadores da Solana, admitiu sentir-se ambivalente com a decisão de projetos feitos na Solana, como y00ts e DeGods, de se tornarem multi-rede, mas afirmou entender a ambição que eles têm de se expandirem.

Chegaram a emergir relatos no começo do mês de que o projeto DeGods havia exigido da rede Solana US$ 5 milhões de dólares para não liberar meios de migração de detentores de seus tokens para outras redes, mas Vora negou que isso tenha acontecido.

Segundo tuíte das equipes por trás dos projetos DeGods e y00ts, elas agirão com bastante cautela para ter certeza de que tudo sairá bem com o estabelecimento da possibilidade de migração, pois nada do tipo foi feito antes com a escala em questão. Quando os testes tiverem sido concluídos com sucesso e houver certeza sobre o que será feito, os detalhes da ponte serão divulgados ao público.

Vora usou o Twitter Spaces, espaço do Twitter para conversas de áudio, para explicar que o ritmo de crescimento que o DeGods estava tendo na rede Solana não estava sendo aquele que se esperava e que a Ethereum é o lugar para onde o projeto deve se expandir para que possa continuar crescendo.

Interessantemente, em outubro do ano retrasado, o projeto DeGods tuitou que a Solana era claramente uma rede melhor que a Ethereum devido a seu maior grau de descentralização.

Ethereum se movimenta para manter a liderança

Ethereum tem alguns trunfos para reter sua liderança no setor de NFTs. Um deles é sua segurança mais robusta para transações envolvendo aqueles ativos. Outra vantagem de que ele desfruta é justamente o reconhecimento e a familiaridade que possui por ser a opção mais popular e a primeira a introduzir os contratos inteligentes. Por inércia, vários projetos são feitos com a rede em mente.

Desde que mudou de um protocolo Proof-of-Work para um do tipo Proof-of-Stake, a Ethereum conseguiu reduzir em mais de 99% os seus gastos energéticos, o que reduziu bastante o tamanho, uma das objeções à rede, de seu efeito negativo sobre o ambiente.

A própria versatilidade da Ethereum fortalece a imagem e a influência que a rede exerce. Ela não é só forte no terreno dos tokens não-fungíveis, mas também é a sede de muitos aplicativos descentralizados, os quais podem ter utilidade em áreas como finanças e jogos.

O token nativo da Ethereum, o Ether (ETH), que perdeu dois terços de seu valor desde o auge de sua cotação em novembro de 2021, ainda é a segunda maior criptomoeda em capitalização de mercado, superada nesta métrica apenas pelo Bitcoin.

A Solana (SOL), que também foi atingida pela crise do mercado de criptomoedas, vale hoje cerca de um décimo da cotação que chegou a atingir em seu auge, também em novembro de 2021.

No momento, o valor do Solana (SOL) é pouco superior a mais de um por cento do de Ethereum, o que pode ser visto como um símbolo da supremacia em várias frentes destasegunda rede sobre a concorrente.

Também é importante lembrar que a Solana não está sozinha: vêm surgindo outras redes que podem, um dia, desafiar a liderança da Ethereum no ramo de NFTs. No entanto, por enquanto, parece que a Solana – e qualquer outra rede que queira desbancar a Ethereum – terá uma jornada mais dura do que parecia um ano atrás.

O site News Flash chegou a perguntar em uma matéria do começo de fevereiro se as rivais de Ethereum estão condenadas a fracassar.

Segundo a matéria em questão, Yakovenko admitiu no podcast Blankless que a Solana talvez não esteja conseguindo fornecer aos investidores nada que eles não possam obter de modo satisfatório na Ethereum. Mesmo que esta seja mais lenta, e que, em um ambiente de juros altos, que talvez caracterize economicamente os próximos anos, as apostas mais arriscadas e menos óbvias podem ser deixadas de lado.

Em um ambiente difícil desses, disse Yakovenko, a Ethereum, por ser mais conhecida que as redes menores, representa um risco significativo para elas, que talvez não consigam competir. Se o valor da Solana for diminuindo com o passar do tempo, ele afirmou, as chances de sobrevivência da rede também serão reduzidas.

Embora tenha mostrado certa preocupação com o futuro da rede de blockchain que co-fundou, Yakovenko mostrou-se animado com as possibilidades dos criptoativos para o futuro próximo.

No entender dele, há muitos jovens inteligentes no setor, os quais talvez não queiram simplesmente trabalhar para um dos grandes do setor. Eles podem trazer ao mercado novos produtos que poderão ter um grande impacto e garantir a continuidade da vitalidade e da viabilidade do universo cripto.

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